O Fluminense mandou Cristóvão Borges embora e aproveitou para economizar. Mesmo diante das críticas da torcida, optou por contratar um treinador que aceitasse um salário menor que o antecessor, Ricardo Drubscky. Seguiu o caminho de dois outros clubes cariocas, Vasco e Botafogo, que também preferiram treinadores baratos a figurões que exigem altos salários. Santos e Internacional fizeram a mesma coisa.
Com clubes endividados e com uma medida provisória de refinanciamento dos débitos que exigirá boas práticas de gestão batendo às portas, os dirigentes começam a colocar os pés no chão. Perceberam ser preciso gastar menos. E um dos primeiros passos dessa nova realidade está sendo a redução dos salários dos treinadores. Os dias em que os técnicos recebiam salários de R$ 500 mil, R$ 600 mil e até mais parecem contados.
Aos 55 anos e sem experiência em times do eixo Rio-São Paulo, Drubscky assumiu o Fluminense após ter assinado contrato que lhe garante salário de R$ 180 mil mensais. É um valor R$ 70 mil menor do que ganhava Cristóvão Borges. E não adianta nem a torcida chiar, como fez nesta terça-feira, no primeiro treino que o treinador comandou nas Laranjeiras. O presidente do time carioca, Peter Siemsen, já avisou que não vai contratar mais “treinadores caros”. “O Ricardo foi uma escolha da nossa área técnica, mas, por outro lado, é preciso levar em consideração que o Fluminense vai aderir em breve ao parcelamento da dívida com o governo. Temos de nos adequar para o futuro”, disse.
Recentemente, o Fluminense perdeu um patrocinador que por mais de uma década despejou dinheiro a rodo no futebol do clube. Ou seja, de uma hora para outra, o time “empobreceu”. E precisa saber conviver com a nova realidade. “Precisamos ser comedidos nos gastos para podermos fazer essa transição de forma segura. Em um primeiro momento, teremos de limitar o investimento para sairmos forte dessa transição. Entendemos que era importante escolher um técnico com o perfil que se encaixasse dentro desse nosso desejo.”
Siemsen até tentou contratar outro treinador. Mas Ney Franco, que era o preferido, pediu R$ 260 mil por mês e Argel Fucks teria exigido R$ 200 mil. O Flu ficou com a opção mais em conta.
GRATIFICAÇÃO – Também em situação financeira delicada – o pagamento dos direitos de imagem dos atletas, por exemplo, estão atrasados -, o Santos radicalizou. Mesmo com o time invicto no Campeonato Paulista, dispensou os trabalhos de Enderson Moreira, que ganhava R$ 180 mil mensais e havia reclamado dos atrasos de pagamento, e simplesmente efetivou Márcio Fernandes, funcionário do clube com vencimentos de R$ 10 mil em carteira.
Fez mais: em vez de aumentar o salário do novo treinador, optou por pagar gratificações mensais (valor não revelado). O mesmo recurso está sendo utilizado para remunerar os dois auxiliares de Fernandes, Serginho Chulapa e Edinho, igualmente assalariados do clube.
Na prática, Fernandes e seus parceiros vão ver mais dinheiro entrar na conta enquanto estiverem em seus cargos de comando do time principal. Se caírem, voltam a receber o descrito em carteira. “Se o Santos contratar um novo treinador no futuro, os três vão voltar a fazer parte da comissão técnica do clube e perdem o direito de receber a gratificação”, explicou o presidente Modesto Roma Júnior.
O dirigente até tentou contratar um treinador de nome. Mas Dorival Junior manteve-se irredutível na pedida de R$ 300 mil mensais e simplesmente foi preterido.
Outros dois clubes cariocas também decidiram economizar na contratação de treinadores para esta temporada. Rebaixado à Série B do Brasileiro e quase na bancarrota, o Botafogo não renovou com Vagner Mancini, que tinha direito por contrato a R$ 150 mil mensais, e reabilitou René Simões, que até então vinha trabalhando como comentarista de uma emissora de TV a cabo. Salário: R$ 60 mil. É parte da política saneadora da nova diretoria.
René não reclama. Ao contrário, encara a situação sem rodeios. “Eu não estou ganhando mal, estou ganhando muito bem. O futebol brasileiro é que estava fora da realidade”, disse ao ser apresentado.
Figura carimbada no futebol, Eurico Miranda voltou a reinar no Vasco depois de alguns anos de afastamento e uma de suas primeiras decisões ao assumir, em dezembro passado, foi limitar o salário do treinador da equipe a R$ 100 mil. “O clube passa por uma situação difícil e não tem sentido pagar salários absurdos.”
Decisão tomada, mandou um emissário à casa de Joel Santana – assumira o time em setembro passado em troca de um “soldo” de R$ 200 mil -, comunicar-lhe que estava demitido. Joel esperneou, disse que se sentia injustiçado pela “paga” que estava recebendo por trazer a equipe de volta à Série A, mas não adiantou. Está vendo o Vasco pela televisão.
Até mesmo o Internacional está conseguindo economizar um dinheirinho com o treinador. Paga entre R$ 300 mil e R$ 500 mil ao uruguaio Diego Aguirre, que ainda não superou a desconfiança da torcida e tem o trabalho questionado também pelo ganha – há quem veja desvantagem para o clube na relação custo-benefício representada por Aguirre. Mas o clube está gastando menos que no ano passado. O treinador anterior, Abel Braga, embolsava R$ 550 mil a cada 30 dias de trabalho.
O uruguaio chegou ao Inter no fim de dezembro e desde então vive na corda bamba. O presidente do clube, Vitório Píffero, garante que ele fica pelo menos até o fim do ano. Mas, se mudar de ideia, de uma coisa já avisou que não abrirá mão: pagar salário considerado realista ao treinador que vier. Salários milionários, entende, são parte do passado.