Reunidos na sede do Flamengo, no Rio, dirigentes do Clube dos Treze aceitaram o calendário imposto pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para 2003. Rasgaram assim o documento ?quadrienal? divulgado em 2001 por uma comissão de ?notáveis?, após meses de estudos de uma equipe da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e de consultas a vários segmentos do esporte, incluindo a própria CBF.
Os quatro grandes clubes do Rio e o Internacional de Porto Alegre foram decisivos na assembléia que resultou em apoio à CBF. Os paulistas ficaram divididos.
Enquanto o Corinthians não enviou representante, o São Paulo votou contra o calendário da CBF e, o Palmeiras, a favor. ?Disputo qualquer campeonato, o que quero saber é quanto meu clube vai ganhar?, disse o presidente do Alviverde, Mustafá Contursi. O Santos absteve-se.
O articulador do atual calendário, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, integrava o grupo de ?notáveis? e se comprometeu, naquela oportunidade, a cumprir o calendário elaborado e aprovado em conjunto com a FGV, o Ministério do Esporte e Turismo, clubes e federações estaduais de futebol. Resolveu agora desfazer tudo para manter inatingível seu poder à frente da CBF.
Com o novo calendário, extinguem-se os torneios regionais, o que determina o fim das ligas de futebol. Isso representa menos poder político para opositores de Teixeira, como Eduardo Farah, presidente da Federação de Futebol de São Paulo e eventual presidente da Liga Rio-São Paulo; e Carlos Alberto de Oliveira, da federação pernambucana e forte candidato ao comando da Liga do Nordeste.
O Campeonato Brasileiro passa a ser disputado de abril a dezembro e os Estaduais terão 12 datas. Isso será formalizado na terça-feira, durante evento promovido pela CBF no Hotel Meridien em Copacabana. O critério para a escolha dos clubes da Copa do Brasil será técnico e levará em consideração a classificação das equipes nos Estaduais.
O diretor de Futebol do Cruzeiro, Eduardo Maluf, acusou o presidente do Internacional, Fernando Carvalho, de ter descumprido acordo firmado entre os representantes do Torneio Sul-Minas – além dos dois clubes, Atlético-MG, Grêmio, Coritiba e Atlético-PR. ?Decidimos em reunião preliminar votar contra esse ato arbitrário da CBF. A entidade não pode ser a dona da verdade. Como jogar fora o calendário quadrienal assim, sem consultar ninguém??, protestou.
Maluf lembrou que os jogos do Cruzeiro no Sul-Minas tiveram este ano média de público de 25 mil torcedores. ?No Estadual, a média foi de 4 mil pessoas. Está claro que o Ricardo Teixeira está fazendo isso para se reeleger em 2003.?
O calendário da CBF foi aprovado por 24 votos a 20. Se o Internacional tivesse seguido os demais clubes do agora extinto Sul-Minas, o resultado teria sido outro. O clube gaúcho tinha direito a três votos. O peso de cada um na assembléia era diferente, de acordo com o que estabelece o estatuto do Clube dos Treze.
Uma derrota da CBF no pleito seria apenas simbólica. A entidade tem poder para elaborar e aprovar o calendário. Carvalho defendeu-se afirmando que o Internacional evitou um impasse ao mudar de opinião.
O presidente da entidade que representa os clubes, Fábio Koff, não soube responder se uma mudança tão rápida de calendário não poderia aumentar a descrença do público com relação à seriedade e boa-fé dos principais dirigentes de futebol do Brasil.