Quando sua versão mais recente foi anunciada, em outubro de 2016, a mascote Canarinho ainda carregava o status que ganhou quando foi lançado, em 2014, de personificação do apelido dado à seleção brasileira desde que a camisa do uniforme principal passou a ser amarela, em 1954. Naquele ano, entretanto, dois após o fatídico 7 a 1 contra a Alemanha, a figura oficial da CBF, que hoje carrega o sobrenome não reconhecido pela instituição de “pistola”, pouco entreteve os brasileiros.
A feição sisuda da mascote até que chamou a atenção do público habitué das redes sociais à época. Nos comentários do vídeo de apresentação do canarinho no YouTube, muitos já notavam que seu semblante fechado era terreno fértil para piadas, brincadeiras e memes.
“Golaço da CBF”, escreveu um internauta. “Esse Canarinho vai botar medo nos adversários! Parabéns, CBF, dessa vez vocês acertaram”, disse outro. “A mascote da seleção claramente não gostou do novo emprego”, brincou um terceiro. Alguns sequer acreditavam que aquele era, de fato, a mascote oficial escolhido pela instituição, rejeitada por brasileiros devido aos recentes envolvimentos dos seus membros em esquemas de corrupção.
Mesmo sem empolgar, por ali também já surgiam os primeiros apelidos para a mascote carrancuda. “Putaço” e “Revoltado” foram algumas apostas -nenhuma, entretanto, pareceu agradar tanto quanto “Pistola”, o mais famoso até hoje.
No ano seguinte, em maio de 2017, a CBF testou uma versão mais amigável da mascote durante o seminário Somos Futebol, realizado no Rio de Janeiro, mas a mudança foi rechaçada. Nas redes sociais, a instituição logo tratou de apaziguar os ânimos. “O Canarinho apareceu no Somos Futebol e mostrou a sua face tranquila, mas não se preocupem. Ele é #FechadoComASeleção”, escreveu a entidade no Twitter.
Na mesma época, a CBF começou a comercializar a versão queridinha das redes sociais. De novo, a versão feliz e sorridente, vendida até então, não emplacou. Ciente do sucesso do bicho, a CBF passou a encarnar, mesmo que sem mencionar o apelido “pistola”, o espírito das redes sociais. “Ele é bravo, tem cara de poucos amigos, mas ganhou o coração e a simpatia da torcida brasileira”, diz o texto de apresentação da mascote na loja online da CBF.
Em março de 2018, às vésperas da Copa, o Canarinho entrou em campo em um amistoso do Brasil contra os donos da casa, em Moscou. A seleção comandada pelo técnico Tite venceu os russos por 3 a 0, mas nada divertiu tanto quanto a presença dele. Durante a partida, o Canarinho foi o grande destaque das redes sociais, tornando-se até Trending Topic (assunto mais comentado) do Twitter.
A medida que o início do torneio se aproximava, a CBF intensificava as aparições do Canarinho em eventos e, principalmente, na internet. E pegou. Teve Canarinho fazendo contagem regressiva e até arrumando mala para a Rússia.
Já no país da Copa, sem poder entrar nos estádios, já que a FIFA só permite a presença da mascote oficial do evento, no caso, o lobo Zabivaka, o Canarinho passou a circular pelas ruas das cidades onde a seleção passava interagindo com a população. Andou de patinete, segurou um bebê no colo, brincou de roda com crianças e até se apaixonou por uma russa.
Um dia antes do jogo contra a Costa Rica -vencido pelo Brasil por 2 a 0-, o Canarinho viu sua popularidade aumentar ainda mais quando recepcionou a seleção em São Petersburgo tocando batuque enquanto torcedores cantavam a música que é considerada o novo hino da seleção.
O auge do sucesso veio em outra recepção, em Moscou, dois dias antes de a seleção vencer a Sérvia por 2 a 0 no estádio Spartak. O Canarinho chegou antes do ônibus dos jogadores e estava na área reservada para a passagem dos atletas. Era ele quem agitava os fãs, que cantavam e tocavam.
No meio da farra, o Canarinho foi “detido” pelos seguranças do estabelecimento. Sem saber do seu status de oficial, os russos acharam que se tratava de um torcedor fantasiado que estava obstruindo a passagem dos jogadores. O Canarinho saiu com as mãos para o alto até que a confusão foi esclarecida.
Na ocasião, a mascote foi tão tietada para selfies quanto os jogadores. Até Tite se rendeu ao carisma. “O Canarinho é uma figura, cara. Ele tem um carisma próprio”, disse o técnico da seleção.