História pra contar, escudo reconhecido pelo público, tradição, títulos, camisa cultuada pelos seguidores. Orgulhos que somente metade dos participantes do Campeonato Paranaense de 2008 poderão ostentar. O Estadual do ano que vem terá um recorde de oito clubes ?híbridos? ou recém-fundados, que ainda lutam para construir uma identidade semelhante à dos outros 50% ?tradicionais?.
O Real Brasil é o maior símbolo da fisionomia indefinida do futebol local. O clube do empresário Aurélio Almeida já chamou-se Império Toledo e Império do Futebol, sempre trocando de escudos e cores (vermelho, depois verde, agora azul e amarelo). A equipe, caracterizada também por migrar de sede ao sabor das propostas de parceria, andou por Toledo, Maringá, Ponta Grossa, Pinheirão, Estádio do Pinhão e Vila Olímpica do Boqueirão. No ano passado, cogitou construir um estádio e estabelecer-se no bairro de Santa Felicidade.
Agora, o filhote de Aurélio imita nome e símbolo do Real Madrid, enquanto adota uniforme idêntico à da Seleção Brasileira. E o ?Frankenstein? das Araucárias ainda não sossegou: negocia parceria para mandar os jogos do Estadual em Foz do Iguaçu.
Um exemplo de troca da tradição pela ocasião é a antiga Portuguesa Londrinense. Sem torcida, o antigo clube amador fundado em 1950, em Londrina, namorou a cidade de Ibiporã, mas acabou associando-se ao Cambé Atlético Clube este ano. Assim, trocou de nome (virou Lusa/CAC), de escudo e de cores, distanciando-se mais da consolidação de sua marca. ?Como fanático pelo time e pelo futebol, doeu a mudança. Mas não havia alternativa para sobreviver. Era preciso aproximar o clube da cidade de Cambé, que tem sua história, mas andava sem identidade?, explicou Hélio Camargo, diretor da equipe e ex-presidente da Lusinha.
Mania também nas grandes cidades
Juntam-se a estes ?ciganos? os times de cidades maiores que não conseguem se estabelecer. O velho Cascavel, campeão paranaense de 1980, era azul, vermelho e branco, mas mudou de razão social e virou amarelo e preto na mesma década. O sucessor também não vingou, e a cidade passou o vexame de ter três clubes na 2.ª Divisão e nenhum na primeira. Até que em 2003 os representantes do Cascavel S/A, Cascavel E. C. e SOREC resolveram se unir e fundar o Cascavel Clube Recreativo, tricolor como a saudosa Cobra original.
Maringá viveu momentos de glória com o Grêmio, três vezes campeão estadual, mas extinto nos anos 90 por um punhado de dívidas. Depois, a cidade foi representada pelo Império, Grêmio Esportivo, Galo Maringá e, agora, contenta-se com o Adap Galo, criado após fusão com o time dos empresários que já andaram por Jacarezinho e Campo Mourão.
Toledo, que nunca teve um time de ponta, hoje tenta emplacar o Toledo Colônia Work, que agregou os nomes dos patrocinadores. Cianorte, que já teve o CAFÉ, desde 2002 acompanha o Cianorte Esporte Clube com relativo sucesso. Assim como os novatos Engenheiro Beltrão e J. Malucelli (ex-Malutrom), todos sonham em marcar sua presença no futebol local. Mas ninguém sabe se estarão aqui para contar a história daqui a dez anos.
