No Campeonato Brasileiro agora é assim: jogador reclamou com o árbitro, leva cartão amarelo. A ordem da comissão de arbitragem da CBF vem sendo cumprida quase à risca e, com isso, registrou-se um recorde no número de cartões amarelos nas três primeiras rodadas. E, claro, aumentaram também as reclamações de técnicos e jogadores, inconformados com a restrição à “liberdade de expressão”.

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De acordo com a comissão de arbitragem, nos 30 primeiros jogos deste ano os árbitros distribuíram 165 cartões amarelos, 37 por reclamação – e um jogador, Walter, do Atlético Paranaense, recebeu vermelho por ofender o árbitro. Em 2014, em igual número de partidas, foram 127 advertências, apenas 8 por reclamação.

A chiadeira é geral. De jogadores e técnicos, que também estão na mira e alegam que não podem abrir a boca. “Tomamos um gol irregular, falei para ele (Raphael Claus) que a bola saiu e ele disse: ‘Não pode falar nada. Se falar vou ter expulsar’. Como não pode falar? É complicado”, reclamou Vanderlei Luxemburgo, técnico do Flamengo, após a derrota por 2 a 1 para o Avaí, no domingo. Detalhe: até agora Raphael Claus foi o árbitro que mais deu cartões amarelos a jogadores por reclamação: foram seis em dois jogos.

Ricardo Oliveira também chiou contra o baiano Jailson Macedo Freitas, que deu 11 cartões no jogo entre Chapecoense e Santos. Apenas dois foram por reclamação e o santista critica a intolerância. “Eu não sou de reclamar, mas está demais. Você vai conversar educadamente com o árbitro, ele não te escuta e já dá cartão amarelo. É um critério muito rigoroso”.

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Gostando ou não, é bom jogadores e técnicos se adaptarem aos novos tempos. O rigor contra as reclamações não será relaxado, garantiu Sérgio Corrêa, presidente da comissão de arbitragem. “Os árbitros estão agindo dentro do que foi orientado”, disse o dirigente da CBF. “Árbitro que não cumprir a recomendação vai ser afastado”.

Ele explica que a violência também tem de ser coibida com rigor e diz já ser possível perceber uma melhora com a nova determinação: a média de faltas diminuiu. Segundo estudo da CBF, foi de 32,6 no Brasileirão do ano passado e está em 30,4 este ano. “É nível de Copa do Mundo”.

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Corrêa não quis revelar os nomes, mas informou que dois árbitros que apitaram no fim de semana vão tomar gancho na próxima rodada por ter permitido que jogadores reclamassem à vontade. Na circular enviada aos árbitros em 13 de abril, foi avisado que quem não atuar de acordo com as regras será “sumariamente afastado das programações”.

O chefe da arbitragem também entende que os treinadores não podem reclamar, pois foram alertados para a mudança de critérios. “Foi feito um congresso com os técnicos antes do Brasileiro e foi tudo explicado direitinho. E todos vão ter de se adaptar. Jogador joga, árbitro apita, técnico orienta, imprensa analisa e torcedor torce. É assim que tem de ser”.

TÉCNICOS CHIAM – No grupo de WhatsApp criado pelos treinadores, a maior parte das mensagens tem como tema no momento o rigor dos árbitros. Eles reclamam que, assim como os jogadores, não podem abrir a boca que são excluídos do jogo, mesmo que não façam críticas à arbitragem. Estão inconformados e preocupados.

“Os árbitros estão superprotegidos e nós (treinadores) extremamente expostos. Viramos vilões”, disse o técnico da Ponte Preta, Guto Ferreira, que no início da noite desta segunda-feira ainda não havia conseguido engolir a sua expulsão no domingo, no jogo contra o Cruzeiro.

Ele diz que foi excluído após fazer uma desabafo depois de situação de jogo de seu time, mas o quarto árbitro entendeu que era contra a arbitragem. “Aí, no intervalo, entrei no campo para falar com o (Anderson) Daronco que só desabafei com o meu banco e fui excluído”. De fato é o que consta na súmula como motivo da expulsão.

Segundo o técnico da Ponte Preta, Marcelo Fernandes, Gilson Kleina e Argel Fucks estão entre os mais preocupados com o comportamento dos árbitros. “Não tem liberdade de expressão. Isso não existe. É um direito meu discordar do árbitro. O que eu não posso é interferir no jogo ou ofendê-lo. E isso eu não fiz”, desabafou.