Clubes colocam FPF contra a parede em conselho arbitral

No jargão técnico da Federação Paranaense de Futebol, os clubes são tratados como EPDs (Entidades de Práticas Desportivas). Também são vistos como os responsáveis por pagar, sozinhos, os custos das partidas. Como o Paraná Online mostrou em reportagem de 5 de outubro, do gandula ao trio de arbitragem, tudo sai do borderô, que ainda cede 10% da renda bruta para a FPF. Só que o alerta parece ter acordado as equipes. No conselho arbitral que ocorre quarta-feira, em Curitiba, os 12 clubes da Primeira Divisão do Estadual estão dispostos a colocar um ponto final nesta via de mão única.

O objetivo é exigir que a Federação Paranaense de Futebol dê contrapartidas para aliviar os custos dos jogos e permitir que os clubes possam usufruir do dinheiro que é deixado nas bilheterias dos estádios. “Hoje, se a gente for depender da renda dos jogos, estamos mortos. O borderô, infelizmente, é só ônus para nós. Temos que tirar dinheiro do bolso e contar com a ajuda dos empresários da cidade para sustentar o clube. A gente entra no campeonato sabendo que vai ter prejuízo. É preciso desonerar os clubes”, desabafa Lourival Furquim, diretor de futebol do Paranavaí.

As equipes do interior, principalmente, têm procurado se articular para exigir contrapartidas da federação. Percebendo o descontentamento, há cerca de 15 dias a FPF reuniu-se com alguns dirigentes de clubes para propor mudanças. “Tivemos uma reunião informal com o presidente da FPF (Hélio Cury) para que ele consiga viabilizar uma cota extra de R$ 50 mil, através de patrocínio, para amortizar as despesas. É interesse dos clubes do interior negociar em bloco. Precisamos salvar o Estadual, senão daqui a pouco a disparidade vai ser tão grande que Coritiba e Atlético não vão querer disputar. Esse ano já falam em atuar com o sub-23, ou seja, já estão desdenhando o campeonato”, revela Fabiano Elias, presidente do Rio Branco.

Na opinião das equipes, inclusive as do Trio de Ferro (Atlético, Coritiba e Paraná) não basta a FPF oferecer uma cota extra de patrocínio. Eles querem é minimizar as taxas que recaem sobre o borderô. “É preciso rever isso”, já explicitou o Coritiba, em nota oficial. “ Pagar sem a contraprestação é um prejuízo. O Atlético ainda não é uma instituição de caridade, até onde eu sei”, dispara o vice-presidente do Rubro-Negro, José Cid Campelo Filho, que estatutariamente, apesar do rompimento com o presidente do clube, ainda ocupa o cargo. “Acho que cabe análise dos estatutos. Afinal, as despesas são, de fato, elevadas”, complementa Celso Bittencourt, superintendente do Paraná Clube.

O descontentamento é geral. Há consenso entre os clubes de que a Federação Paranaense de Futebol deve passar a arcar com as taxas de arbitragem, custear a presença do observador nas partidas e rever a cobrança dos emolumentos – desconto de 2% sobre a renda bruta das partidas para pagar as confecções dos ingressos. “Antes, quando os bilhetes eram impressos para cada partida, se justificava esse gasto. Mas hoje são cartões magnéticos que são reaproveitados de um jogo para o outro. Mesmo assim, continuam sendo descontados 2% por jogo. Sou favorável a questionarmos vários gastos, apesar de o presidente ser autoritário e não aceitar questionamentos”, denuncia o presidente do Londrina, Cláudio Canuto.

FPF ainda põe a culpa em Onaireves

Para justificar o fato de não poder abrir mão das taxas que recaem somente sobre os ombros dos clubes, a atual administração da Federação Paranaense de Futebol, mesmo há quatro anos no poder, ainda coloca a culpa na gestão de Onaireves Moura. “Não temos dinheiro para custear nada. A federação não tem dinheiro. Se tivéssemos herdado uma federação redondinha… Mas não é isso que ocorre”, justifica o vice-presidente Amilton Stival.

Usando a administração anterior como escudo, a FPF ainda segue sem uma conta bancária própria e autoriza que os 10% descontados dos borderôs de Atlético, Coritiba e Paraná Clube sejam por ordem judicial,, para pagar dívidas – no caso das competições nacionais são 5%. Por outro lado, dos jogos que ocorrem no interior, o dinheiro é remetido em espécie para a FPF, segundo relataram os dirigentes ouvidos pelo Paraná Online.

Foram entrevistados os seguintes diretores de clubes: Sidclei Menezes, gerente de futebol do Arapongas; José Cid Campelo Filho, vice-presidente do conselho administrativo e diretor jurídico do Atlético; Adir Kist, gerente de futebol do Cianorte; Coritiba (via nota oficial); Rui Wisniewski. supervisor do J. Malucelli; Cláudio Canuto, presidente do Londrina; José Danilson, presidente do Nacional; Carlos Roberto Iurk, presidente do Operário; Celso Bittencourt, superintendentedo Paraná Clube; Lourival Furquim, diretor de futebol do Paranavaí; Fabiano Elias, gestor do Rio Branco; Irno Picinini, presidente do Toledo, e Amilton Stival, vice-presidente da FPF.

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