Paris – O Barcelona chegou na tarde de ontem a Paris, mas ninguém deu atenção. O poderoso clube espanhol e seus jogadores foram ofuscados por uma figura, a de Ronaldinho Gaúcho.
Os repórteres correram para cima do craque brasileiro e ignoraram o atacante Eto?o, o meia Deco, o técnico Rijkaard, entre outros personagens importantes. A França – e boa parte da Europa – só quer saber de Ronaldinho Gaúcho.
Há muito tempo não se via alguém tão badalado, tão famoso e tão querido no futebol. Ronaldinho é tratado como um Pelé na Europa. Falta pouco para alcançar a consagração vestindo a camisa do Barcelona. Liderou o time na conquista dos últimos títulos do Campeonato Espanhol, foi eleito nos últimos dois anos o melhor do mundo em eleições da Fifa e hoje, a partir das 15h45 (horário de Brasília), pode ganhar o maior título de sua carreira por um clube: o da Liga dos Campeões da Europa. Sua equipe enfrenta o Arsenal, no Stade de France, em Saint-Denis, subúrbio de Paris – Bandeirantes e ESPN Internacional transmitem ao vivo.
Arsène Wenger, técnico do time inglês, mesmo com bom humor, mostrou impaciência com a repetição das questões envolvendo o ?Mago? Gaúcho.
?Vamos enfrentar o Barcelona, não o Ronaldinho?, afirmou o treinador.
Wenger pode pensar assim, mas a imprensa européia e o grande público não concordam. Se o Barcelona for campeão, o vitorioso será Ronaldinho. Se perder, o derrotado será Ronaldinho. Ele, hoje, é o dono da equipe.
?Desde que vim para a Europa, em 2001, sonho com o título europeu,? declarou recentemente o meia-atacante brasileiro.
A ?Ronaldinhomania? em Paris, onde passou a ser conhecido internacionalmente jogando pelo PSG, parece não ter limites. Os cambistas estão cobrando até 3 mil euros por ingresso e conseguem vendê-los, apesar da choradeira dos compradores. A adoração por Ronaldinho poderia provocar ciúme nos colegas, mas seu jeito simples e humilde o faz querido também fora de campo. ?Eu jogo pelo Ronaldinho mesmo, é ele quem decide os jogos, é ele quem ganha o bicho para nós?, declarou o volante Edmílson. ?O Barcelona era um sem o Ronaldinho e se transformou em outro depois de sua chegada?, completou o lateral Belletti.
No último treino antes da final, ontem, em Saint-Denis, Ronaldinho procurou demonstrar tranqüilidade, brincou com os companheiros, sorriu como sempre. E esbanjou confiança. ?Respeitamos o Arsenal, é um bom time, mas penso que podemos ser campeões, vamos atacar, temos uma equipe que joga para a frente e com alegria?, avisou.
Apesar de toda sua tradição, o Barcelona conquistou a Liga dos Campeões apenas uma vez em sua história, em 1992. Naquele ano, disputou a final do Mundial, em Tóquio, contra o São Paulo, e foi derrotado por 2 a 1. O Arsenal, por sua vez, nunca venceu a competição.
Belletti: "Liga vale mais que o Mundial"
Paris – A torcida do Corinthians arrebentou alambrados do Pacaembu por causa da eliminação do time na Libertadores. O são-paulino deixa de lado qualquer conquista para levantar a taça da competição continental. Mas o torneio disputado na América do Sul significa "muito pouco" se comparado à Liga dos Campeões da Europa. É o que diz Belletti. "A Europa inteira vai parar para ver o jogo", diz o lateral, ex-São Paulo e Cruzeiro.
Agência Estado – É possível medir a importância desse jogo para você?
Belletti – O jogo é importante para mim, mas mais importante ainda para o Barcelona. Aqui, a Liga tem muito mais importância do que o Mundial, por exemplo. O ambiente em Barcelona é de festa, de alegria. Mas esse clima não atinge só Barcelona ou Londres, mas a Europa inteira. Fala-se demais nesse jogo.
AE – A premiação paga pelo Barcelona em caso de título é elevada ou a cultura no clube é diferente?
Belletti – O Barcelona, como a maioria dos clubes da Europa, paga por objetivo. Só vamos ganhar alguma coisa se formos campeões. Não adianta nada chegarmos à final e perdermos. Não tem essa de ganhar prêmio por vitória. Mas, se formos campeões, receberemos boa quantia, com certeza bem maior do que os clubes sul-americanos pagam por título de Libertadores.
AE – Você jogou bastante tempo no São Paulo e está na Europa há quatro anos. A estrutura do Barcelona é superior ou não?
Belletti – O São Paulo tem grande estrutura, de nível europeu. Mas está muito longe do Barcelona. É impressionante, nos jogos com menos público, vão 78 mil pessoas ao Camp Nou. Espero cumprir o contrato, ainda tenho três anos aqui. Batalhei tanto para chegar a um clube como o Barcelona, quero aproveitar.
Gilberto: "Dá para marcar Ronaldinho"
Paris – Um brasileiro foi escalado para estragar a festa de Ronaldinho Gaúcho. Ou, pelo menos, para tentar. O volante mineiro Gilberto Silva será um dos responsáveis pela marcação do craque gaúcho e do forte meio-campo do Barcelona na final da Liga dos Campeões.
Agência Estado – Acha possível marcar o Ronaldinho Gaúcho?
Gilberto Silva – Claro que sim. Ele está muito inspirado, dá espetáculo, é alegre, está de bem com a vida, mas temos de marcá-lo e podemos marcá-lo. Marcamos grandes jogadores nesta Liga dos Campeões e chegamos à final.
AE – Você vai fazer marcação individual no Ronaldinho?
Gilberto – Acredito que não haverá marcação individual, porque o Arsène (Wenger) não costuma pedir isso para nós. Mas claro que vou marcá-lo também. Ele vai cair pelo meu setor.
AE – Se um amigo lhe perguntasse se poderia apostar alto no Arsenal, o que diria?
Gilberto – Diria que é possível, sim, apostar no Arsenal. Desde o início da fase de mata-mata, entramos como azarões e eliminamos equipes favoritas na competição, como Real e Juventus. O único confronto em que nós éramos favoritos foi contra o Villarreal.
AE – Adaptou-se facilmente à Inglaterra?
Gilberto – Desde que cheguei aqui tenho sido titular, estou bem, sou um dos mais experientes do time, procuro dar tranqüilidade aos mais jovens. Não tive problemas, aprendi a falar inglês, sou bem tratado pelos torcedores. Minha mulher também gostou daqui e minha filha já usa até o inglês como primeira língua.
AE – Quer voltar ao Brasil?
Gilberto – É triste dizer, mas não pretendo, não. Tenho contrato até 2009 com o Arsenal e quero cumpri-lo. Infelizmente, os clubes no Brasil têm passado por muitas dificuldades.
Uefa troca auxiliar norueguês
Paris – A Uefa (União Européia de Futebol) resolveu substituir o auxiliar norueguês Ole Hermann Borgan, que foi flagrado em uma foto vestindo a camisa do Barcelona e estava escalado para trabalhar na final da Liga dos Campeões da Europa, em Saint Denis, na França, hoje, justamente entre o time espanhol contra o Arsenal, da Inglaterra.
Em seu lugar vai trabalhar um compatriota: o também norueguês Arild Sundet, que viaja para a capital francesa hoje pela manhã. A troca foi motivada pela necessidade de evitar eventuais erros (propositais ou não) que Borgan poderia cometer e a polêmica que isso causaria.
