A ambição da Alemanha é maior do que “apenas” faturar o pentacampeonato na Rússia e se igualar ao Brasil no número de títulos mundiais. No mesmo mês da Copa, a federação alemã de futebol (DFB) dará início a um projeto que promete ser por muito tempo o ápice da tecnologia e da ciência aplicadas ao futebol. É a Academia DFB, a nova sede e centro de treinamentos e estudos da federação em Frankfurt, que já vem sendo chamada de “Vale do Silício” do futebol.

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No país, o projeto é visto como um caminho natural para que Alemanha se consolide como a maior potência do futebol mundial. E a aposta é na inteligência. Serão investidos mais de 110 milhões de euros (cerca de R$ 450 milhões) para a construção de um complexo tecnológico e esportivo de mais de 54 mil metros quadrados, compostos por campos, academia, além de laboratórios e salas de aula

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A estrutura será erguida com patrocínio de uma empresa de software para gestão no terreno de um antigo hipódromo da cidade alemã. Como contrapartida para a construção da Academia, nove hectares de floresta nativa deverão ficar intactos e a federação criará um parque público, o “Parque Cidadão”, como parte do projeto.

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O conceito central da Academia DFB é o de “big data”, termo da informática utilizado para se referir ao armazenamento e manipulação de um grande conjunto de dados. “A Academia estará em rede”, informa a federação. “O projeto reúne especialistas de diferentes áreas, como psicologia, medicina, esporte e comunicação, para trabalhar estratégias de otimização de desempenho.”

O objetivo é o de ser o líder na análise digital da esporte, fator considerado como a nova etapa na qual uma comissão técnica terá de mergulhar. Para os alemães, estatísticas como posse de bola e a distância percorrida por um jogador em campo são dados “ultrapassados”. “O que se quer saber é a eficiência de um jogador. E não quanto tempo ele fica com a bola no pé”, disse um representante da DFB.

O projeto preocupa os demais países europeus, alarmados com o salto que o centro poderá dar aos alemães. Para especialistas da Uefa, a mudança pode ser da mesma dimensão que a revolução ocorrida nos anos 50, quando seleções adotaram preparadores físicos profissionais.

INTEGRAÇÃO – Um dos objetivos do trabalho integrado é tentar resolver qualquer problema dentro de campo. Um jogador com baixo aproveitamento em finalizações, por exemplo, poderá ter todos seus chutes a gol monitorados por um sistema que entregará relatórios com informações sobre força do chute, curvatura da trajetória da bola e posição do pé do atleta no momento do impacto. Com os dos nas mãos dos treinadores, a aplicação vai para o gramado e, para a federação, o caminho para a melhora se torna natural.

“A estrutura está sendo pensada para garantir que nossos melhores jogadores e nossas melhores mentes encontrem as melhores condições para trabalho”, afirma o presidente da federação alemã, Reinhard Grindel. “O resultado será o destaque no futuro, e muitos títulos para a Alemanha. Isso também via impulsionar o futuro, já que, quando um time joga com sucesso, as crianças e jovens passam a emular seus ídolos.”

Joachim Löw, o treinador da seleção alemã, acompanha de perto o desenvolvimento do projeto da Academia DFB. “A Academia será onde desenvolveremos jovens atletas e ideias para nosso futebol. O design, seus campos e áreas verdes dão uma ideia do que pode acontecer lá”, disse em carta aos moradores de Frankfurt.

O projeto, que a federação espera poder inaugurar em 2020, tenta atrair a atenção de empresas de tecnologia ao redor do mundo. No início deste mês, o diretor de projetos da DFB, Oliver Bierhoff, esteve na Califórnia visitando empresas do setor. “O intercâmbio é fundamental para que possamos manter as parcerias existentes e, ao mesmo tempo, obter novos insights. Digitalização, inovação e pesquisa estão se tornando cada vez mais importantes no esporte de primeira classe, e é isso que queremos”, disse Bierhoff.