Eduardo de Rose, presidente da Comissão Médica da Odepa, afirmou que os atletas estão usando o Pan de Toronto como laboratório para testar a eficiência do exame antidoping de olho no possível uso de substâncias proibidas na Olimpíada do Rio. Nesta entrevista exclusiva, ele ainda fala sobre os métodos de análise e sobre os controles que serão feitos nos Jogos de 2016.
Agência Estado – Com a tecnologia de hoje, quais as chances de um atleta conseguir burlar um exame antidoping?
Eduardo de Rose – É muito difícil. Se a gente considera a diferença de tecnologia que havia quando eu comecei, lá nos anos 1970, e a de agora, é do dia para a noite. Hoje nossa tecnologia é de ponta e a razão disso é que a Wada (Agência Mundial Antidoping, na sigla em inglês), quando entrou no sistema em 2000, passou a investir praticamente 70% dos recursos em investigação antidoping – tanto em descobrir substâncias quanto para descobrir métodos para encobrir substâncias. Isso não havia anteriormente, só havia um lado da coisa. As pessoas tratavam de descobrir para usar, mas não descobrir para despistar. Não havia apoio financeiro. Hoje, se a gente comparar com os anos 1970, o que levava 25 anos para você saber de uma substância e conseguir bloqueá-la, agora leva apenas uma semana. Porque você descobre e, em uma semana, todos os 30 laboratórios espalhados pelo mundo conseguem bloquear aquela substância. Nenhum sistema é perfeito, e eu diria que o antidoping também não é. Mas as chances são muito baixas. Hoje todas as portas estão fechadas.
AE – Como?
Eduardo de Rose – Por exemplo, até dois anos atrás os atletas iam às indústrias farmacêuticas buscar alguma coisa que pudesse aumentar a performance e que, todavia, não era ainda medicamento usável – e, portanto, não era controlado. De dois anos pra cá a Wada criou uma categoria nova, que a gente chama de categoria zero, que são medicamentos não comercializados. Então, hoje em dia, qualquer radical que permita uma melhora de um atleta já é testado antes e já se sabe como detectá-lo.
AE – Os exames aplicados são sempre os mesmos?
Eduardo de Rose – Sim, e é importante dizer que o grande teste para a Olimpíada é o Pan-Americano. Se você tem uma substância que você acha que a gente não detecta, em vez de usá-la direto na Olimpíada os atletas tentam ver se passa no Pan-Americano, para descobrir se detecta ou não. Esses exames aqui no Canadá têm uma tecnologia que eu dificilmente encontraria no mundo. Todos os laboratórios são credenciados, mas tem os melhores e os menos melhores. Este daqui é um dos três melhores do mundo.
AE – Qual o tipo de substância mais comum que se encontra nos exames de doping?
Eduardo de Rose – A Wada tem uma estatística que mostra que 60%, mais ou menos, são anabólicos esteroides. Depois vêm os estimulantes, com 20% ou 30%, varia de ano a ano, e depois vêm outras substâncias.
AE – O fato de o controle ser cada vez maior tem diminuído o número de casos?
Eduardo de Rose – Existe uma estatística de que a gente tem um caso a cada 100 controles, no mundo inteiro. Então, por exemplo, se nós olharmos aqui (no Pan) 1.700 exames, teria de ter 17 positivos. Mas, nas realidade, o que sai na imprensa como exame positivo não é o positivo que eu tenho; é um positivo meu tratado, mas de repente o cara tenha uma autorização para usar, de repente é algo que vem na carne e eu não posso impedir o cara de comer carne. Há inúmeras razões para que eu possa diminuir esse número.
AE – Exames de falso positivo são comuns?
Eduardo de Rose – Conheço poucos casos em que B não confirma A. Quando isso acontece, numa média de 1 pra 200 mil é a estatística que a gente usa, sempre há uma explicação. Mas é muito raro.
AE – O Brasil inaugurou recentemente o LBCD…
Eduardo de Rose – Eu não diria isso. O LBCD foi inaugurado nos Jogos Pan-Americanos do Rio e credenciando pelo COI naquela época como laboratório antidoping. Ocorre que há dois anos eles perderam a credencial. Credencial de laboratório é uma coisa que constantemente é estudada, há análises técnicas, e numa delas eles erraram algumas notas. Quero deixar claro que não é uma crítica ao laboratório, talvez seja uma crítica ao sistema brasileiro de liberação de coisas recebidas do exterior. A gente recebe uma amostra da Wada para testar, e às vezes fica no aeroporto até ser liberada por duas semanas, sem refrigeração. Então, quando chega no laboratório já está estragada. A chance de eles acertarem é menor, mas isso não interessa para a Wada. Ela entende que o laboratório do Brasil tem de ser submetido às condições brasileiras, não só às condições técnicas do laboratório. Tanto que uma das primeiras coisas que a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) tratou de fazer foi tentar agilizar o processo de entrada e saída de amostras para não complicar o controle. Esse laboratório perdeu a credencial há dois anos, e este ano a recuperou. Claro que é um prédio novo, com novos equipamentos, mas é o mesmo instituto de química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
AE – Em termos de tecnologia, é um laboratório de ponta?
Eduardo de Rose – Olha, eu vi e fiquei impressionado. É um laboratório do mesmo padrão dos internacionais. O que eles têm de equipamento, de área física, é fora de série. Tem todas as condições de fazer uma Olimpíada brilhante.