O meia-atacante Bernard se pronunciou nesta quinta-feira sobre o seu sumiço do Shakhtar Donetsk, que o levou a ser duramente criticado por Mircea Lucescu, técnico do time ucraniano. O jogador reconheceu que não se reapresentou na data combinada – 10 de agosto -, prometeu retornar ao clube, mas se defendeu ao dizer que está com medo da situação de instabilidade política na Ucrânia, o que o levou a adiar a sua viagem de volta, agora marcada para a próxima segunda-feira.

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“Confesso sim, que estou com receio de voltar à Ucrânia. Respeito os atletas que retornaram, mas é um sentimento muito particular e que envolve a minha vida e a de meus familiares. Contudo, pedi a meu agente que mantivesse contato com o clube, e definimos em conjunto, que, mesmo com todos esses problemas que o país vive e com meu receio explicado à diretoria do Shakhtar, vou voltar ao país no dia 18 de agosto”, escreveu, em nota oficial.

A ausência de Bernard na data combinada irritou Lucescu. O treinador, inclusive, declarou que o jogador não deu qualquer satisfação ao Shakhtar Donetsk nos últimos três meses, numa referência ao início do período em que ele foi liberado para defender a seleção brasileira na Copa do Mundo. O meia-atacante, então, reconheceu o seu erro, mas ironizou a declaração do seu treinador.

“Acertei com o Shakhtar meu retorno à Ucrânia para 10 de agosto. Assim, teria praticamente o equivalente a um mês de férias. O clube, ciente e de acordo com a data, me enviou passagem aérea datada do dia 10 de agosto, para que eu voltasse. Reconheço, portanto, que hoje, dia 14 de agosto, completarão quatro dias que não estou presente na Ucrânia, E isso, claramente não representa que estou três meses de férias. Este adiamento de minha apresentação tem motivos que considero muito sérios e quero explicá-los”, disse.

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Bernard, porém, tentou usar o momento de turbulência na Ucrânia para justificar o seu atraso e avaliou estar sendo “profissional” ao voltar ao time no início da próxima semana. “Estou retornando a um país que vive um conflito que tem tirado muitas vidas e não há qualquer garantia de término. Mesmo assim, sou um profissional que irá cumprir o contrato que assinou. Apenas coloquei na balança, além do profissionalismo, o medo de envolver a mim e meus familiares em um conflito tão perigoso pelo qual passa a Ucrânia. Quem não faria isso?”, questionou.

Contratado pelo Shakhtar Donetsk no meio do ano passado, Bernard se apresentou ao clube ucraniano pouco depois de conquistar o título da Copa Libertadores pelo Atlético Mineiro. E, em sua nota oficial, ele afirmou que chegou a um clube e a um país com um clima bem diferente do atual.

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“É de domínio público que a Ucrânia vive um conflito perigoso e que tem colocado vidas em risco. Vivo com toda minha família por lá desde o ano passado. Quando assinei meu contrato para atuar pelo Shakhtar, o país não vivia esse momento conturbado. Assinei o compromisso também porque havia a promessa de morar em uma cidade com estrutura excelente, trabalhar em um CT e jogar em um estádio com condições de 1º mundo”, disse.

A Ucrânia passa por um momento de forte tensão política com a Rússia. Donetsk é a cidade com maior predominância de manifestantes pró-russos, que querem a união com o país vizinho e enfrentam a resistência do governo central da Ucrânia. Até por isso, o Shakhtar não treina e nem joga na cidade, mandando as suas partidas em Lviv, o que foi lembrado por Bernard para explicar o seu medo.

“Os problemas não acabaram, tanto que o próprio clube teve de mudar de sua sede para seguir suas atividades em uma cidade a 700 km de distância. Hoje, não posso retornar para Donetsk. Em casa ficaram os meus pertences pessoais e de minha família. Todas minhas roupas, por exemplo, estão por lá. Objetos que levei da minha residência no Brasil hoje estão inacessíveis e não sei quando, e se, poderei um dia pegá-los de volta”, escreveu Bernard, agora esperado na Ucrânia no começo da próxima semana.