Jogadores consagrados, com títulos nacionais e internacionais no currículo, Zetti e Silas buscam – a partir desta quinta-feira – um novo salto em suas vidas profissionais. Mesmo fora das quatro linhas, a adrenalina ainda está presente, mas sob um novo ângulo de visão. Um à beira do campo, o outro pelo comunicador. A dupla tem a missão de conduzir o Paraná Clube naquela que pode ser a página mais importante de sua história. No próximo dia 1.º de fevereiro, o Tricolor encarara o Cobreloa, no Chile, na estréia do clube na Copa Libertadores da América.
É impossível dissociar a imagem de Zetti e de Silas da camisa do São Paulo. Ambos viveram dias de glória no tricolor do Morumbi. Contemporâneos – são de 1965 -, curiosamente jamais atuaram lado a lado no São Paulo e os laços de amizade só se estreitaram depois que penduraram luvas e chuteiras. Zetti chegou ao clube paulista em 1990, quando Silas já estava na Itália, após uma temporada no Sporting, de Portugal. Quando o meia retornou ao Morumbi, em 97, era o goleiro quem já havia deixado o clube, indo para o Santos.
O convívio, enquanto atletas, foi nos bastidores da seleção brasileira.
Com larga experiência em Libertadores, Zetti e Silas agora tentam passar os ensinamentos que adquiriram ao longo de suas vitoriosas carreiras como jogadores ?de ponta? do futebol brasileiro.
O ex-goleiro do São Paulo integrou uma ?geração de ouro?, que conquistou a América e o mundo, nos anos 90s. Foram dois títulos de Libertadores (1992-93) e um vice, no ano seguinte. Outros dois mundiais pelo São Paulo, além do tetra pela seleção em 1994, nos Estados Unidos (na reserva de Taffarel).
Seu grande momento na competição continental, Zetti tem na ponta da língua: a final de 1992, nos pênaltis, frente ao argentino Newell?s Old Boys, em 17 de junho. O jogo, além de marcar o primeiro título do São Paulo numa Libertadores, também simbolizava o início de uma nova fase para o futebol brasileiro. Mesmo com os títulos de Santos (62/63), Cruzeiro (76), Flamengo (81) e Grêmio (83), foi a partir da conquista do tricolor que o Brasil ?despertou? para a importância da Libertadores. Que vai além do simbolismo de se ?dominar o continente?. A competição da Conmebol virou uma grande vitrine mundial e de retorno financeiro altamente significativo.
Para Zetti, o título teve também o sabor da ?redenção? definitiva. Fazia pouco mais de dois anos que ele voltara a jogar futebol, depois de uma profunda incerteza quanto ao seu futuro profissional. O goleiro, visto à época como uma das grandes promessas do Palmeiras, ficou de novembro de 1988 a maio de 1990 longe dos gramados, por conta de uma fratura na perna. Foi mandado embora do Palestra Itália e foi buscar a volta por cima no r ival, que o contratou para substituir Rojas, excluído do futebol pelo incidente da ?fogueteira?, naquele jogo do Maracanã, entre Brasil e Chile.
Com participação em três finais de Libertadores, Zetti viveu na pele todas as dificuldades do torneio, das elevadas altitudes a estádios acanhados onde a pressão da torcida é intensa. Silas não teve a mesma sorte de ?levantar? o caneco da Conmebol. Mas, assim como seu companheiro de comissão técnica, encarou todos os problemas inerentes ao torneio, marcado pela necessidade de se ter em campo um time ?guerreiro?. Silas, pelo São Paulo, disputou apenas uma Libertadores, em 1987, quando o clube ainda não era a potência de hoje.
O meia atuou em quatro dos seis jogos e o São Paulo ?caiu? na primeira fase. Curiosamente, Silas atuou nos dois confrontos com o Cobreloa (vitória no Morumbi, derrota em Calama) e já conversou com os atletas do Paraná Clube sobre as dificuldades de se jogar no ?El Infierno?, como é conhecido o estádio onde o Cobreloa disputa seus jogos. O meia, de toque refinado e habilidade de sobra, avisa: ?Lá, tem que ser na superação, contra a altitude e um adversário experiente em competições deste nível?. Silas disputou outras três Libertadores: Internacional (92), San Lorenzo (96) e Atlético-PR (2000).
Agora em novas funções, mas com a mesma ambição de um passado recente, Zetti e Silas prometem ser ?a cara? do Paraná Clube em sua primeira incursão no torneio mais badalado das Américas, a porta de acesso para se conquistar o mundo, no Japão.