Após um salto de mais de duas décadas, o Brasil redescobre um esporte que já foi de projeção no País e goza, na Europa, do prestígio de estar entre as disputas mais charmosas e tradicionais de França, Itália e Espanha: o ciclismo de estrada.
São Paulo (AE) – Largam hoje, às 9h30, das ruas da Cidade Universitária, 130 ciclistas de seis países para uma corrida de nove dias e 1.409 quilômetros. Até o próximo domingo, o pelotão da Volta de São Paulo cruzará mais de 70 municípios do Estado em busca de reconhecimento, pontos no ranking internacional do esporte e dos R$ 50 mil em prêmios.
Em sua segunda edição desta nova era, a Volta, que nos anos 1970 era a maior do Brasil, tem o impulso da TV aberta. A Globo, co-organizadora do evento, transmite a largada ao vivo e acompanha os nove dias em flashes.
O giro pelo estado começa e termina na capital. A primeira batalha é um tiro curto: quatro voltas em percurso de 4 km dentro da Cidade Universitária, totalizando 16 km que devem ser percorridos em pouco mais de 20 minutos. O prólogo em trecho urbano é uma das tradições do esporte. Poucas horas depois, às 15h, os atletas se reagrupam na Rodovia Ayrton Senna, em frente à base de Guarulhos da Polícia Militar Rodoviária, para o primeiro trecho de estrada: 88,5 kms até São José dos Campos, com chegada prevista para as 17h.
A partir de amanhã, o pelotão vai de São José dos Campos para Atibaia, depois para São Carlos, Bauru, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Campinas e São Paulo, trafegando por rodovias como Carvalho Pinto, D. Pedro I e Bandeirantes. Só o trecho entre Bauru e Rio Preto não será de competição, com ciclistas e bicicletas sendo transportados de ônibus.
Na quinta-feira, em São José do Rio Preto, acontece o contra o relógio, etapa na qual cada ciclista percorre sozinho um trecho urbano de 24,2 km e o tempo cronometrado conta para a classificação geral. Sem grandes alterações de altitude o ponto mais alto da Volta é São Carlos, a 854m acima do nível do mar, e o mais baixo é Rio Preto, a 489m, a disputa deve ser decidida entre a quinta e a sexta etapa.
Até o início dos anos 80, o País tinha sua Volta do Brasil, saindo de São Paulo e terminando em Brasília. Nos últimos anos, porém, até o retorno da prova paulista no ano passado, as principais voltas eram as de Santa Catarina, a mais importante do calendário nacional, com dez dias, a Volta do Litoral, disputada no Litoral paranaense, e a Volta do Rio, que conta pontos no ranking da UCI. Se estamos longe da dimensão de provas como a Volta da França e a da Itália, o ciclismo de estrada se fortaleceu no Brasil em 2003 e 2004 e promete explodir este ano. O País conta com mais de dez equipes bem estruturadas e razoavelmente equipadas, e com uma centena de ciclistas de bom nível técnico.
Em 2004, a vitória foi de Antônio Nascimento, o Tonho, da equipe Memorial Santos. No duelo por equipes, o título foi para os americanos da Aerospace Engineering/VMG, que voltaram em busca do bi. Contra Tonho, de olho no título, estarão principalmente o experiente Marcio May, representante brasileiro em três olimpíadas, Nilceu dos Santos, campeão da Copa América 2005, André Grizante, líder do ranking brasileiro, Renato Ruiz, campeão nacional, e revelações como Breno Sidoti, 3.º na Volta em 2004.
Pagliarini marca presença
Outro destaque será o paranaense Luciano Pagliarini, profissional que está há quatro anos na Europa e no final de 2004 foi contratado pela Bianchi, uma das equipes de melhor estrutura do mundo. Luciano comanda o time italiano na prova, que trouxe ainda revelações do time sub-23 da equipe.
Assim, o Brasil reaprende a gostar do ciclismo de estrada. E reaprende que o esporte é, ao contrário do que muitos pensam, um jogo de equipes. O americano Lance Armstrong gosta de dizer que só conseguiu seus seis títulos da Volta da França graças ao trabalho dos companheiros da US Postal. Na volta paulista, Ruiz e Grizante competem pela Extra/Caloi, de Suzano, de camiseta azul e branca. May, Breno e Nilceu defendem a Scott/Marcondes Cesar/Fadenp, de São José dos Campos, cujo uniforme é amarelo. Querendo estragar a festa brazuca, além dos italianos e americanos, há os argentinos da Monti, os portugueses da Vulcal e os uruguaios da Santa Lucia. Olho neles.
DataRo tenta desbancar favoritos
A equipe DataRo-Blumenau embarcou sexta-feira para a Volta de São Paulo. Com a presença de muitos destaques do Paraná, em seu grupo, o time é um misto de paranaenses e catarinenses, mas o maior destaque da prova é um mineiro.
Uma das principais apostas da equipe para esta prova está com o jovem Pedro Autran, que fez um trabalho especial ao longo de 2004. Considerado um dos mais completos ciclistas da nova geração, Pedro tem características que mesclam a resistência para as provas longas, um bom trabalho de montanha e sprint. O mineirinho chegou quieto e conquistou a confiança do técnico para ser o capitão do time durante a Volta.
"Cada etapa terá uma característica diferente. Como o Pedrão trabalha bem, vamos fazer de tudo para que ele seja nosso principal homem na Volta",comentou o técnico Antônio Hunger, que teve um problema de última hora com a escalação do time. Daizon José Mendes teve problemas particulares e não pôde viajar. O novo integrante é Cleberson Webber, o Perereca, que se junta à Cássio Paiva, Renato Seabra, Evandro Portela e Marcio Jerosch Pinto.
Para o técnico da DataRo-Blumenau, o importante é se manter entre os primeiros até a etapa de quinta-feira. Hunger acredita que o campeão da volta sairá após a prova de contra-relógio, em São José dos Campos.
Outra preocupação do técnico é com a participação das equipes do Uruguai, Itália, Argentina, Portugal e Estados Unidos. "Não conhecemos a fundo as características de cada atleta para fazer a marcação durante a prova. Isso dificulta um pouco na hora de definir a estratégia. Mas todos estão bem preparados e acredito que poderemos surpreender",concluiu.
A equipe de ciclismo DataRo-Blumenau tem o patrocínio da Jamur Bikes, Aros Vzan, Protek Capacetes, Moofy Ind. Com. do Vestuário, DataRo Computadores e Fundação Municipal de Desportes de Blumenau.