SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Quando atendeu ao chamado da CBF, Tite encontrou uma seleção desacostumada a ganhar, em crise com o jogo e sua torcida e pedindo por uma revolução. A noção do Brasil como “país do futebol” estava abalada por mais de uma década de fracassos em Copas do Mundo, incluído aí o maior deles. Até a Copa América, “quintal” verde-amarelo recentemente, tinha virado campo minado com eliminações traumáticas. Dois anos depois, o treinador entregou tudo que lhe foi pedido, mas sabe que ainda não é o suficiente.

continua após a publicidade

A seleção brasileira começa, na próxima segunda, a verdadeira caminhada para a redenção. Contra o México, em Samara, às 11h, o Brasil inicia sua caminhada no mata-mata para esquecer a França de Zidane, a Holanda de Sneijder e a Alemanha de Muller, Klose, Khedira, Kroos e Schurrle, esses últimos duas vezes cada.

Tite sabe disso. Com amplo respaldo de uma CBF em crise, montou a maior comissão técnica da história, acompanhou dezenas de partidas do estádio e desenhou tudo de forma que desembocasse no mata-mata da melhor forma. Maior exemplo disso, a “gestão de lesões” implantada pelo treinador no começo da preparação evitou cortes a todo custo, tudo para ter os nomes preferidos no auge da forma justamente na fase decisiva.

Líder das Eliminatórias, goleadas contra rivais históricos, defesa quase invicta, um time-base sólido… Nada disso impediu que o Brasil sofresse na mão dos críticos quando a bola rolou na Copa, um indício do que pode acontecer em caso de eliminação precoce. Tite, diga-se, nunca se mostrou seduzido pela popularidade que ganhou. Recusou, por exemplo, conversar com a CBF sobre a renovação antes do fim da aventura na Rússia, ciente de que as avaliações poderiam ser alteradas pelo resultado.

continua após a publicidade

Para evitar qualquer desastre, se empenhou em construir um time forte mentalmente. Cansou de repetir que o lado psicológico seria fundamental para uma geração acostumada a sofrer neste aspecto. A perda de um ouro olímpico dado como ganho, o jejum contra outros campeões mundiais, o 7 a 1 e as duas quedas em Copa América na Era Dunga deram à geração Neymar um ar de dúvida. Será que eles vão conseguir na hora H?

“Durante a minha carreira, fui tachado de tudo. No Rio Grande do Sul, de faceirinho. Depois, em outro momento, de retranqueiro. Mas tenho ideia bem clara de equilíbrio. Não posso ser eu o protagonista, não posso ter essa vaidade. Temos que ter sabedoria para ajustar peças. Diziam que eu era bom de mata-mata, mas não pontos corridos. Mata-mata tem caráter emocional muito forte. Se puder resumir, a margem de erro diminui muito. O nível de concentração é altíssimo, não pode diminuir”, disse o treinador na última quarta, após a vitória por 2 a 0 sobre a Sérvia.

continua após a publicidade

É justamente esse preparo, mental e técnico, que será colocado à prova a partir de agora. Se vencer é a apoteose, perder no caminho pode mandar o trabalho desses dois anos para a vala comum das Copas perdidas. Para a geração de Neymar, o impacto pode ser ainda maior, com ano seguidos de fracassos acumulados.

Por trás de todo o trabalho de reformulação, sempre esteve o desejo de que o Brasil se reafirme como o “país do futebol”. Se no “país do futebol” tudo passa por vencer, ser “copeiro” é o maior desafio que Tite e companhia podem ter.