Copa 2018

Brasileiro se diz arrependido por vídeo com insulto machista a russa

“Entrei de gaiato na história. Foi uma brincadeira de muito mau gosto. Lamento ter aparecido nisso aí, mas brasileiro, quando vê uma câmera, quer se meter na frente.”

Um dos rapazes que aparecem no polêmico vídeo em que torcedores brasileiros cercam uma jovem russa gritando “essa é rosinha”, em alusão à cor de seu sexo, disse a este repórter num bar de Moscou que está arrependido de sua participação no episódio, que, ressalta, foi por um acidente.

Sem se identificar, mas chamado de Josué por um grupo de amigos, o jovem aparece numa das duas versões do vídeo que viralizou na internet.

Ele pode ser visto entrando em cena num segundo momento, com a rodinha de torcedores entoando o coro obsceno já formada em torno de uma loira alvo da emboscada.

Minutos antes desse encontro, Rita Fernando Bento, uma torcedora brasileira que conheceu Josué e os outros rapazes que aparecem nas imagens em Moscou, defendeu os novos amigos feitos na viagem.

“O Brasil todo está sendo ridículo. Quem escuta funk, que é só putaria, achar que ‘boceta rosa’ é mancada é hipócrita”, ela afirmou. “Foi uma brincadeira de mau gosto, mas quem nunca cantou MC Kevinho?”

Bento afirmou ainda que os homens do vídeo -além de Josué, o advogado e político pernambucano Diego Valença Jatobá e o policial catarinense Eduardo Nunes também já foram identificados- têm receio de continuar na Rússia.

“Eles estão com medo, estão querendo até sair daqui”, ela contou. “É gente boa e honesta que entrou na brincadeira sem querer e agora sofre com as consequências de uma brincadeira imprudente.”

Enquanto Valença Jatobá poderá ser alvo de sanções da Ordem dos Advogados do Brasil, Nunes deve enfrentar um processo administrativo da Polícia Militar em seu estado.

O engenheiro Luciano Gil, que aparece no vídeo, disse ao UOL que se surpreendeu com a repercussão e pediu “desculpas às mulheres ofendidas”

As atrizes Bruna Linzmeyer e Mônica Iozzi e a deputada Maria do Rosário (PT-RS) denunciaram o comportamento como exemplo de misoginia.

Em Moscou, os diplomatas da embaixada brasileira relatam já ter recebido emails criticando os autores do vídeo, enquanto nas redes sociais circulam pedidos que aqueles homens sejam punidos e expulsos da Rússia.

Essa ação, no entanto, dependeria de uma queixa formal da vítima, que não foi registrada. Também segundo a embaixada, não houve contato do governo russo com o Itamaraty sobre esse episódio.

Breno Salgado, outro torcedor brasileiro que diz também ter conhecido dois dos rapazes do vídeo na capital russa, descreveu os amigos como “pessoas da melhor qualidade”, dizendo que a reação às imagens é desproporcional.

“Não houve assédio nenhum ali, ninguém forçou a menina a fazer nada”, disse. “No máximo, foi uma piada infantil e pesada, mas morreu ali. Ninguém agrediu aquela mulher.”

Embora tenha causado espanto no Brasil, essa não é uma cena rara na Copa. Nas ruas de Moscou, torcedores enrolados nas bandeiras de seus países vêm cercando jovens russas ou que não entendem a sua língua para gravar vídeos de teor machista.

Num deles, que circula entre grupos de amigos argentinos, duas russas são ensinadas a se oferecer para fazer sexo oral com torcedores do país usando expressões de baixo calão correntes na Argentina.

Muitos outros torcedores copiaram os vídeos que viralizaram, repetindo a estratégia com russas e estrangeiras.

Um torcedor peruano, por exemplo, gravou imagens de mulheres russas e dinamarquesas em que as faz dizer que estão dispostas a transar com ele, além de várias mensagens de cunho mais pornográfico.

Torcedoras, aliás, não são as únicas vítimas. Noutro vídeo, a repórter colombiana Julieth González foi agarrada e apalpada por um estranho enquanto entrava no ar ao vivo.

Na Rússia, não há lei que criminalize o assédio sexual. Nos últimos meses, depois de um episódio envolvendo um político acusado de assediar jornalistas, a parlamentar Oksana Pushkina vem pressionando para criar essa legislação.

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