Clima é de descontração na Seleção Brasileira

Arequipa – Os cerca de 30 fotógrafos brasileiros e de agências internacionais de notícias quase desmaiaram de alegria ontem pela manhã no hotel Libertador em Arequipa. Carlos Alberto Parreira e Zagallo se sujeitaram às mais inusitadas poses. Sentaram-se em cima da centenária tartaruga Juanita. Fingiram estar jogando pebolim. E por fim, Parreira ficou comparando as máquinas fotográficas para ver qual era a mais potente para comprar uma igual em Miami. Todo esse bom humor tem explicação.

“Eu só tenho motivos para estar feliz. Vim disputar a Copa América sem a certeza de que esses jovens jogadores iriam se entrosar. Eles não só estão mostrando entrosamento como uma determinação impressionante. As vitórias não estão vindo por acaso. Nasceu a Seleção Brasileira de verdade da Copa América”, determinou o treinador.

A própria confecção da tabela da competição favorece o Brasil. A seleção irá fazer a última partida da primeira fase e poderá até, na teoria, escolher qual adversário irá enfrentar. Tem seis pontos e os paraguaios, adversários de amanhã, quatro. Uma vitória ou um empate garante a primeira colocação e o cruzamento com o melhor terceiro colocado em Tacna no domingo à tarde.

Uma derrota levaria o time para Piura, jogar à noite diante do primeiro colocado do grupo B, da Argentina, México e Uruguai.

“Filosoficamente eu sou contra escolher adversário. Não tem cabimento pedir para os jogadores perderem contra os paraguaios. Eu quero a vitória para continuar com muita moral na competição. Quero os atletas cada vez mais estimulados”, afirma o treinador que se não perder completará a seqüência de 16 partidas sem derrotas dirigindo o Brasil – seu recorde pessoal.

Adriano cobra reconhecimento

Arequipa –

Marcar três gols pela seleção brasileira em apenas 25 minutos rendeu ao atacante Adriano quase uma centena de perguntas sobre sua carreira, planos e detalhes dos principais lances da partida em que o Brasil goleou a Costa Rica, domingo, por 4 a 1, pela Copa América. Ele disse que nunca foi tão assediado pela imprensa brasileira, como ontem, e afirmou ter esperanças de que, a partir de agora, possa ter no Brasil o mesmo reconhecimento de que desfruta na Europa. “Na Itália, sou muito respeitado e admirado pelos torcedores da Inter de Milão e por pessoas comuns. Sempre há o pedido de autógrafos, de fotografias. No meu país, ninguém me conhece.”

Evitar esse isolamento do atleta, em Arequipa, passou a ser um dos objetivos da comissão técnica da seleção nos últimos dias. Isso pôde ser notado na véspera do jogo com a Costa Rica, num comentário do assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, que evidenciava uma preocupação do treinador Carlos Alberto Parreira e do supervisor Américo Faria em dar mais visibilidade ao jogador. Paiva detectara e estranhara o pouco interesse dos jornalistas brasileiros por Adriano.

“Ele é um dos atacantes mais badalados da Itália, requisitado por jornais de toda a Europa. Aqui, na hora das entrevistas, fica praticamente sozinho”, dissera.

Existe uma máxima destacada a todo instante por Parreira e seu auxiliar Zagallo que pode expressar a mudança repentina na vida de Adriano: “Futebol é resultado”. O próprio atacante, ciente de que tudo pode voltar à estaca zero se deixar de fazer gols, recusou comparações sugeridas por alguns novos entusiastas de suas qualidades. Informado, ontem, que Pelé fora o último jogador da seleção a marcar três vezes na mesma partida, numa Copa América, e que isso ocorreu havia 45 anos (Brasil 4 x 1 Paraguai, em 29 de março de 1959), e que, recentemente, Ronaldo, o Fenômeno, fez três gols pelo Brasil contra a Argentina, o artilheiro da Inter de Milão foi rápido em sua defesa. “Eu sou apenas o Adriano. Não estou próximo de nenhum deles.”

Depois de atender a todos os fotógrafos encarregados da cobertura da seleção em Arequipa e posar à beira da piscina do Hotel Libertador, onde está hospedada a delegação brasileira, Adriano teve de responder em espanhol a mais outras tantas perguntas. Eram repórteres peruanos querendo saber quem era o novo “vulcão arequipenho”, como publicou ontem o Jornal El Correo, editado na cidade de Arequipa, numa referência à região do sul do Peru, repleta de vulcões, hoje, inativos.

Seleção de “escoteiros”

Arequipa –

A concentração da Seleção Brasileira de Arequipa parece uma reunião de escoteiros – com direito a singelos bingos e bolões. A maior transgressão é a ?caxeta à água? que os jogadores inventaram.

Carlos Alberto Parreira está admirado. Deu duas noites de folga aos jogadores após os jogos pela Copa América. Poderiam fazer tudo, tudo mesmo. Dançar, namorar, comer fora e até tomar uma cerveja. Só teriam de voltar à meia-noite. Ninguém saiu do hotel. Romário ficaria arrepiado com tanto bom-mocismo.

“Eu tenho a minha vida toda para ficar farreando com mulheres por aí. Aqui é Seleção Brasileira. Preferi ficar jogando cartas.” O autor desse discurso moralista não foi um padre. Foi Vágner Love, que ganhou o apelido por levar uma mulher na concentração do Palmeiras quando era dos juniores.

Vágner Love espera uma nova chance

Arequipa –

O atacante Vagner Love circulava ontem cedo pelo hotel da seleção, em Arequipa, sem o mesmo desembaraço de antes.

Parecia curioso sobre a repercussão no Brasil de sua atuação na goleada da seleção por 4 a 1 sobre Costa Rica, no domingo. Ele admitiu que não atuou bem, durante os 36 minutos em que esteve em campo, e disse estar certo de que receberá uma nova oportunidade de Carlos Alberto Parreira na Copa América. “Jogo muito mais do que isso”, comentou, referindo-se à estréia na equipe.

Pouco depois, o treinador confirmaria a pretensão de dar uma nova chance a Vagner Love durante a competição. “Quero vê-lo mais, observá-lo melhor em jogos”, disse o técnico, com a clara intenção de relativizar o rendimento do atacante nos treinamentos – em três coletivos no Peru, Vagner Love marcou sete gols. No entanto, não deixou sua marca no único treino da semana passada, em que esteve como titular, e no segundo tempo da partida do Brasil contra Costa Rica.

Para o atleta, o dia de ontem foi importante por que recebeu o apoio de vários colegas da equipe. “Todo mundo passa por seu batismo na seleção.”

Sobre a fraca produção no domingo, o atacante disse que cobrou muito de si e foi atropelado pela ansiedade. “Esse foi o erro.” Em seguida, ressaltou a necessidade de aprender pela repetição. “Quanto mais bagagem na seleção, melhor, a gente vai aprendendo.”

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