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Com marcas expressivas, Almir Júnior leva adiante tradição do salto triplo

O salto de 17,46 metros que Almir Júnior alcançou nos Estados Unidos, em sua primeira competição do ano no exterior, representa um alento para o combalido atletismo brasileiro. Com a segunda melhor marca indoor do mundo na temporada, o triplista de 25 anos já garantiu participação no Pan de Lima, no Peru, em julho, e no Mundial de Doha, no Catar, em setembro. Ele também prova que tem potencial para atualizar uma longa tradição brasileira em uma modalidade que já teve Nelson Prudêncio, Adhemar Ferreira da Silva, Jadel Gregório e João Carlos de Oliveira, o João do Pulo.

Obviamente ainda é cedo para comparações. Os grandes nomes são antepassados de uma linhagem que deve ser reverenciada. Por causa deles, Brasil rima com salto triplo, embora a língua portuguesa diga que não. Mesmo que a distância para esses ídolos seja apenas de centímetros, Almir ainda está no começo da pista. “Quando chega um saltador brasileiro, os rivais respeitam. É a nossa história. Poder levar esse legado é uma motivação. Não é pressão para mim. Isso me orgulha. Sou grato pelo que fizeram e acho que todos os brasileiros são”, diz o atleta da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa).

Almir Cunha dos Santos terminou a temporada passada em terceiro lugar no ranking da IAAF com 17,53m e o vice-campeonato mundial em pista coberta na cidade Birmingham, na Grã-Bretanha. Hoje ele é o segundo no ranking de 2019. É o melhor atleta brasileiro na atualidade, considerando-se todas as modalidades. Por tudo isso, recebeu convites para participar de 42 eventos internacionais. Mas só pensa no Pan e no Mundial de Lima. O objetivo principal, claro, são os Jogos de Tóquio, em 2020. “Eu durmo e acordo pensando nisso. Não tenho nenhum plano para depois dos Jogos”, diz.

Almir voltou ao Brasil depois de uma maratona. Seu voo de Cleveland foi cancelado por causa das condições climáticas. Com 12 horas de atraso, teve de pegar outro voo passando por Orlando e Cidade do Panamá até chegar a Guarulhos. Isso sem contar o frio de – 9º C.

O Estado encontrou o atleta nesta semana com a cara meio inchada por causa de uma soneca no meio da tarde no Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), em Bragança Paulista (SP). Cansado, mas de bom humor. Na sessão de fotos, ele até deitou na caixa de areia. Era um jeito simbólico de mostrar que tinha encontrado sua praia. Ali, a areia fininha que gruda na pele, agora era seu hábitat.

Explicando melhor. Durante quase dez anos, Almir foi atleta do salto em altura. Foi apenas mediano, não conseguiu resultados expressivos nem obteve o índice para os Jogos do Rio. Ele migrou para o salto triplo no fim de 2017 por influência direta do seu treinador, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca. Isso significa que ele tem apenas um ano na modalidade.

“Muitas pessoas estranham o fato de ele conseguir resultados com pouco tempo de treino. Mas ele já era atleta do salto. Já tinha uma base sólida. Mudar foi uma decisão corajosa”, diz Arataca. Por causa disso ele ainda tem muito o que melhorar. “Meu salto ainda é meio cru”.

Almir é bom de papo. Depois de morar quatro anos no alojamento do clube, hoje vive em um apartamento em Porto Alegre. Ele é terceiro-sargento da Marinha, recebe o Bolsa Pódio, categoria premium do Bolsa Atleta, treina na Sogipa e tem patrocínio das gigantes Nike e Petrobrás. Sabe que é uma exceção em um cenário de queda de investimentos públicos e privados no atletismo pós-Rio-2016.

Como atleta, ele encara a vida de tudo “não pode” desde os 15. O churrasco que ele próprio faz é de maminha, carne magra. Nada de costela. Ele não bebe e diz que nunca experimentou o sabor de liberdade da palavra “sextou”. Está terminando o curso (presencial) de Educação Física e começando outro (online) de Administração de Empresas. Pensa em iniciar outra carreira quando parar de saltar.

Filho de um taxista que montou uma frota e de uma dona de casa, Almir fez do atletismo um sonho possível para os meninos de Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso, terra onde nasceu.

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