Chinin supera trauma para disputar Mundial de Atletismo

Carlos Chinin precisou despencar da altura de 5 metros para perceber que sua carreira de atleta precisava ser redirecionada. Do choque pelo acidente que sofreu ano passado em Gotzis, na Áustria, enquanto disputava o salto com vara do decatlo, veio a força necessária para que, com um novo técnico e um novo grupo de trabalho, ele conseguisse a vaga no Mundial de Moscou e o recorde sul-americano da prova. “Eu achei que minha carreira iria acabar (por causa do acidente), estava vivo, então precisava fazer alguma coisa diferente.”

Chinin, de 28 anos, é um dos primeiros brasileiros a pisar na pista azul do Estádio Luzhniki, na capital russa. Fará, neste sábado, as cinco provas do decatlo (100 metros, salto em distância, arremesso do peso, salto em altura e 400 metros), a partir das 2h30 (horário de Brasília). No domingo, encara as disputas restantes: 110 metros com barreiras, lançamento do disco, salto com vara, lançamento do dardo e 1.500 metros.

O decatleta surgiu no cenário do atletismo brasileiro em 2007, quando foi bronze no Pan do Rio. De lá para cá, conquistou bons resultados, mas inúmeras desventuras. Classificou-se ao Mundial daquele ano, em Osaka, mas teve de abandonar a competição, lesionado. O mesmo aconteceu na Olimpíada de Pequim, em 2008.

Em seguida, ele conseguiu índice para outro Mundial, o de Berlim, mas se machucou antes e nem viajou. Perdeu a temporada de 2010 por duas cirurgias. Em 2011, machucou-se no Troféu Brasil – perdeu o Pan de Guadalajara. E, quando estava em Gotzis em busca do índice para a Olimpíada de Londres, sofreu o acidente mais assustador de sua vida.

Chinin chegou a ultrapassar o sarrafo mas, na hora da queda, viu que estava fora do colchão. A queda no chão era inevitável. “Foi tudo muito rápido, mas eu consegui virar o corpo, como um gato, para evitar uma lesão na coluna. Quando me virei totalmente, o chão estava próximo. Caí de cara, quebrei o braço direito e desmaiei.” Ele foi retirado da pista de helicóptero e levado para o hospital, onde passou por uma grande bateria de exames. Mas o medo da morte permaneceu. “Fiquei dois dias sem dormir.”

No retorno da Áustria, o decatleta decidiu mudar de técnico. Foi aceito no grupo de Edemar Alves, que orienta apenas atletas das provas combinadas – antes, Chinin treinava com um grupo voltado aos saltos horizontais. “Isso fez toda a diferença, porque passei a treinar especificamente para minha prova. Virei um decatleta de verdade.” Suas principais dificuldades eram com as provas de campo e o salto vertical.

A pior delas, conta Alves, era justamente o salto com vara. “Mas foi nessa prova a que ele mais evoluiu”, explica. “Trabalhamos rápido para que ele não ficasse com traumas do acidente. Começamos treinando com marcas baixas, de forma bem segura e educativa. Isso ajudou no processo e ele melhorou seu resultado, que era de 4,70 m, para 5 metros.”

Com o trabalho de melhora nas provas em que tinha dificuldade, Chinin viu suas marcas evoluírem. Ele tinha sido, em 2011, o segundo brasileiro a quebrar a barreira dos 8 mil pontos. Mas perdeu muito tempo na carreira por causa das lesões. Este ano, graças ao trabalho direcionado e à ausência de lesões, melhorou suas marcas e bateu o recorde sul-americano no Troféu Brasil, com 8.393 pontos.

Para o Mundial, o brasileiro mostra confiança e diz que está em Moscou para superar seu melhor resultado, que o coloca hoje na terceira posição do ranking da temporada. Alves afirma que, para sonhar com medalha, é preciso fazer pelo menos 8.500 pontos. O que conta a favor de Chinin, diz o técnico, é a motivação – afinal, além da boa jornada, é o retorno do decatleta às grandes competições desde a Olimpíada de Pequim. “Um atleta motivado é mais perigoso que um atleta bem preparado”, aposta Edemar Alves.

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