A saúde financeira do Santos não é boa já há algum tempo. Entre 2012 e 2015, foram três anos seguidos de prejuízos milionários e a projeção para a atual temporada não é nada confortável. Depois de terminar 2016 com um superávit de pouco mais de R$ 54 milhões, o clube tem em 2017 uma conta indigesta: são R$ 140 milhões em contas a pagar, mas apenas R$ 18,4 milhões de valores a receber.
“A situação é preocupante. Mais uma vez, o Santos vai ter de vender atletas para fazer o caixa deste ano”, avaliou Pedro Daniel, executivo de gestão esportiva da BDO, empresa de consultoria esportiva, que analisou as finanças do Santos dos últimos cinco temporadas a pedido do Estado. “O Santos está muito dependente de novas receitas. O superávit de 2016 está longe de parecer ser uma solução para as finanças do clube”.
No ano passado, um quarto da receita do clube veio da venda de jogadores – principalmente da negociação de Gabriel com a Internazionale e de Geuvânio com o Tianjin Quanjin, da China. Em 2013, quando o clube acertou a ida de Neymar para o Barcelona, a porcentagem da receita correspondente a esse tipo de negócio (venda de atletas) foi de 33%.
O problema é que a venda de jogadores não garante a quitação dos débitos do Santos. Em 2016, por exemplo, mesmo com esse artifício rendendo R$ 72,8 milhões e com mais de R$ 140 milhões recebidos por causa de contrato de transmissão de jogos, o clube terminou o ano com pouco mais de R$ 1 milhão em caixa.
“O Santos está refém de receitas como a negociação de jogadores. Apesar de ser uma fonte importante de recursos para o clube, ela não é recorrente”, explicou Pedro Daniel. “O melhor para o fluxo de caixa de um clube é que ele tenha contratos que tragam dinheiro recorrente, como patrocínio, bilheteria e contratos com a televisão”.
O presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, reconhece a situação delicada das contas e dívidas e diz que a realidade obriga o clube a agir como um “exportador de pé de obra”. “O clube tem dívidas históricas que vão levar anos para liquidar. O (departamento) financeiro tem de parir um elefante por dia. Se zerássemos as contas e partíssemos disso, a venda de jogadores não seria fundamental, mas no atual cenário, ela é”.
Para além da venda de jogadores, ele explica que a estratégia para melhorar a situação financeira do Santos a médio e longo prazos é uma postura de austeridade. Para Modesto Roma Júnior, os gastos com o elenco, por exemplo, de R$ 4 milhões em folha de pagamento, não vão além do necessário.
“Temos uma folha equilibrada. Não dá para fazer uma gestão irresponsável. Não dá para pagar qualquer salário nem comprar qualquer jogador. A herança (das dívidas) é o que temos, e por isso nos preocupamos em ter uma folha equilibrada na nossa gestão”, disse.
O presidente afirma que seu maior desafio é garantir novas receitas ao clube. Segundo ele, o Santos vem se esforçando para melhorar contratos de patrocínio e transmissão, além de aumentar lucros com bilheteria.
Os mandos de jogos no estádio do Pacaembu, em São Paulo, onde o apelo de público é maior que na Vila Belmiro, já vêm demonstrando essa nova estratégia.