Amanhã, o contrato de Dagoberto entra no último ano de vigência.
Mas nada aponta para o fim da novela que se arrasta há mais de um ano entre o Atlético e o atacante.
Teoricamente, a partir desta quinta-feira, quando faltará um ano para o fim do contrato, o jogador adquire os próprios direitos federativos se depositar R$ 5,46 milhões em favor do Rubro-Negro. A data marca simbolicamente o final da prorrogação de 250 dias determinada pela 8.ª Vara do Trabalho de Curitiba, que acatou argumento do clube e considerou nulo o período em que Dago esteve afastado dos gramados por lesão.
Mas o fim do prazo não coincide com o fim da novela. O Furacão ainda tenta estender o vínculo por mais 98 dias – período de ausência de Dagoberto dos gramados após o primeiro retorno ao futebol, num Atletiba pelo Brasileiro de 2005. Ao mesmo tempo, o atacante pede anulação da cláusula que prevê a multa rescisória de R$ 27,3 milhões e indenização por danos morais. Os R$ 5,46 milhões correspondem a 20% do valor a ser pago como multa no último ano de contrato.
Além disso, mesmo com o pagamento do depósito o Atlético ainda precisaria ser ouvido na Justiça do Trabalho e avaliar se o pagamento respeitou o determinado em contrato. O julgamento de ambos os recursos ainda não chegou ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT), e a previsão do Atlético é que não aconteça antes de maio.
Mas a possibilidade de os R$ 5,46 milhões caírem na conta rubro-negra nos próximos dias é remota. Primeiro, como o processo ainda está pendente, o clube contratante corre o risco de pagar indenização três vezes maior se a decisão judicial do TRT for favorável ao Atlético. Depois, até a multa com valor reduzido parece não atrair outros interessados. ?Não há a menor chance de pagarmos este valor. Aliás, acredito que nenhum clube brasileiro tenha tal cacife. É um investimento muito alto para a realidade do futebol brasileiro?, afirmou ontem Eduardo Maluf, o diretor de futebol do Cruzeiro – um dos clubes que haviam demonstrado interesse por Dagoberto.
O São Paulo, outro possível destino de Dagoberto, parece longe de um acordo com o Rubro-Negro. O assessor da presidência do clube do Morumbi, João Paulo de Jesus Lopes, já afirmou que busca um entendimento com o Atlético e que ofereceu os R$ 5,46 milhões ao Atlético. ?Eles trabalham muito com imagem exterior. Nunca recebemos proposta neste valor do São Paulo?, ironizou o diretor e advogado do Atlético, Marcus Malucelli.
Cartas na manga prometem mais emoções
O Atlético tem mais uma carta na manga para tentar lucrar com a saída de Dagoberto. O departamento jurídico rubro-negro já incluiu no processo em andamento na Justiça do Trabalho as três propostas de clubes europeus rejeitadas pelo jogador. A idéia é mostrar que o atacante teria agido de má-fé ao refutar as propostas de Monaco (França), Hamburgo (Alemanha) e Mallorca (Espanha) só para mais tarde livrar-se do Furacão com o fim do contrato.
Se comprovar a tese, o Atlético tentaria receber, a título de indenização por perdas e danos, a diferença entre o máximo valor oferecido pelos europeus e o valor efetivamente pago numa futura negociação de Dago. Ou mesmo tentar vendê-lo para a Europa à revelia do jogador, sob a mesma alegação. ?Estamos providenciando esta ação, mas não podemos antecipar de que forma ela seria feita?, disse o advogado do Atlético, Marcus Malucelli, confirmando a inclusão das propostas européias na Justiça do Trabalho.
Na semana passada, o jogador recebeu notificação extrajudicial do clube com este teor. Segundo Naor Malaquias, um dos procuradores do atacante, a resposta de Dagoberto à notificação foi baseada na liberdade. ?Jogador não é escravo. A transferência depende de sua vontade. Ele só é obrigado a cumprir seu contrato e as obrigações com o clube, e isso Dago tenta fazer. Pena que é impedido de jogar. Mas se respeita o contrato, não há má-fé?, afirma Malaquias, que afirma desconhecer novas propostas pelo jogador.
?São Paulo aliciou o atacante?
O Atlético promete entrar com representação na CBF pedindo punição ao São Paulo. A alegação é que o time do Morumbi tentou aliciar Dagoberto. ?O que o São Paulo fez está expresso como aliciamento pelo conjunto de normas da Fifa. Aliás, é prática comum deste clube?, disse à Tribuna o advogado atleticano Marcus Malucelli, lembrando do caso Aloísio, que desvinculou-se do Rubro-Negro na Justiça e rumou ao tricolor paulista.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, de São Paulo, Malucelli foi ainda mais contundente. ?O São Paulo está nos atrapalhando, porque pagamos caro por um jogador que não pode atuar por causa das especulações?, afirmou, lembrando também o caso do Goiás, que perdeu o zagueiro André Dias para os são-paulinos.