São Paulo – Sob um calor de 37 graus, um sol implacável, ele saiu de seu carro depois de quase uma hora e meia de corrida. Vencera, portanto havia motivo para comemorar. Subiu na carenagem, ergueu o braço esquerdo, acenou para a torcida, mas interrompeu o ritual rapidinho porque tinha algo muito importante para fazer: tirar a joelheira, que estava incomodando.
Foi assim que Kimi Raikkonen viveu seus primeiros minutos como campeão mundial de Fórmula 1. Depois de uma prova épica, uma virada histórica, improvável, sua maior preocupação era uma joelheira. E a Ferrari entendeu que, a partir de agora, começa uma nova era em sua história. A ewra do Gelo.
Ou: a era do Homem de Gelo. Nunca antes, em mais de meio século de F1, um campeão se tornou campeão tão timidamente, tão naturalmente, tão surpreendentemente. Até a 20.ª volta do fervilhante GP do Brasil, quando as posições da corrida (ele em primeiro, Alonso em terceiro, Hamilton, depois de erros inacreditáveis, fora dos pontos) lhe davam o título por alguns minutos.
Os três candidatos à taça, em alguma das 71 voltas da corrida de Interlagos, ?estiveram? campeões. Alonso, da primeira à sexta volta; Hamilton, na sétima; Alonso de novo, da oitava à 19.ª; Kimi, na 20.ª; mais uma vez Alonso, nas duas seguintes; Kimi, da 23.ª à 25.ª; Alonso, da 26.ª à 31.ª; taça nas mãos de Raikkonen novamente entre as voltas 32 e 37; passando para Fernando, entre a 38.ª e a 49.ª; e em definitivo para o finlandês, da volta 50 até o fim.
Aos 28 anos, depois de dois vice-campeonatos, Kimi ganhou seu primeiro título no ano em que, pela primeira vez, guiou para a Ferrari. ?Curti a F1 neste ano mais do que em qualquer momento da minha carreira?, disse o finlandês.
Talvez ele nem tenha ficado sabendo que seu título só foi confirmado seis horas depois da corrida, porque três pilotos que chegaram à frente de Hamilton correram o risco de desclassificação – os dois da BMW Sauber e um da Williams, suspeitos de usarem gasolina resfriada além do que permite o regulamento.
Não, Kimi nem soube da gasolina gelada. Àquela altura, quando uma assessora da FIA confirmou o resultado da corrida, às 21h47, ele já estava tomando uma gelada. Afinal, começou a era do Gelo. E os outros que cuidem de derreter o rapaz, daqui para a frente. Em tempo: a McLaren decidiu apelar da decisão de inocentar os usuários da gasolina gelada. Mas o resultado só sai dia 10 de novembro.
