Sob forte esquema de segurança e em plena crise social e política, a França recebe a partir desta sexta-feira o terceiro maior evento esportivo do mundo: a Eurocopa de 2016. Realizado sete meses após os ataques de Paris e Saint-Denis, que deixaram 130 mortos, o maior torneio de seleções da Europa começa com o jogo França x Romênia, às 16 horas (de Brasília), no Stade de France, em Saint-Denis – o mesmo alvo de ataques suicidas de jihadistas em 13 de novembro. Pressionado pelo alto risco de novo ataque do Estado Islâmico, o governo já lançou até aplicativo de alerta de atentados.

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A neurose com a segurança pública é onipresente na capital e nas principais cidades-sedes do torneio. Nesta quinta-feira, véspera da abertura ao público, o Stade de France mais parecia uma versão moderna das fortalezas medievais. Cercado por grades altas, o estádio também recebeu centenas de metros de gradis de metal que servirão de barreiras policiais para revista dos torcedores. Desde as saídas dos metrôs e ônibus, serão pelo menos três “check points” para garantir que nenhum assassino ou suicida possa se infiltrar entre os torcedores, como aconteceu em 13 de novembro.

A presença impressionante das forças de ordem nas ruas também ficou clara nos arredores do Champ-de-Mars, o parque em que está localizado a Torre Eiffel. Mais de cinco horas antes do show do DJ David Guetta aos pés do monumento, no mesmo local em que se situará a maior fan-zone do país, todo o bairro estava sitiado por barreiras ao trânsito e por pontos de “pré-filtragem” e de “filtragem” de transeuntes e fãs. Em toda a região, dezenas de viaturas marcavam presença.

É nesse espírito de alta vigilância e de preocupação, com pouco espaço para a festa do esporte que a Eurocopa tem início. Até aqui, há mais autoridades policiais do que esportivas para comentar o evento. “Mobilização total do Estado, das cidades-sedes e dos organizadores em um verdadeiro espírito de equipe, em verdadeira cooperação”, afirmou Bernard Cazeneuve, ministro do Interior, responsável pela polícia. “Mais de 90 mil pessoas vão assegurar a segurança da Euro2016”.

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Esse é apenas um dos números que impressionam quando o tema é prevenção de atentados. Dos 90 mil, 77 mil serão policiais e agentes de serviços secretos mobilizados em operações de inteligência. A eles se somam 10 mil militares armados de fuzis que patrulham pontos turísticos, estações ferroviárias, aeroportos e sistemas de transporte. Tudo para evitar riscos aos 2,5 milhões de torcedores esperados nos 10 estádios que receberão os clássicos europeus, além de 7 a 8 milhões nas fan-zones espalhadas pelo país.

O problema é que não só terroristas islâmicos tiram o sono das autoridades às vésperas do torneio. Uma onda de greves promovidas pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), o maior sindicato do país, e mobilizações setoriais em áreas como linhas férreas, voos da Air France e até coleta de lixo visam pressionar o governo de François Hollande a ceder e abandonar um projeto de lei de reforma do mercado de trabalho.

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Não bastasse, pelo menos cinco jogos da primeira fase são considerados desde já como “sensíveis” pelas autoridades, em razão do risco de conflitos entre hooligans. Entre os confrontos estão Inglaterra x Rússia, marcado para este sábado, em Marselha.

Em meio a tantas preocupações extracampo, são poucos os franceses que já entraram no espírito da competição. Por ora, em clima de depressão pós-enchentes, são raros os que vestem a camiseta azul ou empunham as bandeiras tricolores em Paris. Nada a ver com as lembranças da última edição do evento realizada na França, em 1984, com vitória dos donos da casa, comandados por Michel Platini e Tigana.