O Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD) tem sentido o efeito negativo da suspensão da Autoridade Brasileira de Controle de Doping (ABCD) estabelecida pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Sem o órgão ligado ao Ministério do Esporte, o laboratório – construído ao custo de R$ 188 milhões e ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – perdeu o seu segundo maior cliente em potencial e encontra-se subutilizado, sofrendo para se sustentar desde o fim dos Jogos Olímpicos.
“Retirando-se vários custos periféricos, a quantidade mínima de análises para manter o laboratório seria de 16 mil amostras/ano”, explica o professor Francisco Radler, diretor do LBCD. E complementa: “O custo de manutenção dos equipamentos, compra dos insumos e pequena parcela da força de trabalho precisaria ser, aos preços atuais, de aproximadamente R$ 940 por amostra de urina (análise de umas 600 substâncias por 4 métodos diferentes)”.
Enquanto o LBCD tenta trabalhar com os números mínimos e com recursos do governo federal para continuar funcionando, alguns laboratórios internacionais fazem de 35 a 45 mil análises por ano e, com a alta demanda, são capazes de oferecer preços mais atrativos. É o caso do UCLA Olympic Analytical Laboratory, de Los Angeles, que tem a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) entre os seus clientes.
O futebol brasileiro testa 6.500 amostras por ano – 1.500 são enviadas para o laboratório de Lausanne, na Suíça, e as demais transportadas aos Estados Unidos. A cada 15 dias, um médico da equipe leva o material até o laboratório americano, ao custo de US$ 130 (R$ 405 na cotação atual) por amostra no perfil exigido pela Wada para a modalidade, com o acréscimo do valor de passagem aérea e hospedagem para uma pessoa. Na Europa, o preço cobrado é de 145 francos suíços (R$ 448).
“O custo do nosso laboratório sempre será maior que o custo do laboratório estrangeiro. Mas não posso trabalhar com números tão diferentes”, diz Fernando Solera, presidente da comissão de controle antidoping da CBF. Segundo ele, a diferença de custo chegaria a R$ 1,8 milhão caso o futebol brasileiro optasse pelo LBCD hoje.
A negociação está em andamento desde o ano passado e, na última reunião entre Radler e Solera, na semana passada, alguns avanços foram feitos. Com o descredenciamento do laboratório colombiano desde 20 de fevereiro, o dirigente da CBF vê um caminho aberto para que todas as análises da América do Sul sejam levadas para o LBCD. Com o aumento do volume de testes, a proposta do laboratório brasileiro chega a R$ 616 por amostra.
“Essa diferença eu consigo administrar porque tem o preço da passagem, da viagem e do desgaste físico do médico que viaja com o material. Em uma reunião de diretoria, eu consigo mostrar que o laboratório brasileiro pode ser utilizado pela CBF”, diz Solera. O encontro da cúpula da entidade deve ocorrer nesta semana, no Rio. “Tudo agora é uma questão do departamento financeiro da CBF colocar no papel e entender que vale a pena apostar no laboratório brasileiro”, acrescenta.
Já Radler aguarda a definição dos clientes para que o LBCD possa aumentar o fluxo de trabalho e se consolidar como um laboratório de referência. “A proposta do LBCD encontra-se com a CBF e a ABCD para avaliação. A Wada e seu escritório regional têm insistido para que o LBCD absorva as amostras da América do Sul e mesmo Central. Isso depende apenas de um acerto do preço a ser pago. Confio que ABCD e CBF chegarão a um consenso que permitirá ao governo federal, por meio do Ministério do Esporte, manter o LBCD funcionando.”