Orlei Silva / Divulgação
Renato Martins é o atual líder da temporada. Um dos ?sobreviventes? da categoria, o piloto virou chefe de equipe com cinco caminhões.

Acontece hoje, a partir das 14h, no Autódromo Internacional de Curitiba, um dos eventos mais surpreendentes do automobilismo brasileiro.

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É a sétima etapa do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck, competição que mais tem levado público às pistas. Uma mistura de paixão, profissionalismo, competitividade e risco move pilotos e aficcionados há quase vinte anos -cada dia com mais sucesso.

A história da F-Truck começou em 1987, quando o caminhoneiro paulista Aurélio Batista Félix e o jornalista Francisco Santos promoveram em Cascavel a primeira prova de caminhões no Brasil. Eles perceberam que havia um público potencial muito grande para corridas desse porte no país, que é cortado por estradas, e elas são povoadas de caminhões; o brasileiro, depois dos campeões da Fórmula 1, passou a gostar de automobilismo; havia um sem-número de autódromos no interior do país para realizar provas.

Apesar do sucesso, a categoria só começou para valer em 1995. A primeira prova da F-Truck aconteceu em 23 de abril daquele ano, também em Cascavel. Do início ?mambembe? ao sucesso de hoje, sobraram poucos, entre eles o piloto e chefe de equipe Renato Martins. Segundo ele, primeiro campeão e atual líder do campeonato, o segredo está na organização. ?Hoje, a gente vive um ambiente profissional. O Aurélio (Félix, promotor) tem uma estrutura pronta, que ele leva para onde for?, conta.

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Exemplo 1: em abril deste ano, houve corrida em Fortaleza. Como era pouco o espaço para público no autódromo, a organização da categoria resolveu instalar arquibancadas. ?Só no óleo diesel dos caminhões, que levaram o material de São Paulo para o Ceará, foram gastos 300 mil reais?, revela Renato Martins.

Exemplo 2: Cascavel, ?sede? da F-Truck, estava com problemas para sediar a etapa de setembro. O autódromo estava em péssimas condições, com defeitos na pista e falhas de segurança, além das poucas arquibancadas. Em parceria com o empresário, ex-prefeito da cidade e piloto Pedro Muffato (é o vice-líder do campeonato), Aurélio Félix reformou o autódromo.

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?O que se faz é, no mínimo, dar boas condições de segurança às pistas?, comenta Renato Martins, dono da maior equipe da categoria -cinco caminhões, um deles pilotado por Débora Rodrigues (ver matéria). O que contrasta com a impressão de quem vê os anúncios da prova, recheados de acidentes assustadores. ?Foram batidas feias, mas os pilotos e os torcedores não tiveram nenhum problema?, diz Martins.

Uma comparação que Renato Martins gosta de fazer é o gasto ou a economia para os chefes de equipe. ?Todos recebem os pneus, o combustível e não há cobrança de inscrição. Na Stock Car é completamente diferente, tudo custa caro. Se eu tivesse que pagar pneu e combustível, não teria como colocar cinco caminhões na pista?, afirma. ?A organização da Fórmula Truck luta pelo automobilismo?, reitera.

E também pela competitividade. Seis marcas (Ford, Iveco, Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen e Volvo) participam da categoria, e mesmo assim há disputa. ?Em seis corridas deste ano, apenas na última é que alguém repetiu vitória, o que mostra o equilíbrio da categoria nesta temporada?, diz Beto Monteiro, oitavo na classificação. Tal equilíbrio acarreta mais disputas na pista – e mais acidentes.

E para animar ainda mais a festa, os promotores da F-Truck promovem eventos antecedendo às provas. ?A gente consegue lotar todos os autódromos?, diz Renato Martins, que considera a categoria a mais brasileira da atualidade. ?Nós vamos a Fortaleza, Campo Grande, Guaporé, Goiânia, Caruaru, Curitiba. Não ficamos presos a Rio e São Paulo?, finaliza o piloto.

Dois do Paraná buscam o título

Para quem for ao Autódromo Raul Boesel hoje, há sete ?opções? de torcida. Os paranaenses são maioria na Fórmula Truck, e dois deles, Pedro Muffato e o atual campeão Wellington Cirino, disputam com Renato Martins, Vinícius Ramires e Roberval Andrade o título deste ano. Os curitibanos podem apostar em Diumar Bueno, o único da capital a correr na categoria.

Hoje, serão 24 pilotos no grid de largada. Entre eles estarão Pedro Muffato, Wellington Cirino, Leandro Totti, Débora Rodrigues, Fabiano Brito, João Maistro e Diumar Bueno. Como é de praxe na categoria, a maioria dos pilotos é do interior do estado. Curitibano apenas Diumar Bueno, que está confiante para a prova de hoje. ?Esta etapa promete ser a melhor para a gente na temporada?, comenta o piloto.

Dois postulantes ao título precisam de um bom resultado no AIC. Pedro Muffato, uma ?lenda? do automobilismo local, está a seis pontos do líder Renato Martins (88 a 82), que o ultrapassou na tabela após vencer em Cascavel. O atual campeão Wellington Cirino tem 59 pontos, e precisa vencer para chegar nas duas últimas provas (Tarumã e Brasília) com chances de título. ?Precisamos estar entre os três primeiros colocados para voltarmos às primeiras colocações na classificação do campeonato?, resume.

A musa quer esquecer a fama

Valquir Aureliano / O Estado
Débora Rodrigues ao lado do marido (e chefe) Renato Martins.

Sem-terra, musa dos sem-terra, capa de revista masculina, comediante, apresentadora de TV. E piloto da Fórmula Truck. Débora Rodrigues, há oito anos na categoria, não quer mais ser lembrada por sua passagem no MST, ou pelas fotos sensuais. Após longo tempo, e muito preconceito, ela quer ser apenas uma participante da competição.

Débora foi um dos ?furacões?da mídia daquelas coisas que só acontecem no Brasil. Descoberta por jornalistas em um acampamento de sem-terra, ela rapidamente virou a musa da reforma agrária, e dali para as páginas da revista Playboy foi um pulo. A vida dela mudou completamente.

Quando ela percebeu, já era participante fixa de programas do SBT. E com a chance de fazer o que sempre quis. ?Diziam que eu queria aparecer, mas era justamente o que eu não precisava. Apresentava programa, estava no programa do Sérgio Reis e no A Praça É Nossa?, relata Débora. E o desejo de pilotar na F-Truck ficava em segundo plano.

Até que ela decidiu dedicar-se exclusivamente ao automobilismo. ?Quero ser reconhecida como piloto, quero disputar as provas pensando em vencer e ser campeã?, diz Débora, hoje casada com o líder da temporada, Renato Martins – que é também seu chefe de equipe. ?Eu tenho que passar o acerto do meu caminhão para os mecânicos dele, porque se eu sugiro alguma mudança ele se irrita?, brinca.

Apesar da mudança radical -mais uma na vida dela -, Débora Rodrigues não perdeu a vaidade. Ao visitar a redação de O Estado do Paraná, na quinta-feira, ela chamou a atenção com uma saia jeans e sandália de salto alto. Além, é claro, da camisa de piloto. ?As pessoas acham que lá no movimento só tem mulher feia, só eu era bonita. Ninguém quer que uma bóia-fria ande maquiada, não é??, finaliza.