Copa 2018

Dois anos depois, Copa vai testar se Tite construiu um Brasil “copeiro”

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Quando atendeu ao chamado da CBF, Tite encontrou uma seleção desacostumada a ganhar, em crise com o jogo e sua torcida e pedindo por uma revolução. A noção do Brasil como “país do futebol” estava abalada por mais de uma década de fracassos em Copas do Mundo, incluído aí o maior deles. Até a Copa América, “quintal” verde-amarelo recentemente, tinha virado campo minado com eliminações traumáticas. Dois anos depois, o treinador entregou tudo que lhe foi pedido, mas sabe que ainda não é o suficiente.

A seleção brasileira começa, na próxima segunda, a verdadeira caminhada para a redenção. Contra o México, em Samara, às 11h, o Brasil inicia sua caminhada no mata-mata para esquecer a França de Zidane, a Holanda de Sneijder e a Alemanha de Muller, Klose, Khedira, Kroos e Schurrle, esses últimos duas vezes cada.

Tite sabe disso. Com amplo respaldo de uma CBF em crise, montou a maior comissão técnica da história, acompanhou dezenas de partidas do estádio e desenhou tudo de forma que desembocasse no mata-mata da melhor forma. Maior exemplo disso, a “gestão de lesões” implantada pelo treinador no começo da preparação evitou cortes a todo custo, tudo para ter os nomes preferidos no auge da forma justamente na fase decisiva.

Líder das Eliminatórias, goleadas contra rivais históricos, defesa quase invicta, um time-base sólido… Nada disso impediu que o Brasil sofresse na mão dos críticos quando a bola rolou na Copa, um indício do que pode acontecer em caso de eliminação precoce. Tite, diga-se, nunca se mostrou seduzido pela popularidade que ganhou. Recusou, por exemplo, conversar com a CBF sobre a renovação antes do fim da aventura na Rússia, ciente de que as avaliações poderiam ser alteradas pelo resultado.

Para evitar qualquer desastre, se empenhou em construir um time forte mentalmente. Cansou de repetir que o lado psicológico seria fundamental para uma geração acostumada a sofrer neste aspecto. A perda de um ouro olímpico dado como ganho, o jejum contra outros campeões mundiais, o 7 a 1 e as duas quedas em Copa América na Era Dunga deram à geração Neymar um ar de dúvida. Será que eles vão conseguir na hora H?

“Durante a minha carreira, fui tachado de tudo. No Rio Grande do Sul, de faceirinho. Depois, em outro momento, de retranqueiro. Mas tenho ideia bem clara de equilíbrio. Não posso ser eu o protagonista, não posso ter essa vaidade. Temos que ter sabedoria para ajustar peças. Diziam que eu era bom de mata-mata, mas não pontos corridos. Mata-mata tem caráter emocional muito forte. Se puder resumir, a margem de erro diminui muito. O nível de concentração é altíssimo, não pode diminuir”, disse o treinador na última quarta, após a vitória por 2 a 0 sobre a Sérvia.

É justamente esse preparo, mental e técnico, que será colocado à prova a partir de agora. Se vencer é a apoteose, perder no caminho pode mandar o trabalho desses dois anos para a vala comum das Copas perdidas. Para a geração de Neymar, o impacto pode ser ainda maior, com ano seguidos de fracassos acumulados.

Por trás de todo o trabalho de reformulação, sempre esteve o desejo de que o Brasil se reafirme como o “país do futebol”. Se no “país do futebol” tudo passa por vencer, ser “copeiro” é o maior desafio que Tite e companhia podem ter.

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