A Fórmula 1 está parecendo colégio de padres. Os pilotos não podem mais fazer nada que ameace a ordem estabelecida -por “ordem estabelecida” entenda-se nada de excessos na pista -, que são imediatamente punidos.
Depois que Lewis Hamilton perdeu a vitória de Spa por conta de uma ultrapassagem considerada fora dos padrões pelos comissários esportivos da FIA, o lema agora é: toda ousadia será castigada.
Os “bedéis” que atuaram domingo no GP do Japão puniram Hamilton, líder do mundial, Felipe Massa, vice-líder, e Sébastien Bourdais, do “jardim de infância”. Seus nomes: Graham Stoker, Jose Abed e Kazunari Yamanashi. Os três assinam os “castigos” que esses pilotos receberam em Fuji, mexendo na história da prova e do campeonato.
Hamilton recebeu um “drive-through” por, pasmem, ter largado mal. O inglês, que estava na pole, perdeu a ponta para Kimi Raikkonen e antes da primeira curva tentou devolver a ultrapassagem, retardando a freada e fazendo com que o finlandês da Ferrari mudasse sua trajetória, saindo pela área de escape.
Ele e vários outros, diga-se. Porque retardar freada em largada é tão comum quanto trocar pneus, e desde que não haja toques, supõe-se que seja algo que faça parte do jogo. Não faz mais. Lewis foi acusado de “forçar um outro carro para fora da pista”.
Na segunda volta, já em sexto lugar, o inglês partiu para cima de Massa, que estava em quinto. Fez a ultrapassagem, aproveitando uma brecha aberta por Felipe numa apertada chicane, mas não terminou a manobra.
O brasileiro passou pela grama e ao voltar à pista, com o carro todo torto, rodou e acertou Hamilton, que rodou e caiu para último. Lance comum, igualmente, em qualquer corrida.
Não houve intenção de Massa de bater em ninguém – “jamais faria isso”, disse o piloto -, mas os comissários entenderam que ele causou uma colisão. “Drive-through” para Massa também, que acabou caindo para a 14.ª posição.
No fim da prova, na volta 50, Felipe já entrava na zona de pontos quanto pegou Bourdais saindo dos boxes e ambos se tocaram. O ferrarista rodou, voltou e terminou em oitavo. O estreante da Toro Rosso, em sexto. Não pôde comemorar.
Acrescentaram 25 segundos ao seu tempo de prova, ele caiu para décimo e Massa subiu para sétimo, somando dois pontos e descontando a diferença para Hamilton, que não pontuou. Agora o placar aponta 84 a 79 para o inglês, a duas provas do encerramento da temporada.
Ninguém ficou feliz com as punições. “Foi um incidente de corrida”, defendeu-se Felipe do toque em Hamilton, para em seguida atacar Bourdais: “Ele me acertou por trás”. O francês devolveu: “Queriam que eu fizesse o quê? Fiquei por dentro e fiz tudo para não atingi-lo. Ele me apertou como se eu não existisse”, reclamou, inconformado.
Hamilton, por sua vez, admitiu que largou mal, mas fez a ressalva: “Brequei tarde, só que todo mundo fez isso e só eu fui punido”. E apontou o dedo para Massa: “Todos viram o que ele fez, jogou o carro em cima de mim”.
Com tantos castigos aplicados aos favoritos à vitória, sobrou para Fernando Alonso, que fez uma corrida brilhante e ganhou pela segunda vez no ano. Semana que vem acontece a penúltima etapa do mundial, na China. E, a julgar pelo recado dado pelos comissários em Fuji, é melhor todos se comportarem. Senão, é palmatória na certa.