Domingo tem Atletiba pelo Brasileirão. Uma semana depois, o clássico se repete nas urnas de Curitiba. Os presidentes das principais torcidas organizadas de Atlético e Coritiba tentam afastar o estigma de violência e trocar as arquibancadas pela Câmara de Vereadores.
Luiz Fernando Corrêa, o Papagaio, presidente da Império Alviverde, concorre pelo PP, enquanto Júlio Cesar Sobota, o Julião da Caveira, comandante da Fanáticos, é candidato pelo PSC. Os dois líderes de torcida, que não mantêm relação amistosa entre si, também são adversários nas chapas majoritárias. O partido do coxa-branca integra a coligação que apóia o atual prefeito Beto Richa (PSDB), enquanto a legenda do atleticano compõe a base de Gleisi Hoffmann (PT).
Como bons candidatos, ambos preferem desvincular das eleições os grupos que comandam. “Nossa plataforma é pelo esporte. Tanto que na Império ajudamos algumas entidades sem distinção de time A, B ou C”, diz Papagaio. “Sou candidato de Curitiba, não da Fanáticos. Mantemos ações sociais até na região metropolitana, pra que não digam são políticas”, afirma Julião. Apesar do discurso, os dois aparecem com as camisas dos respectivos clubes em seus santinhos.
O maior desafio para seduzir eleitores fora do âmbito das organizadas é mudar a imagem violenta que estes grupos exalam. Nos últimos dois anos, torcedores organizados estiveram envolvidos em briga num Atletiba decisivo no Couto Pereira; no quebra-pau com jogadores do Coritiba no Aeroporto Afonso Pena; no conflito entre torcedores do Coxa e do Figueirense, em Florianópolis, e, no domingo passado, num conflito entre torcedores do Atlético e do Grêmio, nos arredores da Arena.
Não há comprovação de que as ações violentas foram executadas ou planejadas por líderes destes grupos. De qualquer forma, é notória a impopularidade das organizadas entre a sociedade brasileira como um todo.
Julião defende a seleção dos “verdadeiros” torcedores a partir dos comandos de facções que representam a organizada nos bairros. “A idéia é aos poucos separar a galera que freqüenta estádio, que gostam de seu clube, daqueles que aproveitam aglomeração para tocar horror e causar prejuízo”, disse o atleticano.
Como candidato da coalizão pró-Beto Richa, Papagaio não perde a chance e ataca a segurança pública por não coibir a violência nos estádios. “A PM peca por não fazer trabalho preventivo. Falta boa vontade”, critica. Ele garante que faz a parte dele como chefe de torcida, ao informar à polícia o número de torcedores que se deslocam em viagem e horários e locais de possíveis conflitos.
Os dois candidatos dizem que os votos das organizadas são insuficientes para garantir a vaga na Câmara Municipal. “Os Fanáticos sozinhos não vão me eleger. Aliás, se tiver 1.000 votos, 400 serão de coxas. O que importa é cabeça boa e não a camisa”, tenta convencer Julião.