Roque Citadini: diferença de tratamento entre clubes. |
São Paulo – Na busca por recursos capazes de cobrir os rombos de seus cofres, os clubes de futebol, sobretudo aqueles com maior torcida, já iniciaram forte pressão para mudar a política de distribuição do dinheiro proveniente da televisão. A idéia é investir no pay-per-view (sistema no qual o telespectador de TV por assinatura paga para assistir a jogos específicos).
A novidade é que entraria em operação um novo dispositivo capaz de identificar o comprador do jogo. Em outras palavras, será possível saber a quantidade de jogos vendida para cada clube. O procedimento não só servirá como importante ferramenta de medição do mercado, como também estabelecerá critério mais justo de divisão do dinheiro arrecadado.
Hoje em dia, a TV paga aos Clube dos 13, que, por sua vez, estabelece critério subjetivo de distribuição. Atualmente está estabelecido que as equipes são divididas por grupos. No primeiro, no qual estão Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Vasco, a fatia do bolo é maior. O segundo recebe 10% menos e o terceiro 15% abaixo dos mais populares.
“Isso é absurdo. Tem sentido o Bahia receber uma verba 10% ou 15% menor do que a do Corinthians? Veja a projeção nacional dessas duas equipes”, argumenta o vice-presidente de futebol do Corinthians, Antônio Roque Citadini. “Nós precisamos pensar no futuro. E o pay-per-view será muito importante daqui a cinco ou seis anos. Como já o é na Europa.”
Iniciativa
A negociação para mudar o sistema de pagamento do pay-per-view deixa clara a união, cada dia mais intensa, das duas maiores potências do futebol brasileiro. Assim como acontece na polêmica que envolve a divisão de recursos da Lei Agnelo/Piva entre o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e os clubes de futebol, são corintianos e flamenguistas que lideram a nova frente de reivindicação.
E não é por acaso que vão à luta. Em tese, os donos das duas maiores torcidas do País são os grandes beneficiados por eventual alteração. Afinal, atualmente têm de se contentar com o recebimento do mesmo valor pago a clubes com número de torcedores reconhecidamente inferior.
Diante disso, nem é preciso dizer que a briga interna no Clube do 13 está apenas começando. A proposta prevê que o mandante da partida fique com a bilheteria do estádio e com o percentual sobre a venda do jogo na TV. Os cartolas de Flamengo e Corinthians partem do princípio de que a sala da casa do torcedor é uma espécie de “arquibancada virtual”.
O desafio é convencer os demais clubes a acatar a mudança. Mas há um problema. Como a tendência nas próximas temporadas é de que o montante acumulado no pay-per-view seja muito maior do que o arrecadado na bilheteria, clubes médios e pequenos veriam suas receitas caírem, já que sobrevivem exatamente dos confrontos com os grandes. A pressão desse grupo é para que parte do dinheiro recebido do PPV em partidas realizadas na casa dos clubes mais tradicionais, quando a venda para a praça é maior, fique com o visitante.
Ameaça
Dirigentes de Corinthians e Flamengo vão tentar negociar. Porém, se a solução ficar muito complicada, já decidiram o que fazer. A alternativa será radicalizar e não disputar o campeonato brasileiro. “Aí quero ver se a Globo vai comprar os direitos da competição”, indagou Citadini. O diretor corintiano ainda se sustenta na observação do diretor da Globo Esportes, Marcelo Campos Pinto, que revelou no final do ano passado que a torcida corintiana será a maior do Brasil em oito ou dez anos.
Crescimento
Se depender dos números que resumem o mercado do pay-per-view, a intenção dos cartolas é mais do que compreensível. De acordo com informações fornecidas pela assessoria da Sky, operadora que comercializa o PPV, esse mercado tem registrado crescimento nos últimos três anos. Em 2002, foram vendidos 222 mil pacotes. No ano seguinte esse número subiu para 250 mil. Só em janeiro deste ano foram vendidos 30 mil e a perspectiva é de fechar a temporada com 280 mil. O motivo da evolução? O calendário mais organizado.