Depois de criar um terremoto no futebol mundial, a China inicia a adoção de uma série de medidas para conter a “invasão” de estrangeiros e regular o mercado de jogadores. Nesta segunda-feira, a Associação de Futebol da China anunciou que, a partir desse ano, apenas três jogadores de fora do país poderão entrar em campo a cada partida.
A medida afeta diretamente apenas os jogadores oriundos de outros países da Confederação Asiática de Futebol, uma vez que, pela regra anterior, permitia-se a escalação de quatro estrangeiros, sendo um asiático. Agora, essa cota regional foi eliminada. Cada clube pode continuar escalando três não-asiáticos por jogo no Campeonato Chinês.
Em cada jogo, um clube continua podendo selecionar cinco estrangeiros para a partida, sendo que dois deles precisariam estar no banco. Isso deve inclusive aumentar a procura dos chineses por atletas sul-americanos e europeus, uma vez que não há mais a exigência que um desses cinco atletas estrangeiros no elenco seja de outro país asiático.
Além disso, as novas leis exigem que cada time escale para um jogo pelo menos um atleta com menos de 23 anos de idade. “Tomamos essas medidas para o melhor desenvolvimento do futebol chinês e melhor treinamento para os jogadores chineses”, explicou a Associação Chinesa, em um comunicado. Na avaliação da entidade, isso vai “elevar o nível da seleção e manter um desenvolvimento saudável, estável e sustentável da liga profissional”.
Outra medida foi a de frear os gastos “irracionais” de clubes que, apenas na última janela de transferências, investiram US$ 300 milhões para comprar astros do futebol. A meta é a de dar mais espaço nos clubes para talentos locais. Mas também frear os gastos de cartolas chineses que, nos últimos meses, passaram a distorcer o mercado internacional com propostas milionárias.
Mas as novas restrições não tem apenas um motivo esportivo. Desde o final do ano passado, o governo chinês vem alertando sobre a fuga de capital do país para o exterior, com investimentos fora. Agora, Pequim quer maiores garantias de que magnatas chineses apostem no país. A saída de recursos ainda estava criando uma pressão sobre a moeda chinesa. Outra suspeita era de que parte desses anúncios faziam parte de esquemas de lavagem de dinheiro.
No futebol, as autoridades estimam que pelo menos US$ 2 bilhões foram gastos por chineses para comprar clubes na Europa. Além disso, contratações como a de Oscar por US$ 63 milhões foi um recorde na Ásia. Já Tevez, com um suposto salário de US$ 20 milhões por ano, seria hoje o jogador mais bem pago por um clube no mundo.
As autoridades ainda alertaram que vão tomar outras medidas e breve contra o “investimento irracional e salários altos para jogadores”. Entre as propostas sob consideração estão a implementação de padrões financeiros sobre clubes e auditorias externas nessas transações.
Se oficialmente a Liga é uma entidade independente, a medida anunciada nesta segunda-feira revela a dimensão do controle do estado chinês no esporte. Ainda que muitos alertem que a medida vem “tarde demais”, ela é um sinal de que as autoridades estão preocupadas.