O chamado “Clássico-Rei”, que completou 100 anos de existência em dezembro do ano passado, viverá um novo capítulo histórico neste sábado, quando Ceará e Fortaleza entrarem em campo para o confronto que começa às 19 horas, na Arena Castelão. O mais importante duelo cearense será o primeiro entre os dois rivais na elite do Campeonato Brasileiro desde 1993.

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Naquela edição da competição realizada há 26 anos, os dois clubes mediram forças por duas vezes e o Ceará levou a melhor em ambas, com vitórias por 3 a 1 e 1 a 0. Os triunfos, porém, só tiveram maior peso no aspecto da rivalidade regional, pois as duas equipes foram rebaixadas para a Série B ao final de suas campanhas e somente agora, em 2019, se reencontram na primeira divisão nacional.

Para os dirigentes dos dois clubes, a reedição deste clássico só foi possível por causa do equilíbrio financeiro que as suas gestões conseguiram conquistar nos últimos anos. Com as contas em dia, o Ceará obteve o acesso à Série A em 2017 e se manteve no primeiro escalão do futebol do País em 2018, quando o Fortaleza também se sagrou campeão da Série B com folga sob o comando de Rogério Ceni, em título assegurado um ano após o ex-goleiro ser anunciado como novo técnico do clube.

“Eu vejo o clássico cearense na elite com muita alegria e com muita honra. Estamos no mais alto nível do futebol mundial porque o Campeonato Brasileiro está entre as seis maiores ligas nacionais do mundo, então isso é muito significativo. E 10% dos clubes da Série A são do nosso estado (Ceará) e isso é fruto de um trabalho das gestões dos dois clubes, que buscaram sempre privilegiar o equilíbrio financeiro e honrar os seus compromissos. E isso se refletiu com o resultado esportivo dentro de campo”, afirmou Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, em entrevista ao Estado.

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A mesma linha de pensamento do mandatário foi compartilhada por Marcelo Segurado, gerente de futebol do Ceará, que vê os dois clubes pavimentando o caminho para poderem se tornar em um futuro próximo as principais potências entre os clubes do Nordeste.
“Com certeza isso (o fato de o clássico cearense voltar a ocorrer na Série A) é mérito das gestões. A parte esportiva vai ser um reflexo direto desta parte de organização administrativa, de planejamento, de saneamento das dívidas, da forma de conduzir o clube, e isso tem feito com que o Ceará e o Fortaleza venham tendo este sucesso no cenário do futebol brasileiro. E com certeza, se continuarem desta forma, nos próximos anos os clubes estarão no topo do futebol nordestino e com certeza entre os melhores do Brasil”, previu o executivo ao Estado.

E a gestão sustentável dos dois maiores times cearenses pôde ser traduzida em números depois que os sete principais clubes do Nordeste divulgaram neste ano os seus balanços financeiros de 2018. A publicação destes informes, exigência anual obrigatória estabelecida em um dos artigos da Lei Pelé, apontou que hoje o Ceará e o Fortaleza são as duas equipes menos endividadas neste G7 desta região do Brasil. No ano passado, a agremiação alvinegra registrou um passivo total (conjunto de todas as despesas) de pouco mais de R$ 13.011.519,00 e os tricolores cearenses de R$ 32.335.928,00.

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Estas cifras podem parecer altas em um primeiro olhar, mas são muito menores dos que as oficialmente declaradas como dívidas por Náutico (R$ 284.527.291,00), Bahia (R$ 196.442.000,00), Sport (R$ 193.439.749,00), Vitória (R$ 105.097.000,00) e Santa Cruz (R$ 53.547.857,00) em seus informes financeiros do ano passado.

“O Ceará é, com certeza, o clube que tem a menor dívida entre os 20 times da Série A. E temos uma arrecadação em que esta dívida está dentro do contexto de nossas despesas. Há uma responsabilidade muito grande em relação a isso, aqui a administração é feita com os pés no chão. Aqui todos os salários estão em dia, de jogadores, comissão técnica e funcionários, e ainda pagamos antecipado”, afirmou Marcelo Segurado, que depois destacou: “O Ceará vem caminhando a passos largos para ser a principal equipe em termos de organização no futebol nordestino”.

Neste exercício das contas de 2018, o Ceará também declarou superávit pelo quarto ano seguido, com um lucro total de R$ 3.013.201,96 neste período de 12 meses, sendo que o clube ainda registrou o maior patrimônio líquido de sua história, contabilizado em R$ 815.696,26.

CEARÁ ALEGA DÍVIDA DA CBF – Marcelo Paz garante que o Fortaleza está hoje com as suas contas equacionadas, mas o clube confirmou no seu balanço financeiro de 2018 um déficit de R$ 1.503.071,00. O dirigente, porém, apontou que isso só ocorreu porque duas receitas que estavam previstas no seu orçamento do ano passado não foram pagas ao clube até dezembro. E, de acordo com o dirigente, um destes valores, de R$ 630 mil, é referente a uma dívida da CBF que ele diz que ainda não foi honrada pela entidade.

“Esse endividamento no final do último ano foi devido ao não pagamento da última parcela da Caixa Econômica Federal (em contrato de patrocínio), que estava previsto para entrar e só entrou em fevereiro, e também ao não pagamento da última parcela da nossa cota de transmissão de TV que a CBF não pagou a 18 clubes da Série B. Só Goiás (hoje na elite nacional) e Coritiba, que tinham contratos diferentes dos demais, receberam essa última parcela. Os outros 18 clubes não receberam. Eram dez parcelas de R$ 630 mil cada. Foram pagas nove, mas a última não foi paga”, apontou o presidente do clube, reconhecendo também que não tem sido fácil terminar os meses no azul.

“O Fortaleza está com as contas e os salários em dia, assim como pagou as premiações pelas últimas conquistas que tivemos, mas nós pagamos as contas com muita dificuldade, bem no limite mesmo, não tem muita sobra de caixa não”, reforçou.

CBF NEGA PENDÊNCIA – Procurada pelo Estado, a CBF informou na noite desta sexta-feira, por meio de sua assessoria, que, no entendimento da entidade, não há valor pendente para repasse da confederação ao Fortaleza referente aos direitos de TV da Série B de 2018. Questionada pela reportagem sobre o motivo de o presidente do clube cearense ter apontado a existência desta suposta dívida, a assessoria do órgão nacional preferiu não entrar em detalhes sobre o assunto e o qualificou como “complexo”.

EM CAMPO – O clássico deste sábado deve marcar a estreia do meia Lima, que foi contratado no mês passado pelo Ceará. Ele pertence ao Grêmio, estava no Al-Wasl, dos Emirados Árabes, e foi emprestado ao time cearense até o fim desta temporada. Já o volante William Oliveira, mesmo após se recuperar de lesão, tem poucas chances de ser utilizado no jogo na Arena Castelão, pois o técnico Enderson Moreira vê o atleta ainda fora da condição ideal depois de voltar aos treinos nesta semana.

Pelo lado do Fortaleza, Rogério Ceni poderá escalar Romarinho entre os titulares depois de o atacante ter ficado dois dias sem treinar devido a uma virose. Ele trabalhou no campo nesta sexta e mostrou que superou o problema de saúde.

Os dois rivais cearenses hoje estão empatados com 14 pontos no Brasileirão, sendo que o Ceará, 13º colocado, só está à frente do adversário, 14º da tabela, pelo seu melhor saldo de gols – as duas equipes somam quatro vitórias, dois empates e seis derrotas cada em suas campanhas.