Foi em março deste ano que Willy Caballero foi avisado que seria convocado para a Copa do Mundo. O técnico Jorge Sampaoli lhe deu a notícia em uma conversa em Londres, onde o goleiro do Chelsea (ING) mora.
“Não estou satisfeito de estar entre os 23. Quero jogar”, disse o jogador, de bate-pronto.
“Quero que lute mesmo. Não se conforme por apenas estar na lista”, devolveu o treinador.
A resposta impressionou Sampaoli e o desejo do atleta vai se tornar realidade. Quando a Argentina entrar em campo no sábado (16) para estrear na Copa 2018 contra a Islândia, em Moscou, Caballero será o titular. Ganhou a posição após o corte por lesão de Sergio Romero e apesar do lobby de boa parte da imprensa do país para que Franco Armani fosse escolhido.
Foi uma afirmação positiva do goleiro, algo que durante muito tempo não casou com a sua personalidade. Ele mesmo reconhece que era pessimista, o tipo de pessoa para quem o copo estava sempre meio vazio, jamais meio cheio.
Em 2006, quando sua filha Guilhermina teve câncer na retina, ele largou o Málaga (ESP) para acompanhá-la durante o tratamento em Buenos Aires. Ficou sem jogar durante alguns meses, até que foi emprestado para o Arsenal de Sarandí para manter a forma e voltar a ter ritmo.
Foi o momento em que sua maneira de ver as coisas mudou. Disse para a mulher, Lucia, que quando aquele pesadelo acabasse, seria uma pessoa bem mais para cima.
Não virou um otimista incurável da noite para o dia. Nos treinos em Bronnitsi (55 km de Moscou), não é de sorrir. Ao conceder entrevista coletiva nesta quarta (13) ao lado do também goleiro Nahuel Guzmán, foi o jogador apelidado de Patón que fez todas as piadas.
Caballero pareceu até desconcertado em alguns momentos, embora tenha tentado acompanhar o colega nas piadas.
“Trabalhamos muito as características do rival [Islândia], como atacar e como defender. Eles defendem bem, de forma compacta. Será um jogo duro até porque é a primeira no Mundial”, disse.
Como dizem os outros jogadores, Willy Caballero não é de “vender humo”, expressão quer significa conversa fiada, iludir, embromar. É o goleiro que, quando nas categorias de base do Boca Juniors, o time de maior torcida no país, procurou ajuda psicológica porque não acreditava no próprio potencial.
Pensava em voltar para Santa Helena, centro de pesca esportiva, onde nasceu. O consagrado Óscar Córdoba, goleiro colombiano bicampeão da Libertadores pelo clube (2000 e 2001) teve de falar que ele deveria acreditar mais.
O confronto com a Islândia na Copa do Mundo será o quarto jogo de Caballero pela seleção principal da Argentina. Ele tem 36 anos e será o goleiro titular mais velho que a equipe já teve no torneio. Estreou em fevereiro deste ano, contra a Itália. Nos anos anteriores, sempre esperou a convocação e acabou em desilusão.
Especialmente quando Alejandro Sabella não o incluiu na lista para o Mundial no Brasil. Nem mesmo quando se tornou o goleiro com o maior número de minutos (479) sem sofrer gols no futebol espanhol foi convocado. Aconteceu na temporada 2011-2012, pelo Málaga.
“Como disse Leo [Messi], chegar à semifinal será uma boa campanha. Mas oxalá a gente consiga ir um passo à frente em relação ao Mundial passado”, afirmou Caballero nesta quarta, lembrando a derrota na final de 2014 para a Alemanha.
Sampaoli nunca falou sobre o tema, mas é possível que já tivesse na cabeça a possibilidade de escalá-lo, mesmo que Romero não tivesse sido cortado. Foi Caballero o jogador chamado pelo técnico, após os amistosos diante de Itália e Espanha, para analisar o que fez certo e o que poderia melhorar.
O goleiro ouviu elogios sobre a maneira que sai jogando com os pés, característica valorizada pelo comandante.
Enfim o copo de Caballero ficou meio cheio. “Estamos prontos para começar bem o Mundial”, finalizou.