Na última sexta-feira, mesmo dia em que o Paris Saint-Germain, clube que foi adquirido pelo Qatar Sports Investments, apresentava ao mundo sua nova joia, o atacante Neymar, a diplomacia do minúsculo país árabe lavava aos tribunais da Organização Mundial do Comércio seus vizinhos por conta de um embargo imposto sobre o Catar. Os dois eventos, ainda que ocorressem no mesmo dia por coincidência, eram dois lados de uma mesma moeda.

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Acusado de financiar o terrorismo e de desestabilizar o Golfo Pérsico, o Catar vive sua pior crise política. O abastecimento foi dificultado pelas medidas tomadas pelos países vizinhos, que passaram a fazer exigências para acabar com o bloqueio contra o regime de Doha.

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Para diplomatas, não foi por acaso que o Catar mandou uma mensagem clara a todos no comando do PSG, clube sob seu controle direto: não economizem na publicidade ao apresentar Neymar ao mundo. A ordem era de que duas mensagens subliminares deveriam ser passadas.

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A primeira era de que, apesar do bloqueio, o emir no Catar quer demonstrar que o regime continua a operar em normalidade e que não irá ceder. Sede da Copa do Mundo de 2022, o Catar insiste que o bloqueio não tem afetado as obras para o Mundial. Mas precisam garantir que o mundo mantenha uma imagem positiva do país e que a rixa com os vizinhos árabes não afete sua credibilidade no Ocidente.

Para ajudar nessa campanha, Xavi Hernández publicou um vídeo pedindo o fim do embargo comercial contra o Catar, enquanto Piqué e Busquets viajaram até Doha para visitar uma academia de futebol local.

Mas nada se equipara ao impacto que foi criado com o desembarque de Neymar em Paris. Para diplomatas consultados pelo Estado, o investimento faz parte de uma estratégia que poderia ser equivalente a um “seguro de vida” para o regime do Emir.

E é ali que está o segundo recado, camuflado na pompa e grandiosidade da apresentação do jogador: por mais que se acuse o Catar de financiar o terrorismo, é do país árabe que vem hoje os recursos quem abalam as estruturas do esporte mais popular do ocidente.

O futebol, que há anos havia sido escolhido como instrumento de poder e influência do Catar pelo mundo, uma vez mais voltou a ser usado e com Neymar como uma nova plataforma. Se para o mundo do futebol 222 milhões de euros (aproximadamente R$ 824 milhões) é muito dinheiro, na política esse valor tem uma outra dimensão.

“Com essas ações, o Catar está no fundo fazendo um seguro de vida”, admitiu um negociador de Doha, sob condição de anonimato. Se Emmanuel Macron, presidente da França, comemorou oficialmente a chegada do brasileiro em seu país, a lógica do Catar é de que se a família real for um dia ameaçada, retrucaria com o fim dos investimentos que hoje garantem o orgulho “nacional” francês de poder disputar em pé de igualdade com os rivais os troféus mais cobiçados do mundo do futebol.

E Neymar seria apenas a ponta de um iceberg de dezenas de investimentos do Catar pela Europa. Mas, a partir de agora, talvez seu maior trunfo público e midiático para influenciar a comunidade internacional de que ter o Catar como parceiro pode trazer benefícios mútuos.