A Copa do Mundo de 2014 terá partidas disputadas em apenas 12 estádios, mas ninguém no Brasil quer ficar de fora do torneio. Por isso, tanto o poder público como a iniciativa privada vêm trabalhando para aproveitar a competição para gerar recursos, mesmo que o local esteja fora da lista de cidades-sede. Afinal, estimativas do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), baseadas em edições anteriores do evento, apontam que 600 mil estrangeiros virão acompanhar a disputa no ano que vem, com gastos totais de R$ 25 bilhões por parte dos turistas. Além disso, 3 milhões de brasileiros devem circular pelo País nos 32 dias de competição. Atrair uma parcela desses recursos e desses visitantes é o desafio dos municípios que não estão no roteiro dos jogos.
Aqueles municípios que serão palco de jogos ou locais de treinamentos das seleções vão receber naturalmente uma gama enorme de pessoas, sejam turistas ou profissionais envolvidos na Copa. Mas todas as outras cidades brasileiras também podem faturar com o torneio. “Isso é fundamental. Acreditamos que seria injusto que apenas as 12 sedes se beneficiassem”, disse Flávio Dino, presidente da Embratur. “É até uma questão de justiça fiscal”, completou.
Para isso, as cidades que não vão sediar a Copa de 2014 devem se organizar. E Paul Brighten, diretor comercial da Soccerex (convenção anual de negócios do futebol), lembra também que a promoção de eventos relativos aos jogos podem movimentá-las. “Diversas prefeituras, juntamente com alguns patrocinadores, estão organizando em lugares públicos a transmissão dos jogos de graça para as pessoas se reunirem para assistirem aos jogos da Copa do Mundo em telões, gerando assim receita para as cidades”, contou.
Além disso, Brighten cita um exemplo de sucesso da Copa de 2010, na África do Sul, que pode inspirar cidades brasileiras no relacionamento com os turistas. “Cidades montaram pequenas excursões para levar turistas para conhecer vinícolas em diferentes cidades, o que atraiu grandes grupos de turistas”, lembrou, também sugerindo que localidades sem grandes belezas naturais criem eventos para atrair turistas – as tradicionais festas juninas, no Nordeste, devem ser naturalmente um polo de atração. “Eventos e shows podem ser organizados pelas cidades nessa época”, comentou.
Visando a Copa de 2014, a Embratur produziu duas matrizes de promoção internacional, como explica Flávio Dino. A matriz do Grupo 1 é destinada a turistas cujo foco é assistir aos jogos, tendo, portanto, pouco tempo livre entre as partidas para realizar grandes deslocamentos. Foram incluídos neste grupo cidades e atrações com distâncias de até 150 quilômetros das sedes, de forma terrestre, ou com tempo de deslocamento de até 2 horas aéreas em voo direto. Essa matriz contempla 88 produtos e 170 destinos.
A matriz do Grupo 2 destina-se aos turistas que estarão no Brasil por ocasião da Copa, mas não especificamente para assistir aos jogos e, portanto, dispõem de mais tempo livre para visitar o País. Servem também para os torcedores das seleções que forem eliminadas no início da competição e, por isso, terão condições de realizar deslocamentos mais longos. São contemplados nesta matriz 140 produtos e 232 destinos.
Além disso, no final de agosto, a Embratur e o grupo Latam Airlines promoveram a primeira edição do Discover Brasil, que reuniu 84 operadores de turismo de 20 países. Durante oito dias, eles percorreram dez Estados brasileiros, incluindo cidades-sede da Copa, e participaram de rodada de negócios.
Esses negócios também poderão ser fechados durante a próxima edição da Soccerex, marcada para o período entre 30 de novembro e 5 de dezembro no Maracanã, quando as cidades tentarão despertar a atração de estrangeiros, na véspera do sorteio dos grupos da Copa do Mundo, marcado para 6 de dezembro, na Costa do Sauipe (BA). “A Soccerex atrai muitas agências de turismo e eventos. Assim, entrando em contato com tais agências, as cidades podem já negociar pacotes focados para os turistas durante o torneio no Brasil”, explicou Brighten.
Assim, as cidades poderão fechar parcerias, além de se apresentarem para a comunidade internacional, com suas belezas naturais e culinária exótica. “A Soccerex providencia uma plataforma única onde essas cidades poderão se promover para a comunidade do futebol. Todos os tomadores de decisão estarão presentes”, garantiu o diretor.
Enquanto isso, preocupado em entregar um produto que agrade ao visitante estrangeiro, o Ministério do Turismo promete realizar 1,6 mil obras em cidades que estão em torno do raio de 100 quilômetros das cidades-sede da Copa, segundo Fabio Mota, secretário de Programas de Desenvolvimento do Turismo, com um investimento de R$ 2,15 bilhões.
“Isso fica como legado para depois da Copa”, afirmou o secretário, também destacando que profissionais ligados ao receptivo turístico estão sendo treinados através de um programa de qualificação profissional, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec Turismo), com a meta de qualificar 240 mil profissionais até a Copa em 120 cidades brasileiras.
Já Flávio Dino lembra que, além de melhorias estruturais, a Copa de 2014 pode deixar outro legado para a economia brasileira: a atração de mais turistas, desde que eles se satisfaçam com os serviços oferecidos no País, e não apenas para as cidades-sede. Pesquisa da Embratur realizada durante a Copa das Confederações, em junho passado, apontou que 97% dos estrangeiros indicariam a viagem ao Brasil para amigos e familiares.
“Esses dados mostram que os megaeventos são uma importante chance de atrair novos turistas para o País e fidelizá-los, já que o Brasil apresenta um alto grau de satisfação aos turistas”, avaliou o presidente da Embratur. “A pesquisa confirma o que já vínhamos dizendo: a realização dos megaeventos no País tem um ganho incalculável para a imagem que o mundo tem do Brasil”, finalizou.