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Nilton Santos/CBF

Carlos Alberto Parreira deve
escalar Ricardinho hoje.

A seleção brasileira encerra a sua temporada 2004 hoje, às 19h (horário de Brasília), enfrentando o Equador, no estádio Olímpico Atahualpa, na altitude de Quito.

A partida, que é válida pela 11.ª rodada das Eliminatórias da Copa de 2006, pode marcar o final de um ano de bons resultados e da confirmação dos jogadores brasileiros no exterior – que pode ser sacramentada com a escolha de Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Adriano, Cafu ou Roberto Carlos como o melhor jogador do mundo pela Fifa. Entretanto, uma derrota serve para aumentar o "trauma" da altitude, tão decantado nas últimas Eliminatórias.

Esta história começa nas Libertadores dos anos 80 e 90, e tem como grande momento a derrota para a Bolívia, em La Paz, em 1993. O fracasso quase derrubou o técnico Carlos Alberto Parreira, encerrou a carreira de Antônio Carlos e Válber na seleção e impôs, mais que nunca, a marca do pragmatismo – dali em diante, a imposição física e tática se sobrpujaria à técnica.

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Talvez por isso, Parreira nem quer saber de falar nos problemas da altitude. "Precisamos esquecer essa história de jogar na altitude. O Brasil tem que entrar em campo, impor seu estilo, tocar a bola, cadenciar o jogo e correr até onde for possível, senão não venceremos", diz o treinador. Mas, em seu discurso, ele já manifesta a mudança que a seleção mostrará hoje – ao contrário da transição veloz que tem com Ronaldinho e Kaká, o time deve ter a cara de Ricardinho, que deve ser a principal novidade da partida.

Convocado para ocupar a vaga de Zé Roberto, o meia do Santos rapidamente ganhou a confiança de Parreira, que o considera um dos melhores jogadores do país – o treinador o comandou no Corinthians campeão da Copa do Brasil de 2002. Com ele, Renato e Juninho no meio-de-campo, o Brasil vai ter (além do que já faz) a posse de bola como principal objetivo. A idéia é cansar os equatorianos e guardar força para resistir aos noventa minutos.

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Mesmo assim, não se fala em "fantasma da altitude". "Quanto mais isso for alimentado entre os jogadores, pior é. Estamos evitando tocar no assunto com eles", afirma o fisicultor Moracy Santana. Mas, caso a seleção tenha problemas, foi convocado o médico Serafim Borges, que é mais realista. "Acima de 2300 metros, o atleta passa a ter uma queda no seu desempenho. Para quem não é esportista, aumenta ainda o risco de problemas cardiovasculares", explica. É tanta precaução que o ditado continua valendo: melhor prevenir que remediar.

Ronaldos têm na amizade um trunfo

Guayaquil – Jornalistas espanhóis que vieram à Guayaquil ficaram frustrados. Tinham certeza que o clássico de sábado entre Barcelona e Real Madrid seria capaz de provocar a rivalidade entre Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. As várias perguntas também sobre o prêmio anual para o melhor jogador do mundo para a Fifa não provocaram a discórdia. Ficou claro que a maior arma que o Brasil tem para derrotar hoje o Equador, está na amizade entre as duas maiores estrelas da seleção.

A dupla é avaliada por empresários do futebol em cerca de US$ 150 milhões. "Nós somos amigos sim. Estamos querendo fazer juntos o melhor para a seleção brasileira. Não tem rivalidade entre nós. Real Madrid e Barcelona é só no sábado. E mesmo tendo dinheiro e prestígio em jogo em relação ao melhor do mundo da Fifa, isso não nos afeta. Eu, inclusive, tenho o meu voto. É dele, do Ronaldinho Gaúcho", disse o sorridente Ronaldo.

Surpreso, Ronaldinho fez questão de abraçá-lo pelo importante apoio do também candidato à honraria. Os dois se tornaram mesmo amigos. Estão sempre juntos conversando, brincando na concentração no Equador. Ronaldo, 28 anos, está fazendo com Gaúcho, 24 anos, o contrário que Romário fez com ele. Nada de tapas na cabeça, provocações ou ironias gratuitas que o quase aposentado atacante fazia com ele quando chegou novo à seleção. Atitudes que só provocaram rancor. Tanto que depois de se firmar não só como jogador, mas como homem, Ronaldo deixou de falar com Romário que era o seu ídolo de adolescência.

A relação entre Gaúcho e Ronaldo está perto da ideal. Como o jogador do Barcelona deixou claro em entrevista a jornalistas espanhóis. "O Ronaldo é meu grande amigo na seleção. Me dá conselhos, força, incentiva. Sou cobrado por jogar mais no Barcelona do que no Brasil. Ele me disse para acalmar, que é questão de tempo, de cada jogo. Essa nossa boa convivência é importante para todos", resume Gaúcho.

Privilégio

Parreira sabe o que tem nas mãos, tanto que dará privilégio aos dois em campo hoje, na altitude de 2.860 metros de Quito. Eles não terão de ajudar na marcação. Principalmente Gaúcho será poupado. Os dois ficarão mais juntos na frente, com mais fôlego para decidir o jogo. "Quero os meus jogadores com pulmão na frente", resume Parreira que detesta dar detalhes táticos antes da partida.

Vivido, Ronaldo se safou bem das perguntas repetitivas sobre os esperançosos jornalistas locais que desejavam relembrar que nas últimas eliminatórias sul-americanas o Equador venceu o Brasil por 1 a 0. "Eu tenho certeza de que os equatorianos tentarão tirar uma casquinha da seleção brasileira para ganhar motivação para o resto das Eliminatórias. Mas não podemos deixar não", avisa o atacante.

Esperança do Equador é ataque

Guayaquil – Além da correria, dos 2.860 metros de altitude e do apoio maciço de sua torcida, o Equador quer utilizar uma outra arma para vencer o Brasil hoje à noite: a dupla de ataque formada por Kaviedes e Delgado, que, pela primeira vez, atuarão juntos desde que ajudaram a sua seleção a se classificar para a Copa do Mundo de 2002, na Coréia do Sul e no Japão.

Os donos da casa estão em quarto lugar na classificação, com 13 pontos. "A chave para que a gente tenha chances de superar o Brasil é não deixar que eles mantenham a posse de bola", diz o técnico Luis Fernando Suárez. E, para evitar isso, o treinador conta com muita disposição no meio-de-campo e saída rápida para o ataque. Os responsáveis por isso serão Edwin Tenorio, Edison Méndez e Patricio Urrutia. "Não podemos dar nenhum espaço a eles, porque são capazes de definir uma jogada de qualquer forma, de qualquer lugar. Para o Brasil não se pode dar a bola, porque senão você se complica. Eles estão acostumados a ser os protagonistas", comenta o zagueiro Iván Hurtado, empolgado, porque esteve na vitória contra o Brasil (1 a 0), nas Eliminatórias para 2002. "Foi um dia muito especial pra gente. Me lembro muito bem do povo comemorando aquele resultado. Ganhar do Brasil não tem preço."

Argentina de olho na liderança

Buenos Aires – A Argentina entra em campo contra a Venezuela, hoje, às 22h45, em Buenos Aires, desfalcada, mas acreditando na possibilidade de assumir a liderança das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo da Alemanha. Apesar da campanha surpreendente da seleção venezuelana no torneio, os argentinos confiam no retrospecto histórico – 13 vitórias em 13 jogos oficiais – e torcem por tropeço do Brasil contra o Equador, em Quito, para passar à frente da Seleção Brasileira. "Vamos ao ataque desde o primeiro minuto", diz o técnico José Pekerman, que faz sua terceira partida no comando do time argentino.

Para o jogo desta noite, o treinador não terá seus três zagueiros titulares – Ayala, lesionado, e Samuel e Heinze, suspensos. E deve armar a zaga com Coloccini e Milito. O ataque deve contar com Figueiroa e Saviola ou Delgado.

A Venezuela tem 13 pontos, empatada com Equador e Chile e atrás apenas de Brasil, Argentina e Paraguai. É a melhor campanha da história da Venezuela em eliminatórias.

Em Montevidéu, Uruguai e Paraguai disputam clássico desprestigiado.

Nos outros dois jogos, o Peru recebe o Chile, em Lima e a Colômbia encara a Bolívia, em Barranquilla.