São Paulo (AE) – A Copa América abre hoje a temporada 2005 do ciclismo brasileiro, que vive o melhor momento das últimas décadas, na avaliação de atletas e técnicos. Tem uma centena de bons atletas, uma dezena de equipes competitivas, bem-estruturadas, que pagam salário, circuito de estrada de bom nível técnico e TV aberta, que atrai patrocínio e público.
"Faltam atletas no mercado. Temos cerca de 120 bons ciclistas – incluindo revelações como Renato Ruiz, Breno Sidoti e Alex Arseno, muitos jovens na faixa dos 20 anos -, pelo menos dez equipes competitivas e o Pan do Rio, em 2007, para aumentar os motivos de valorização do esporte."
O Brasil tem acesso a equipamentos de ponta e o investimento anual dos times vai de R$ 250 mil a R$ 700 mil, resume o técnico da Extra/Suzano, Mauro Ribeiro, de 40 anos, único brasileiro a vencer uma etapa da Volta de França – os 170 km da Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1991. Com a transformação do circuito, a TV e o público, o ciclismo virou um produto, acrescenta o treinador.
A agitação que precedeu a formação das equipes é indício de que a temporada será competitiva. Integrantes da Memorial-Santos qualificaram de "traição" a opção de Márcio May e Nilceu Santos, que aceitaram, em dezembro, convite de São José dos Campos, time que mais investiu para 2005. "Isso foi possível graças a um pool de patrocinadores, da Scott, fábrica suíça de bicicletas, da Fadenp (Prefeitura) e da construtora Marcondes César", conta o técnico José Carlos Monteiro. A equipe existe desde 97 e agora lidera o ranking. Reúne alguns dos primeiros do Brasil, como Soelito Gohr (2.º), Márcio May (3.º), Luiz Amorim (4.º) e Breno Sidoti (5.º). "As provas válidas para o ranking internacional são excelentes", afirma Monteiro, que terá seu primeiro teste na Copa América.
Márcio May, 32 anos, 18 de ciclismo, foi a três olímpíadas (92, 96 e 2004). "Há dez anos, a Caloi, com os dez melhores do País, ganhava tudo. Hoje, as forças se dividem entre São José, Memorial, Suzano, Avaí, Dataro, São Caetano… Qualquer um pode ir ao pódio. E são mais provas valendo pontos para o ranking."
A TV torna o esporte e os ciclistas mais conhecidos. "Em 96, ganhei o Pan de Resistência, na Venezuela, e ninguém ficou sabendo. Estou no ciclismo há 18 anos, nos últimos três fiquei bem conhecido em Brusque (SC), onde moro."
Os salários dos ciclistas subiram nos últimos anos, mas estão longe dos pagos pelo vôlei. A estrutura dos times também melhorou, mas não se compara à do ciclismo europeu, avisa May.
André Grizante, de 28 anos, líder do ranking brasileiro, vê uma evolução muito grande a partir de 2001. "Esquentou em 2003 e 2004, com a formação de equipes com boa infra-estrutura e salário, nem que seja o mínimo, para os atletas."
Para Grizante, a organização da Confederação Brasileira de Ciclismo (Bruno Caloi foi reeleito presidente sexta-feira) também melhorou, com a criação de um circuito competitivo, premiação e provas na TV.
O técnico Cláudio Diegues acha que a Memorial, criada em 99 para fazer frente à Caloi, ajudou a aumentar a competitividade. Também vê um ótimo momento no ciclismo, apesar de ter perdido Nilceu e May.
Copa América sem favoritos
Valéria Zukeran
São Paulo (AE) – Três ciclistas estarão na pista do Autódromo de Interlagos em busca do bicampeonato na prova masculina da Copa América. A disputa começa neste domingo, às 10 horas (TV Globo), duas horas depois da largada da prova feminina. Os brasileiros André Grizante e Renato Rohsler, vencedores em 2001 e 2003, respectivamente, mais o uruguaio Alem Rayes, ganhador de 2004, terão trabalho, já que a prova promete ser bastante equilibrada.
A competição em Interlagos tem características bem específicas: leva vantagem quem mostrar velocidade e tiver ótima chegada. No masculino, os competidores precisam atuar no limite das forças durante praticamente as dez voltas da prova. O mesmo vale para a disputa feminina, em cinco voltas.
Entre as equipes brasileiras favoritas à vitória estão a Memorial-Santos, a Extra/Suzano e a Scott/Fadenp. Mas os times estrangeiros – da Argentina, Uruguai, Portugal e Estados Unidos – também têm chance. Ninguém se arrisca a apostar em um vencedor.
"São José é favorita, mas Suzano tem o André Grizante, que pode definir num sprint, o Morcegão e o Renato Ruiz. A Memorial, o Daniel Rogelin e o argentino Jorge Giacinti. E também tem os estrangeiros", afirma Márcio May, de São José.
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