O Pinheiros não sabe o que é perder no NBB, o Novo Basquete Brasil, desde 7 de novembro do ano passado. As dez vitórias consecutivas mudaram o status da equipe da capital na briga pelo título. Com um terço do orçamento de Franca e Flamengo, que investem quase R$ 9 milhões por temporada, o técnico Cesar Guidetti se apoiou em uma análise detalhada para formar um grupo homogêneo dentro e fora de quadra.
Utilizando critérios técnicos, físicos e estudando minuciosamente o perfil dos atletas, o treinador contratou pelo menos dois jogadores de nível similar para cada posição. Com carta branca da diretoria e ajuda do auxiliar Nelsinho e do analista de desempenho, Fabrício Rocha, chegaram Renato Carbonari, Betinho, Isaac, Dawkins e Gabriel. O clube renovou ainda com peças fundamentais, como Marcus Toledo, Bennett e Ruivo.
“Procuramos montar um time mais homogêneo possível dentro da nossa condição financeira”, explicou Cesar. “Eles entenderam o que quero e estou contente pelas opções. Posso realizar tocas, mudar formações e isso me deixa à vontade.”
O processo de transformação do elenco, no entanto, contou com um episódio traumático. Principal jogador nas temporadas anteriores, o americano Holloway não teve o contrato renovado por uma decisão da comissão técnica. “Ele nos ajudou muito, mas decidimos mudar a filosofia de jogo”, disse o treinador.
A adaptação de alguns atletas à nova realidade foi outro obstáculo. O ala Betinho, por exemplo, estava acostumado com o protagonismo no Basquete Cearense e demorou um pouco para compreender o papel que teria de exercer no Pinheiros. Hoje, ele soma 21,8 minutos de média e está entre os cestinhas da equipe, com 13 pontos. “Tivemos alguns tropeços e usamos isso para apreender”, comenta Cesar. “Alguns jogadores que não estavam rendendo agora estão”, completou.
Aliás, os números pulverizados nas estatísticas ajudam a explicar como a divisão do protagonismo foi a chave para a obtenção dos resultados. O Pinheiros não depende apenas de um jogador. “Fica até mais difícil para neutralizar o nosso time”, comenta Marcus Toledo. “O grupo abraçou o espírito de que é primeiro o Pinheiros e depois o individual”, completou Ruivo.
Com um basquete solidário, o time acumula 15 vitórias em 18 jogos – perdeu para Paulistano, Minas e Corinthians. Na campanha, triunfos importantes sobre Flamengo (duas vezes) e Franca, em casa. (ainda voltarão a se enfrentar no Pedrocão, em março). “Acredito nesta equipe deste o início. Essas vitórias só confirmam que o nosso time tem condições de brigar no topo, dão confiança e mostram que estamos no caminho certo”, disse Cesar.
Ruivo prefere lembrar de uma derrota. Não foi pelo NBB, mas, segundo ele, serviu para ligar o sinal de alerta. Pela Copa Super 8, o Pinheiros foi eliminado pelo Botafogo. “Conseguimos enxergar o lado positivo daquela derrota. O nosso time era muito bom, estava muito bem na temporada, mas não era invencível. Entendemos que teríamos de entrar em quadra todos os dias determinados.”
Para os atletas, pensar em título ainda é algo distante. “Não podemos esquecer os times favoritos. O caminho é muito longo. Temos muita coisa para evoluir”, comenta Toledo. “Estamos com os pés no chão. Temos de matar um leão por dia, não deixar nenhum arrependimento, fazer tudo o que podemos”, completa Ruivo.
Basta acompanhar um único treino para perceber que dedicação não vai faltar para dar ao Pinheiros o primeiro título de NBB. Todos realizam hora extra em quadra ao ponto de, algumas vezes, ser necessário pedir para que pisem no freio. “Queremos muito, nos cobramos muito. O comprometimento deste grupo é enorme”, afirmou Betinho.