Clima de Copa começa a invadir ruas das sedes da Copa

Demorou, mas o clima de Copa do Mundo finalmente começou a chegar às ruas das cidades onde o Mundial será disputado. Nas janelas dos prédios e nos carros, as bandeiras do Brasil estão cada vez mais presentes. Como se, às vésperas do início do torneio, as pessoas começassem a se desligar dos protestos e das discussões sobre obras atrasadas para curtir os jogos.

“Ninguém achava que tudo ficaria pronto, então acho que muita gente esqueceu um pouco aquele espírito de Copa do Mundo”, diz o aposentado Cezar dos Santos Moura, de Natal. Uma pesquisa divulgada nesta quarta pelo Instituto Data Popular mostra um pouco essa ambiguidade: cerca de 45% dos brasileiros são contra a realização do Copa do Mundo no Brasil, mas 75% disseram que pretendem assistir aos jogos do Mundial. Além disso, 88% dos entrevistados afirmaram que vão torcer pela seleção brasileira.

A chegada ao País das seleções que vão disputar o Mundial e dos turistas estrangeiros parece ter mostrado que, sim, “vai ter Copa”. No Rio, por exemplo, o grande número de torcedores de fora do País nas ruas ajudou a transformar a cara da cidade. Segundo Isabela Leoni, que trabalha em um dos pontos de informação da Riotur em Botafogo, desde a segunda-feira tem sido grande a circulação de estrangeiros pela Zona Sul carioca. “A maioria é de sul-americanos vindos da Colômbia, Argentina e Venezuela, procurando informações sobre o Maracanã, Pão de Açúcar e a sede do Botafogo, um dos pontos de retirada de ingressos”, diz.

Em Salvador, o aumento do número de turistas também é visível. “Já houve aumento no movimento desde segunda-feira. Nós vamos aumentar o expediente e colocar uma televisão para exibir os jogos”, conta Ana Paula Lima, gerente financeira do restaurante Schöne Reise, localizado no Terreiro de Jesus, no Pelourinho. De acordo com ela, os turistas estrangeiros consomem muito mais bebida alcoólica do que os brasileiros, e foi necessário contratar dois funcionários extras para atender à demanda.

Raimunda Oliveira, uma dos cerca de 40 vendedores da Associação dos Ambulantes do Pelourinho (Avape) que vão trabalhar no Terreiro de Jesus durante a Copa, diz que a expectativa é vender bastante. “Já tem mais turistas do que o normal”, diz.

Mesmo sem acompanhar futebol com muita frequência, Eliete Santos, moradora de Fortaleza, afirma que o clima realmente já é outro. “Amo a Seleção. Gosto de enfeitar a casa e a rua com as cores brasileiras. Não vejo a hora de chegar amanhã (quinta) para torcer pelo Brasil”, diz.

ESPERA – Em algumas cidades, porém, esse clima festivo tem demorado um pouco mais para chegar. Há quinze anos vendendo itens como bandeiras e cornetas nas ruas de Belo Horizonte, Ramon Gomes participou do comércio ambulante nas três últimas copas, e não tem dúvidas de que esta edição está sendo a pior de todas em número de vendas. “O povo está muito desanimado. Em outras Copas, cheguei a vender 150 itens por dia. Neste ano, não consigo passar de 40.”

Em Porto Alegre, a decoração das ruas ainda é acanhada, e está concentrada praticamente em bares e nas proximidades do estádio Beira-Rio. Em Curitiba, a movimentação em torno da Copa se concentra principalmente em torno do CT do Caju, local que a seleção da Espanha escolheu para treinar durante a primeira fase.

Para o segurança Silvan Gonzaga, de Belo Horizonte, no entanto, todo esse clima de certa apatia deve mudar quando a bola começar a rolar. “O brasileiro gosta de fazer festa de última hora. Com o jogo do Brasil amanhã (quinta), tudo volta ao normal. Buzinas, o povo comemorando nas ruas com fantasias e em bares. Faz parte da natureza do brasileiro”, afirma.

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