A política agressiva de patrocínios adotada pela Caixa Econômica Federal nos últimos anos no futebol brasileiro é uma iniciativa única em nível mundial quando se trata de bancos públicos. Nos países mais desenvolvidos, por exemplo, eles nem passam perto dos clubes, até por restrições legais. É o que ocorre na Europa, na emergente liga norte-americana e até mesmo na América do Sul. Banco estatal colocando dinheiro em clubes de futebol é situação mais comum em países em que as diretrizes governamentais prevalecem sobre as tendências de mercado, como China e Catar.

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No meio da semana, a Caixa anunciou seu pacote de patrocínio aos clubes brasileiros para este ano. Serão R$ 83 milhões distribuídos por 10 clubes, valor que deverá aumentar porque está em curso a negociação para renovar o acordo com o Corinthians, que vence no final de fevereiro (R$ 30 milhões). E Vasco e Atlético Mineiro ainda sonham em entrar para a turma. Além disso, haverá o desembolso de mais R$ 18 milhões em patrocínio a várias competições como Copa Verde, Copa do Nordeste, Campeonato Brasileiro das Séries B e C e competições de futebol feminino.

Voracidade assim – praticamente metade dos clubes da Série A terá o logo do banco na camisa -, vê-se atualmente somente na China. Lá dinheiro não falta e o governo colocou em ação plano ambicioso para tornar o futebol do país uma potência. Os bancos, claro, foram “chamados” a contribuir.

Um deles, o Citic Group, está à frente do Beijing Guoan, que tirou o meia Renato Augusto do Corinthians pagando salários de R$ 2 milhões mensais – o volante Ralf também foi para lá. O ICBC, Industrial and Commercial Bank of China, também está a postos para colocar seus yuans no futebol. O Citic, fundado em 1979 pelo então líder chinês Deng Xiaoping, não divulga dados sobre investimentos no futebol. Mas, segundo a revista Fortune, apresentou lucro de R$ 19 bilhões em 2014.

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No Catar, sede da Copa do Mundo de 2022, o Qatar FC é patrocinado pelo Qatar Nacional Bank (QNB), que tem 50% de seu capital público. É comum a equipe ter jogadores brasileiros no elenco. O treinador é Sebastião Lazaroni, que comandou a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1990.

ESTRATÉGIA – A Caixa patrocina times de futebol desde 2012, ano em que firmou seu primeiro contato com o Corinthians. Já chegou a ter sua marca exposta em 15 clubes simultaneamente. E virou-se para o esporte mais popular do País como estratégia de marketing. “Em que pese a Caixa ter grande presença em esportes olímpicos e competições amadoras há décadas, isso não dava exposição muito grande à marca. Então, entendemos que precisávamos ser mais agressivos e partimos para os times de futebol”, afirmou o superintendente nacional de promoções do banco, Gerson Bordignon.

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Ele diz não concordar com quem condena o investimento do banco no futebol pelo fato de ser público. “É uma crítica equivocada. Quando a Caixa patrocina o futebol, eu não entendo que seja uma estatal. É um banco comercial como um outro qualquer, tem toda a gama de produtos que um banco privado tem. Precisa competir em igualdade de condições em um campo altamente competitivo como esse”.

Bordignon também rebate quem vê influência política na escolha dos clubes contemplados – Atlético Mineiro e Cruzeiro entraram este ano no rol dos patrocinados e comenta-se que foi fruto do empenho do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). “Nosso foco são os grandes mercados, mercados de interesse da Caixa, clubes de grande torcida”, disse, garantindo que estes são os critérios considerados.

Outro banco público a investir no patrocínio de clubes de futebol é o gaúcho Banrisul, que investe em Internacional e Grêmio. Segundo o mercado, o banco colocou R$ 16 milhões em cada clube no ano passado.