Uma confusão após a partida do último sábado pode significar mais prejuízo para o Coritiba. Cerca de uma hora após o encerramento do jogo contra o Guarani, cerca de 40 torcedores invadiram o estacionamento do Couto Pereira, causando grande tumulto. Carros foram danificados e o ônibus que transportava a imprensa de Campinas, apedrejado.
Quem levou a pior foi o professor de educação física Tadeu Natálio, membro da Comissão Nacional de Controle de Dopagem da CBF. Confundido com um torcedor do Guarani, ele foi covardemente agredido. ?Quando saí para buscar meu carro, o portão da Rua Mauá estava fechado e tive que dar a volta até a Rua Floriano Essenfelder, no acesso da torcida adversária. No caminho passei por um grupo de torcedores com uniforme de várias facções do Coritiba. Eles estavam com paus e pedras e procuravam por um ônibus?, conta Natálio.
Ao entrar no estacionamento, o professor foi seguido pelos vândalos, que passaram a apedrejar o ônibus que transportava profissionais de emissoras de rádio de Campinas. ?Acertaram uma pedra em minha boca. Eu gritei, falando para pararem, mas eles acharam que eu era do Guarani e partiram para cima. Primeiro foram dois, depois veio o bando todo?, revela Natálio, que foi agredido mesmo depois de caído. Resultado: uma costela quebrada, oito pontos na boca e várias escoriações e ematomas pelo corpo.
Como a Polícia Militar já havia deixado o estádio, a confusão só terminou quando os seguranças do Coxa entraram em ação. Segundo a assessoria de imprensa do clube, 12 pessoas foram levadas ao 3.º Distrito Policial e um boletim de ocorrência foi registrado.
Mesmo assim, o Coritiba pode ser responsabilizado pelo ocorrido, tendo de ressarcir prejuízos materiais ou até ser alvo de indenização por danos físicos e morais. Além da agressão a Natálio e do apedrejamento do ônibus, carros que estavam no local também foram atingidos pelas pedras.
Segundo o Estatuto do Torcedor, o clube mandante é responsável pela segurança em torno do estádio. ?As pessoas que foram lesadas podem buscar reparação. O clube não se exime dessa responsabilidade?, diz o advogado do Coritiba, Fernando Barrinuevo.
Já uma ação na Justiça Desportiva, que poderia significar perda de mando de campo, é pouco provável. O tumulto não foi relatado pelo árbitro do jogo. ?De forma alguma o clube entende que desrespeitou o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). O que ocorreu não teve interferência na competição nem na disputa da partida, como uma invasão de campo ou arremesso de objetos no gramado?, garante Barrinuevo.
Natálio diz ainda não ter decidido qual providência vai tomar. ?Estou pensando no que vou fazer. Acho que o Coritiba deveria nos dar mais segurança, já que fazemos um trabalho muito importante?, afirma. Mas para ele, maior que a dor dos ferimentos é a tristeza por ser agredido por torcedores do clube que já defendeu. ?Fui preparador físico do Coritiba em 1986. Fui campeão paranaense e participei da Libertadores. Tenho uma história no clube, mas esses piás não sabem nada disso?, lamenta.
Campineiros estranham fato
Carlos Simon
A imprensa campineira escapou por pouco de sofrer o mesmo que Tadeu Natálio. Repórteres das três rádios da cidade que costumam cobrir jogos do Guarani e da Ponte Preta fora de casa (Central, CBN e Bandeirantes) chegaram ao ônibus que os levaria de volta ao interior paulista minutos depois da confusão envolvendo torcedores do Coritiba.
Os repórteres viram o pára-brisa quebrado e tiveram que ir ao 3.º Distrito Policial, nas Mercês, registrar boletim de ocorrência. Como o veículo não poderia ir para a estrada naquelas condições, os profissionais de imprensa tiveram que voltar em ônibus convencionais. ?Pelo que soubemos mais tarde, qualquer pessoa que fosse identificada como de Campinas seria atacada pela torcida?, falou o repórter André Aranha, da Rádio Bandeirantes. Não houve registro de feridos entre jornalistas, torcedores ou membros da delegação do Guarani que vieram ao Couto Pereira.
O radialista acredita que o alvo dos coxas-brancas seriam integrantes da torcida Fúria Independente, do Guarani, aliada do grupo homônimo ligado ao Paraná Clube. ?Havia faixas e pessoas com camisas do Paraná junto à torcida do Guarani?, relata o repórter, que disse nunca ter sofrido represálias de torcedores. ?Estranho isso acontecer em Curitiba?, falou.
Império promete entregar envolvidos
A torcida organizada Império Alviverde diz que não tem responsabilidade pelo tumulto no estacionamento do Couto Pereira. ?Ficamos sabendo pelo Espeto (Luiz Henrique Barbosa Jorge, secretário do Coritiba), que ligou para nossa sede. Fomos até lá, mas já estava tudo resolvido?, afirma o vice-presidente da Império, Osvaldo Dietrich, o ?Porks?.
Segundo Osvaldo, a Império vai procurar identificar os arruaceiros. ?Se forem mesmo da torcida, é expulsão na hora. E vamos entregá-los para a polícia?, garante. A preocupação da Império é que a ação de um pequeno grupo acabe afetando a imagem de toda a torcida. Posição parecida com a dos diretores do Coxa. ?A diretoria lamenta muito e acha importante ressaltar que isso não pode ser generalizado. A torcida compareceu em grande número e deu um show na arquibancada. Um grupo isolado não pode prejudicar a imagem de toda a torcida do Coritiba?, diz o assessor de imprensa Rodrigo Weinhardt.
Gramado em ordem
O gramado do Couto Pereira está em perfeitas condições. Quem garante é o engenheiro agrônomo Denis Renoux, da Grasstecno, empresa responsável pela manutenção do campo do estádio do Coritiba.
Depois da partida do último sábado, os jogadores do Guarani reclamaram que a grama do Couto estava muito irregular. No lance que originou o pênalti a favor do Coxa, uma falha no campo teria sido responsável pela bola bater na mão do jogador da equipe de Campinas.
Segundo Renoux, as reclamações não têm fundamento. ?A bola pegou efeito quando bateu no chão. Talvez na emoção do jogo, eles procuraram uma desculpa?, afirma.
A impressão de que o gramado estaria irregular teria explicação. ?Antes do jogo, é passado um rolo sobre o campo, para nivelar. Como a grama estava um pouco alta, ela fica deitada. Com o jogo, ela acaba levantando e deixando essa aparência. Mas não há nenhum tipo de desnível do solo?, garante Renoux.