No dia da Padroeira do Brasil, não podia mesmo dar Argentina. Com uma atuação consistente no primeiro tempo, e mais raçuda do que técnica no segundo, o Atlético arrancou um empate em 2 x 2 com o River Plate, ontem, na Baixada, e garantiu uma vaga nas quartas-de-final da Copa Sul-Americana. O resultado, suficiente por causa da vitória por 1 x 0 no jogo de ida, em Buenos Aires, faz do Rubro-Negro o único representante brasileiro restante na competição.
Assim como fez o River no jogo de ida, o Atlético assumiu o papel de mandante e partiu para cima desde o início. Aproveitando lances pela direita, quase sempre com Jancarlos, e alguma indecisão da zaga portenha, o Rubro-Negro chegou perto da meta do desajeitado Lux três vezes antes dos 15 minutos.
A pressão por pouco não redundou em gol.
À medida que o jogo se acalmou, o River colocou as mangas de fora. Embora tímida no ataque, a equipe de Daniel Passarella começava a soltar o jogo de toques tipicamente argentino, sempre a partir dos pés do habilidoso Gallardo.
Mas o Atlético ainda era melhor e começou a definir a partida numa jogada de raça de Dênis Marques, que ganhou na corrida do zagueiro Nasutti e perdeu o gol. Na seqüência Ferreira sofreu falta, cobrada com categoria por Jancarlos, aos 40 minutos: 1 x 0. Sair em vantagem para o intervalo era tudo que o Atlético precisava. ?Só não podemos recuar demais?, pedia o técnico Vadão, no intervalo.
Mas nem sempre a teoria se aplica na prática. No segundo tempo, Passarella lançou uma de suas estrelas, o atacante Higuaín. E, precisando de dois gols, colocou o time à frente, exercendo pressão desde o início. Deu resultado: logo aos 4 minutos, Michel cometeu pênalti bobo numa disputa na área. Gallardo cobrou bem e empatou.
O gol desestabilizou o Furacão, que mostrou nervosismo e errou passes em demasia. O River corrigiu a marcação por onde Jancarlos fazia a festa e ganhou mais habilidade quando entrou Belluschi, outro titular que vinha sendo poupado.
Vadão tentou acalmar o time com a experiência de Paulo Rink, que substituiu Marcos Aurélio. O jogo ficou parelho, brigado no meio-campo, com leve superioridade do, agora, time titular do River. Até que Jancarlos apareceu de novo, cobrando falta com extrema precisão, fazendo 2 x 1. A sensação de alívio para os rubro-negros durou só dois minutos – aos 39, o zagueiro Gerlo empatou de novo, de cabeça.
O drama dominou os minutos finais. Os atleticanos se fecharam e passaram por alguns sustos – Cléber teve que fazer duas defesas, uma delas milagrosa. Mas era dia de Brasil, agora vermelho e preto na Sul-Americana.
Torcida rubro-negra faz a diferença na Baixada
Cahuê Miranda
Foi mais uma noite inesquecível para os atleticanos. Totalmente lotada, a Baixada estava preparada para uma grande festa. Faixas, fogos, sinalizadores e um imenso mosaico formando o símbolo do clube faziam do estádio o palco perfeito para uma decisão.
Eufórica, a torcida foi o combustível do time rubro-negro. E além de toda a paixão pelo Atlético, o nacionalismo foi mais uma maneira de incentivar a equipe. Na entrada do time em campo, uma imensa bandeira do Brasil lembrava que era o Furacão a última esperança do país na Copa Sul-Americana.
Agradecidos, os atletas trataram de fazer dentro de campo um espetáculo à altura do visto nas arquibancadas. Expectativa, euforia e tensão foram os ingredientes de uma partida eletrizante.
No primeiro tempo, o Atlético foi dono da partida.
O gol de falta de Jancarlos deixou a ambiente ainda mais favorável ao Rubro-Negro, com a galera explodindo de alegria e fazendo o time voltar aos vestiários sob uma ensurdecedora ovação.
As emoções da segunda etapa foram ainda mais fortes.
O gol do River Plate, logo no início, transformou a alegria em nervosismo e apreensão.
Foi assim por mais de meia hora até que novamente Jancarlos fez o Caldeirão explodir.
O que ninguém esperava era que os argentinos teriam força para reagir. Porém, uma falha da defesa atleticana permitiu o empate do River e garantiu mais intermináveis dez minutos de muito sofrimento.
Mas a mística da Baixada não seria quebrada e o Atlético mostrou porque é praticamente imbatível em decisões dentro de casa. Na base da raça, segurou o ímpeto dos portenhos e garantiu a histórica classificação.
Após a partida, os jogadores não esqueceram de agradecer a ajuda do povão. ?A Arena cheia é emocionante. A torcida tem uma importância muito grande na nossa classificação?, ressaltou Paulo Rink.
Dênis Marques também destacou a força da galera e aproveitou para mandar um recado aos próximos adversários. ?Foi uma vitória maravilhosa. Quando nossa torcida lota a Baixada, pode esperar que vem coisa boa?, concluiu.
Vitória pode embalar time
?Quando se vence o River Plate em um confronto duplo, tem que se acreditar que é possível bater qualquer adversário.? A frase do técnico Vadão mostra como a classificação para as quartas-de-final da Copa Sul-Americana foi importante para o Atlético.
Além de deixar o Furacão embalado no torneio internacional, a histórica conquista deixa o time com o moral alto também para a disputa do Brasileirão. ?Nossa situação continua complicada e temos que ter a mesma postura que tivemos hoje contra o Palmeiras?, alertou Vadão, lembrando do jogo do próximo domingo.
Sobre o jogo de ontem, o treinador avaliou que a pressão sofrida no final e os erros que permitiram os gols do adversário são normais quando se enfrenta uma equipe da qualidade e tradição do River. ?Fizemos uma partida muito boa. É muito difícil jogar contra uma equipe do nível do River e fazer que em nenhum momento sobre espaço. A gente faz o possível, mas estamos jogando contra um adversário de alto nível. Sempre vai ser sofrido?, destacou Vadão.
Os jogadores também ressaltaram que a eliminação do River vai dar muita confiança à equipe. ?Não foi fácil, a gente batalhou, suou, lutou muito. Isso vai motivar demais a nossa equipe, pois agora o Atlético é o único representante brasileiro na Sul-Americana?, concluiu Paulo Rink.
Sequência
E o próximo adversário do Rubro-Negro na Sul-Americana é o Nacional, do Uruguai. Ontem, em Buenos Aires, o time uruguaio eliminou o Boca Juniors. No tempo normal, o Boca fez 2 a 1, mesmo placar que o Nacional fez no Uruguai, e a decisão da vaga foi pros pênaltis. E aí, o Nacional levou a melhor e venceu por 3 a 1.
Copa Sul-Americana
Local: Arena da Baixada, em Curitiba.
Árbitro: Carlos Torres (PAR).
Auxiliares: Ricardo Grance e Manuel Bernal (PAR).
Gols: Jancarlos, aos 40 do 1.º tempo; Gallardo, aos 4?, Jancarlos, aos 37? e Gerlo, aos 39?, do 2.º tempo.
Cartões amarelos: Domingo e Nasutti (RP), Jancarlos (CAP).
Renda: R$ 511.037,50.
Público: 20.887 pagantes (total: 22.558).
Atlético 2×2 River Plate
ATLÉTICO
Cléber; Jancarlos, Danilo, João Leonardo e Michel; Erandir, Marcelo Silva, Cristian (Alan Bahia) e Ferreira (Válber); Denis Marques e Marcos Aurélio (Paulo Rink). Técnico: Oswaldo Alvarez.
RIVER PLATE
Lux; Tuzzio, Nasutti, Gerlo e Mareque; Ferrari (Antonio), Domingo, Zapata (Belluschi) e Gallardo; Farías e García (Higuain). Técnico: Daniel Passarella.