A Vila Madalena não é mais aquela. Pelo menos no primeiro jogo do Brasil, neste domingo (17), era possível andar por ela, ao contrário do que aconteceu na Copa de 2014. A proibição de telões externos pela Prefeitura de São Paulo afastou muitos torcedores da região.
Mesmo assim, milhares de torcedores se aventuraram nas ruas do bairro durante o jogo, mais especificamente na Aspicuelta, que foi fechada para carros entre a Fidalga e a Mourato Coelho.
Havia ainda outra proibição, essa mais cruel: os bares deveriam colocar cortinas para impedir os transeuntes de assistir a peleja a partir da rua.
Restaram os espaços entre as cortininhas, disputados com amor e elegância. Ou achar um bar sem cobrança de entrada. Ou encarar entre R$ 30 e R$ 150 pelo ingresso.
As proibições foram enviadas na semana passada, por WhatsApp, aos donos de bares pelo presidente da Sociedade Amigos da Vila Madalena (Savima), Cássio Calazans.
Na terça, ele enviou uma recomendação da Polícia Militar pedindo que não houvesse telões, TVs ou caixas de som na parte externa dos estabelecimentos, “pois tais equipamentos poderão atrair quantidade de público elevado, fato ocasionando risco à segurança viária e presença de comércio irregular de ambulantes”.
Já na sexta, o presidente repassou uma portaria das prefeituras regionais com partes sublinhadas em vermelho, como “não serão permitidos eventos de transmissão de jogos em áreas públicas”.
Assustou. Tiago Moraes, sócio do Bar do Beco (entrada gratuita), ia colocar um telão no local e voltou atrás. “Vamos respeitar os vizinhos”, disse. Em compensação, ele trouxe uma mesa de pebolim da sala de sua casa, para organizar campeonatos para os clientes (prêmio: cervejas).
No domingo, duas TVs de 65 e 55 polegadas receberam uma turba de brasileiros e um suíço. Ronny Blum, 31, com a camiseta vermelha de sua seleção, não se constrangeu. Há sete anos no Brasil, comemorou vibrantemente o gol da Suíça. Pior: antes do jogo, havia predito à reportagem que o placar seria 1 a 1. “Não tive medo, não. Os brasileiros são legais. Gostam de zoar só. E hoje, com a Lava Jato, vejo muitos torcendo contra o país.”
No Boteco São Conrado, vizinho, a entrada está valendo R$ 120 para homens e R$ 100 para mulheres. Antecipado. O segundo lote sobre para R$ 120 e R$ 150. Dá direito a open bar de cerveja, chope, gim tônica e caipirinha. No domingo, 70% dos 300 lugares foram comprados pelo site ou telefone.
Em frente ao local, com camiseta autografada pelo rei Pelé (o pai é empresário de jogadores), a estudante Maaia Verginelle, 18, achou que talvez valesse o preço, com bar aberto e se houvesse lugar sentado.
Nesse momento, uma equipe da prefeitura encosta e reclama que não te cortina. “Tá atrapalhando o trânsito”, diz a fiscal Elisabete de Andrade.
Dois gerentes do São Conrado, um deles segurando o rosto da fiscal entre as mãos, juram que vão baixar os panos.
“Vai ter revolta”, já se revolta Maaia. Para alegria do povo, não teve cortina nenhuma.
Um tanto fora do contexto, as irmãs Nattasha, 22, e Nicolly Viassone, 25, desfilam envergando peles, bastante (bastante mesmo) rímel nos cílios e passam gloss no meio da rua.
Loiríssimas, são confundidas com russas, e os brasileiros se aproximam dizendo um reles “hi”, devidamente ignorado.
As irmãs têm uma clínica de estética corporal nos Jardins e, para quem achou que os casacos são de chinchila, vai o recado: “Por favor, jamais usem peles de animais, só fake”.
Subindo a rua de volta, olha um corintiano macambúzio vestido de preto ali. É o Mário. Mas que Mário? “Coloca Mário Corintiano.” Está torcendo para o Brasil? O Brasil usa verde, rarará. “Por isso não torço para ninguém. Venho pelos amigos. Escreve aí: Corintiano não usa verde nem na Copa!”