Pela primeira vez na história do Atletiba, que caminha para completar 90 anos, o principal clássico do futebol paranaense não será, na essência, um Atletiba. Venceu a intrasigência e o duelo das 19h30, na Vila Capanema, acontecerá com torcida única. Mesmo com o respaldo da Polícia Militar e do Ministério Público Estadual, não há um argumento suficientemente forte que permita excluir 999 torcedores do Coritiba das arquibancadas do Durival Britto.
Se o estádio cumpriu todas as exigências de segurança, inclusive colocando barreiras visuais no setor da torcida visitante, e se a PM anunciou efetivo superior a 400 homens para atuar no clássico, o que leva o Atletiba 349 a ser com torcida única? Só o radicalismo explica tal decisão. Pior: como dito no parágrafo acima, Polícia Militar e Ministério Público respaldaram a maluca decisão. Em tese, assinaram o atestado de óbito do maior clássico paranaense.
Pior ainda: muito provavelmente, tal medida pode não conter a violência. Há muito tempo a guerra entre facções não se dá dentro do estádio e nem no entorno. Ela acontece nos terminais de ônibus, nas imediações das estações tubo, normalmente há alguns quilômetros do local do jogo. Além disso, mesmo com a concordância do Poder Judiciário, nada impede que um torcedor do Coritiba invoque o Estatuto do Torcedor, alegando que foi cerceado de ver o Atletiba. Ou seja, o risco de confusão foi apenas varrido para debaixo do tapete.
Além disso, quem garante que a medida paliativa de agora não venha a amplificar a violência entre rubro-negros e alviverdes no futuro? Dia 22 de abril haverá novo Atletiba, desta vez no Couto Pereira. Se os atleticanos recorrerem ao Estatuto do Torcedor, exigindo a cota de 10% da carga de ingressos, não haverá “acordo de cavalheiros” entre cartolas nem a “excepcionalidade” alegada pelo Ministério Público e a PM que impeça o acirramento.
Ontem mesmo, o Coritiba já saiu em defesa do seu Atletiba com torcida única. Em nota oficial, a diretoria do clube reiterou que “fortalece seu posicionamento com relação à partida de volta quando aguarda que, pelo princípio da isonomia, sejam almejadas condições iguais para ambas as equipes, apenas torcedores do Coritiba tenham acesso ao estádio Couto Pereira”. O Coxa comunica também que acionará “as esferas e institutos legais” que assegurem os interesses do clube para que o Atletiba de volta também seja com torcida única.
Prevê-se mais confusão no futuro, apesar da omissão da Federação Paranaense de Futebol. Ontem, o Paraná Online realizou uma série de ligações para o presidente e o vice-presidente Hélio Cury e Amilton Stival, mas nenhum deles atendeu ou deu retorno. Imagina-se que, fantasiados de Pilatos, lavaram as mãos em pleno Carnaval. Até sexta-feira passada, a FPF, assim como o MP-PR, havia se posicionado a favor do clássico com duas torcidas. Por que o recuo, por que a omissão, por que o Atletiba com torcida única?
