Cesar Cielo segue sendo um nadador de alto rendimento ou está aposentado? Era o que todos queriam ouvir do nadador campeão olímpico em 2008 em sua primeira aparição pública desde a frustração de não conseguir se classificar para os Jogos Olímpicos do Rio durante o Troféu Maria Lenk, em abril. Durante evento de apresentação do projeto Novos Cielos em Santa Bárbara D’Oeste, cidade dele, no interior de São Paulo, nesta quarta, o ídolo falou por cerca de meia hora e não respondeu nem uma coisa nem outra.
Não que ele tenha escondido sua decisão. Cielo, na verdade, ainda não a tomou. Por enquanto, está afastado da sua segunda casa, a piscina. A relação de amor e ódio passou por momentos ruins no último semestre. Seis meses depois de sua última competição, Cielo está voltando a sentir o carinho de costume pela água. Sente saudades. Não disse isso com todas as letras, mas, qualquer horas dessas, ele volta para a piscina.
“Competição eu decidi dar uma pausa, tanto que desde o Maria Lenk não competi e não tenho previsão de competição ainda. Acelerei uns projetos fora da água, mas contato com a água nunca vou deixar de ter. São 22 anos dentro da piscina. Para mim é como escovar os dentes. Quando estou fora da piscina, vou fazer besteira. Lá dentro é onde me centro. Por enquanto não tenho previsão na área competitiva, não. Vou deixar acontecer naturalmente, para quando eu sentir vontade de voltar para a piscina”, disse o astro, visivelmente mais magro, em sua primeira declaração à imprensa desde que deixou o Estádio Aquático Olímpico, em abril, sem a vaga para voltar em agosto.
Meia hora depois, na última resposta, Cielo já tinha mudado um pouco o tom. A saudade, que precisa bater para que ele volte à piscina, na verdade já bateu. “Tem dia que brigo com a piscina, tem dia que eu amo. Passei um período brigado, mas estou saudade dela um pouquinho e estou sentindo que é hora de voltar para casa. Minha segunda mulher, então é voltar para casa. Não vou dizer que vou voltar em janeiro, ou em 2018, mas a natação nunca vai sair da minha vida. Talvez eu ache que vai ser mais interessante ajudar fora da água, mas faz falta. A rotina e piscina fazem falta, sim”, admitiu o nadador, que tem contrato com o Minas Tênis Clube apenas até o fim do ano, não disputou o Troféu José Finkel e, assim, está fora também do Mundial de Piscina Curta, que será disputado em dezembro.
Cielo ficou quatro meses sem vestir uma sunga e cair na piscina. Só retornou aos treinos no Centro Olímpico do Ibirapuera, por enquanto de três a quatro vezes por semana, sem obrigações, depois que quase arrancou a televisão da parede torcendo pelos amigos brasileiros na Olimpíada. O nadador, que recusou participar de eventos durante todo esse tempo – sequer quis carregar a tocha olímpica -, para conseguir desligar completamente daquela que foi sua vida por 14 anos, voltou a sentir o coração pulsar mais forte ao torcer por Thiago Pereira.
Após a prova dos 200 metros medley, em que Thiago vencia até os a virada dos 150m, perdendo a medalha nos últimos 50m, Cielo esperou o amigo esfriar a cabeça e mandou a ele uma mensagem. “Se quiser conversar, sei como você se sente. A gente está numa fase parecida. A gente não está gostando da piscina, mas não quer largar.” A mensagem diz muito. Mesmo que a largue, Cielo uma hora ou outra vai voltar. E, quando isso acontecer, quem vai cair na piscina será um nadador muito diferente daquele que decepcionou nas últimas duas temporadas.
“Está sendo importante para mim essa pausa. Estava na hora de eu repensar o que eu queria com a piscina. Eu não sinto que eu possa voltar a não ser que eu possa trabalhar mil por cento. Se eu achar que estou disposto a acordar 5h da manhã para pular na água fria não vou voltar. Questiono se eu vou ter motivação para fazer as coisas que um iniciante faria. Se meu técnico falar que eu tenho que entrar 5h30 e eu tiver dúvida, é porque não é hora de voltar. Estou esperando essa vontade aparecer. Eu vi que forçado não é o jeito certo. Fiquei me questionando muito tempo. A desmotivação era estar fazendo uma coisa forçada. Aprendi esse semestre que o ser humano odeia fazer coisas forçado. Estou deixando a piscina me atrair de novo”.