Jovem, porém já bem-sucedido, muitas vezes ídolo da torcida de um grande clube e dono de uma trajetória vitoriosa nas seleções de base. Esse é o perfil médio dos jogadores do time olímpico que buscará em 2016, no Rio, a inédita medalha de ouro do Brasil.
A base do time sub-23 que disputará os Jogos no próximo ano será praticamente que a mesma que foi convocada pela dupla Dunga e Rogério Micale para os amistosos contra República Dominicana e Haiti, em Manaus. Na primeira partida, na sexta-feira passada, contra os dominicanos, o Brasil goleou por 6 a 0. Na segunda-feira, mais um placar elástico: 5 a 1 contra o Haiti.
Os garotos da seleção olímpica já não mais tão meninos assim. Muitos atuam na Europa. Outros já tiveram a experiência de jogar no exterior e agora estão de volta ao Brasil. Vejam o exemplo de Vitinho, do Internacional. Com apenas 18 anos, ele despontou no Botafogo e despertou o interesse de Milan e Juventus após ser um dos destaques do torneio de juniores de Tirreno e Sport, na Itália. Assim que subiu para o profissional, foi eleito a revelação do Campeonato Carioca de 2013 e logo se transformou no principal jogador da equipe. Em agosto daquele ano, foi vendido para o CSKA Moscou, da Rússia, por 10 milhões de euros (R$ 31,6 milhões na época).
O atacante sofreu com a adaptação na Europa e em janeiro deste ano foi contratado por empréstimo pelo Internacional. No Sul, retomou o bom futebol dos tempos de Botafogo. É, ao lado de Valdivia, seu companheiro também de seleção olímpica, o artilheiro da equipe no Campeonato Brasileiro. Não à toa virou prioridade para a diretoria do time colorado renovar o contrato de empréstimo do jogador com o CSKA Moscou.
Há também casos de jogadores que não tiveram dificuldades para se adaptar ao futebol europeu e já brilham no exterior. Camisa 10 da Lazio, Felipe Anderson ganhou as manchetes na Itália graças às ótimas atuações que acumulou pelo time de Roma. De acordo com o jornal Corriere dello Sport, a diretoria estipulou que não venderá o brasileiro por menos que 100 milhões de euros (R$ 436,5 milhões). Na última janela de transferências do mercado europeu, o clube recusou as investidas de Chelsea, Manchester United e Juventus pelo meia.
Situação semelhante vive o lateral-esquerdo Wendell, do Bayer Leverkusen, da Alemanha. Criado nas categorias de base do Londrina, o jogador ganhou destaque no Brasil pelo Grêmio e foi vendido no ano passado por 6,5 milhões de euros (R$ 28,3 milhões). Titular do Bayer, agora entrou na mira do Real Madrid. Os dirigentes espanhóis pretendem, com a contratação de Wendell, fazer sombra ao titular Marcelo, que passou a reinar sozinho na lateral esquerda da equipe desde a saída de Fábio Coentrão para o Monaco.
O comando dessa geração de jogadores está com Dunga e Rogério Micale. Pelo planejamento definido pela CBF, Dunga será o treinador da equipe nos Jogos do Rio. Como o time olímpico atua nas mesmas datas da seleção principal, o técnico durante os amistosos têm sido Micale. As convocações são feitas pela dupla e, após cada jogo, Micale apresenta um relatório para Dunga com informações detalhadas sobre o desempenho de cada atleta.
“Trabalhamos em conjunto. Discutimos muito procurando definir um conceito de jogo, aquilo que acreditamos ser o futebol brasileiro e trocamos ideias. Com a coincidência de datas dos jogos dos dois times, a gente acaba definindo uma filosofia” explicou Micale.
Ele foi o treinador da seleção brasileira que disputou o último Mundial Sub-20, na Nova Zelândia, em junho. Micale assumiu o time depois que Alexandre Gallo fez a convocação e acabou demitido pela cúpula da CBF, que não concordou com a lista de jogadores.
Mesmo sem poder fazer modificações na convocação, Micale levou o Brasil à final, quando perdeu diante da Sérvia. Mais do que o segundo lugar, o que chamou a atenção foi o futebol ofensivo apresentado pela seleção no torneio.
Agora Micale tenta fazer o mesmo com o time olímpico e, para isso, promoveu jogadores que disputaram o Mundial Sub-20 para a equipe sub-23. É o caso de Gabriel Jesus, do Palmeiras. O garoto prodígio do Palestra Itália, de apenas 18 anos, mostrou o seu cartão de visitas nos amistosos contra República Dominicana e Haiti. Fez um gol em cada jogo e cavou o seu espaço na equipe.
Outro garoto sub-20 que está bem cotado com a comissão técnica é Gabriel, do Santos. Foram três gols nos amistosos: um no primeiro jogo e dois no segundo. Apesar da pouca idade, o atacante já é bem “rodado”. Ele tem 117 partidas pelo time principal do Santos e vive a melhor fase da carreira. Desde a volta de Dorival Júnior à Vila Belmiro, o garoto vem crescendo de produção e acumulando gols.
A experiência de jogadores como Vitinho, Felipe Anderson, Wendel, Gabriel Jesus e Gabriel é justamente um dos trunfos da seleção para a Olimpíada. Diante da pressão de jogar em casa, a expectativa é que os jogadores não “tremam”.
Medalha de prata nos Jogos de 1984, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o ex-zagueiro Mauro Galvão fez parte do time cuja base era o Internacional. Ele já tinha a experiência de jogar entre os profissionais desde 1979, mas muitos dos seus companheiros chegaram aos Jogos sem “bagagem”. “Algumas seleções já tinham jogadores com bastante experiência e isso pesava bastante”, lembrou.
Na semifinal, por exemplo, o Brasil enfrentou a Itália com atletas de nome como Franco Baresi, Daniele Massaro e Walter Zenga.