Comitê Paralímpico Brasileiro teme por trabalho a longo prazo

Sem garantias de que poderá fazer a gestão completa do novo Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, para além dos próximos 12 meses, o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) não escondeu a frustração na cerimônia que marcou o início das atividades do espaço. Andrew Parsons reclamou que até a parceria com o governo do Estado estava ameaçada com alterações que ele não esperava no decreto que regula a atuação do CPB no centro.

“A gente veio aqui para um momento de celebração e de início de trabalho. Mas a gente sai daqui com muita dúvida sobre o nosso papel na gestão do centro de treinamento e nosso relacionamento com o governo do Estado de São Paulo”, afirmou Parsons, visivelmente abalado. Ele não quis se alongar na resposta e evitou fazer mais comentários sobre o assunto.

O evento contou com a presença do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Leonardo Picciani, o novo ministro do Esporte. Apesar de muitos atletas e medalhistas paralímpicos estarem presentes, Parsons não foi convidado a falar no microfone para os presentes e o nome do CPB não apareceu nas comunicações oficiais do governo. Isso já causou uma estranheza inicial para a entidade, mas a ducha de água fria foi quando descobriu que o texto a ser publicado nesta terça-feira no Diário Oficial será diferente do discutido no processo de construção do espaço.

Pouco antes da cerimônia, Parsons deu entrevista falando sobre a importância daquele centro de treinamento de alto rendimento e de como o CPB pretendia investir para manter o local funcionando. Mas, logo que subiu ao palco, mudou a fisionomia e lamentou a mudança de rota. A ideia inicial era que o trabalho pudesse ser realizado lá a longo prazo. A entidade construiria academia e laboratório, por exemplo, mas agora já não sabe como será em 2017.

A secretária estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Linamara Rizzo Battistella, afirmou que não percebeu qualquer constrangimento entre CPB e governo do Estado e minimizou o ocorrido. Ela informou que será preciso esperar a publicação do decreto, mas que ele contará com o termo de “permissão de uso” para o CPB.

“O decreto diz que nos próximos 12 meses o CPB tem uma permissão de uso do Centro. A linguagem oficial é diferente, não usa expressões como ‘gerir’. Mas eles (CPB) estarão aqui dentro tomando conta das instalações. Os empréstimos precisam ser pontuais, têm de ter data para começar e acabar, depois vamos fazer uma parceria com um outro formato, com outra dimensão legal que certamente vai privilegiar a presença do CPB aqui por muito mais tempo”, completou.

A secretária revelou que após a Paralimpíada será feito um chamamento público para que surjam propostas para o CT e espera que o CPB participe. “O governo tem que trabalhar com transparência”, frisou. Linamara explica que o Centro de Treinamento está dentro do Parque Fontes do Ipiranga e que o Estado não pode abrir mão da responsabilidade que tem. “O CPB vai se encarregar de todas as atividades relacionadas a treinamentos, isso significa também áreas como fisioterapia e condicionamento físico. Essas ações estão dentro do termo de cooperação e serão responsabilidades deles.”

Inicialmente, o CPB se mostrou disposto a bancar os R$ 30 milhões anuais para a gestão do espaço em recursos advindos da Lei Piva. A entidade tem receita estimada em R$ 130 milhões. Porém, com o imbróglio sobre quem vai gerir de fato o espaço, a entidade está com dúvidas se vai fazer todos os investimentos necessários com equipamentos porque não sabe quem tomará conta do espaço, que abrigará 15 modalidades paralímpicas, no futuro.

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