Uma explosão de alegria tomou conta da Bélgica, país desacostumado com emoções fortes. Quando o jogo terminou ainda estava claro, porque é verão e a noite só chega bem tarde nesta época. Nas ruas, praças e bares milhares de belgas festejaram a vitória como se já tivessem ganho a Copa do Mundo. E de uma certa forma, ganharam. “Porque vencer contra o Brasil já é em si um sonho”, afirmou um torcedor dos Diabos Vermelhos – apelido dado a equipe da Bélgica. Esta era uma cena que não estava no script. Pelo menos, ninguém queria imaginá-la. Brasil derrotado e com o sonho da conquista do hexacampeonato mundial adiado.

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A reportagem assistiu o jogo perto de um telão gigante rodeada por belgas radiantes na Praça Wiener, no bairro de Boitsfort. Em um ambiente descontraído, famílias com crianças e muitos jovens se misturavam a poucos brasileiros enrolados em bandeiras verde-amarelas. A cada jogada favorável a equipe belga aplaudia e gritava Allez les Diables – Vamos Diabos. No intervalo do jogo, os alto falantes tocavam Aquarela do Brasil no último volume. Talvez para festejar o gol contra que demos de presente para eles. E tudo regado a muita cerveja belga. Havia um espaço reservado para crianças bem na frente do telão. Dezenas delas sentadas no chão não desgrudavam os olhos do jogo. “Vim aqui para ver a Bélgica ganhar”, falou uma delas.

A menos de cinco minutos do final do jogo, o país segurava o fôlego. No apito final, euforia. Os Diabos Vermelhos se tornaram heróis nacionais deste pequeno reino. “O Brasil não acreditou que a Bélgica pudesse ser tão forte” comentou um torcedor no fim da partida. Talvez isso exprima uma certa baixa estima dos belgas, desabituados a brilharem. E como eles brilharam no campo em Kazan. Em Bruxelas, milhares de pessoas com os rostos pintados com as cores da bandeira belga – vermelho, amarelo e preto – pareciam não acreditar na vitória. Mas festejaram, buzinaram e soltaram foguetes durante horas a fio.

“Todos juntos, todos juntos” cantavam os torcedores da seleção belga. Um refrão impensável em um país tão dividido como a Bélgica. Apesar de efêmero, o impacto positivo dos Diabos Vermelhos na sociedade belga tem sido impressionante, afirma Bernard Rimé, psicólogo especializado em emoções coletivas da Universidade Católica de Louvain.

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Às vésperas do jogo, os principais jornais do país estamparam manchetes decisivas. “Esta noite ou nunca” sentenciou o Le Soir, “uma ocasião de ouro para escrever na história”, afirmou o La Libre Belgique, enquanto o La Dernière Heure e comentaristas esportivos não cansavam de dizer que Brasil x Bélgica seria o “jogo do século”. A imprensa belga descreveu “a equipe nacional no auge de sua maturidade e preparada para enfrentrar um Brasil ressuscitado por Tite depois do traumatizante derrota para a Alemanha, em 2014”.

A Bélgica tem a oitava maior comunidade brasileira da Europa. A estimativa do Itamaraty é de que no país vivam cerca de 48 mil brasileiros, a grande maioria em situação de ilegalidade, sem visto de permanência. No bairro de Saint-Gilles, onde se ouve mais português do que francês, as bandeiras verde e amarelo se misturam às belgas. Desde que Portugal saiu da Copa, os patrícios que moram na região passaram a torcer pelo Brasil. Os brasileiros de Saint-Gilles tinham certeza da vitória da seleção verde amarela. Antes do jogo, os palpites giravam entre 3 x 1 a 2 x 1 para o Brasil. Depois da derrota, silêncio e decepção.

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Mas muitos brasileiros assistiram o jogo com o coração dividido. A médica carioca Paula Villela, casada com um belga, falou que em primeiro lugar torceu para o Brasil, mas confessou que não ficou triste com a vitória da Bélgica. Outra carioca, Istefânia Ferreira de Sousa, que trabalha em um dos bares mais frequentados pela comunidade verde amarela em Saint Gilles, disse que a Bélgica acolhe muito bem os brasileiros, por isso se alegrou ao ver o país vencer.