“O Paraná deveria parar definitivamente com o futebol e recuperar o seu social.” A sugestão partiu do conselheiro Erondy Silvério. Dizendo-se envergonhado com a situação do clube, ele desabafou em uma entrevista à Rádio Banda B (ao narrador Marcelo Ortiz), ontem à tarde. A reação de torcedores e dirigentes foi imediata. O presidente José Carlos de Miranda lamentou o afastamento de Silvério que, segundo ele, não aparece no clube há quase sete anos, e a falta de embasamento nas suas afirmações.
Erondy Silvério: Fui um dos homens que lutei pela fusão e se arrependimento matasse, eu estaria morto. O Pinheiros vinha numa marcha ascensional no futebol do Estado e dominamos quase toda a década de 80. De início, a fusão trouxe resultados positivos, pois aproveitaram-se do patrimônio que tinha o Pinheiros. Mas, depois, aquela gente que quebrou o Ferroviário, o Palestra, o Britânia e o Colorado – coadjuvados pelos maus pinheirenses – tomaram conta do clube e acabaram quebrando o Paraná. O clube está hoje em uma situação dificílima e sem remédio. A única solução é acabar definitivamente com o futebol, reduzir as mensalidades e recuperar o quadro social. Depois sim, pode-se repensar a retomada de atividade no futebol profissional.
Marcelo Ortiz:
Na sua idéia, a única saída do Paraná é parar com o futebol profissional?Silvério:
Licenciar-se do futebol profissional. Já fizemos isso no Água Verde quando caímos para a segunda divisão. Nos licenciamos, reconstruímos o clube e construímos aquele gigante que foi o Pinheiros. Não temos mais condições, com a atual receita, de manter o futebol profissional.Ortiz:
E qual seria o período ideal desta licença?Silvério:
Dois anos. O Pinheiros tinha 25 a 30 mil sócios em dia. É possível recuperar esse número de sócios, desde que se invista na promoção social do clube e que se reduza pela metade o que se cobra pela mensalidade. Com 30 mil sócios a R$ 25,00, teríamos uma receita de R$ 750 mil mensais. Com isso, seria possível aplicar nas categorias de base. O Pinheiros e o Paraná sempre foram uma força viva nas categorias de base. Hoje, é uma caricatura a administração do futebol nas categorias de base. Não quero culpar ninguém ou citar nomes. Mas, hoje o Paraná não tem um craque sequer porque abandonou as categorias de base. Isso só pode ser retomado com dinheiro, acabando com o futebol profissional. É hora de repensar, de deixar a vaidade de lado.Ortiz:
Sabemos da sua influência no clube. A sua postura não pode provocar um racha dentro do Paraná?Silvério:
É claro que pode. Mas, não é melhor haver um racha e retomarmos o crescimento do clube? Ou seguir com essa falsa união e o clube caminhar para a falência?Ortiz:
Ainda há a divisão Pinheiros/Colorado no clube?Silvério:
É claro que sim. Não tenha dúvida. A banda podre do Colorado é que tomou conta do Paraná e o resultado está aí. A fusão foi um erro. A maioria dos conselheiros não desejava a fusão, mas como eu, o Buzzo, o Pacheco, o Auracir, o falecido Orestes exercíamos uma liderança, conseguimos convencê-los. Esperávamos fazer o melhor pelo Pinheiros, mas o negócio deu errado. E agora não tem remédio, a não ser agir de forma drástica.Ortiz:
O senhor pretende levar essa idéia adiante? Já tem apoio de outros conselheiros?Silvério:
Não, não…Eu me afastei quando o Professor Miranda perdeu a eleição para o Dilso Rossi. Pois o Rossi, na minha opinião, representava a banda podre do Colorado. Desde então, não me envolvi nas decisões do Paraná. E não estou me envolvendo agora. Mas apoiaria um movimento de recuperação do clube, com a licença por dois anos do futebol profissional. Muitos conselheiros já me ligaram neste sentido e têm o meu apoio. As más administrações colocaram em risco todo o nosso patrimônio, até a nossa sede social. Criminosamente, venderam o Britânia para o Big. Na época do Ernani, fizemos um contrato de arrendamento altamente vantajoso para o Paraná. A diretoria seguinte, vendeu a área e o dinheiro foi pro ralo, pro esgoto. Há diversas ações trabalhistas que representam uma soma assustadora e que pode ameaçar o patrimônio do Paraná, pois não temos mais receita. Até onde sei, o Paraná não tem cinco mil sócios, o que gera uma receita de R$ 200 mil, com despesa de R$ 300 a R$ 400 mil com folha de pagamento de funcionários. De onde tirar dinheiro para fazer acordo nessas ações trabalhistas?Ortiz:
Na sua opinião, sem parar com o futebol o clube está no caminho da falência?Silvério:
Não diria da falência. Mas está num caminho sem volta. Não adianta procurar o Ratinho, que ele não vai tirar dinheiro do bolso para pôr no Paraná. Não adianta procurar Juan Figger. Precisamos de dinheiro e isso só vamos conseguir reativando o nosso quadro social. No andar da carruagem, estamos na iminência de cair para a segunda divisão paranaense e, conseqüentemente, do brasileiro. Vamos esperar que isso aconteça?Ortiz:
Qual sua opinião sobre o presidente Miranda, José Domingos e Vavá Ribeiro, que tocam o futebol?Silvério:
São pessoas corretíssimas. O professor Miranda não tem culpa nenhuma do que está acontecendo. O Zé Domingos é um lutador e não pertence àquela banda podre a que eu me referi. Mas, eles pegaram uma situação caótica. São velhos companheiros e pessoas puras, que querem acertar, mas nada podem fazer sozinhos. O problema do Paraná começou em 97/98. O Pinheiros era uma potência porque fazíamos promoções sociais semanalmente. Hoje, dá pena de ver.Ortiz:
E o patrimônio torcida, como fica?Silvério:
Ela já está desanimada. É só verificar as rendas dos jogos. A torcida continuará em processo de redução. O Pinheiros era forte, mas não tinha torcida. Só que não tivemos paciência para esperar e nos iludimos com o “canto da sereia”. O único patrimônio que o Colorado trouxe foi a torcida, pois o restante do patrimônio físico veio deteriorado e precisamos investir muito na recuperação dessas áreas. A fusão não deve ser desfeita. Mas, é preciso pôr a cabeça no lugar e ouvir os homens de bem que existem no clube. E, principalmente, não permitir a volta daqueles que degringolaram o clube.Resposta de Miranda
O presidente José Carlos de Miranda assegurou que um licenciamento do futebol seria catastrófico para o clube. “Além de começar tudo de novo, muitos dos recursos do futebol servem para gerir o social”, explicou. Miranda preferiu não polemizar, mas questionou afirmações de Silvério quanto ao patrimônio que o Colorado trouxe à fusão. “Entramos limpos, sem dívidas e com patrimônio”, comentou. O dirigente lembrou ainda que a análise quanto a quadro associativo não foi precisa. “O Pinheiros tinha 30 mil sócios na década de 80. Na época da fusão, eram somente 12 mil. Se hoje não temos um quadro associativo numeroso, deve-se à questão social do País”, disse. “Prefiro não comentar sobre ex-pinheirenses magoados. Essa questão deve ser tratada internamente. É assunto para o conselho debater”.