Chefes de Estado utilizam a Copa para se promover

Ricos ou pobres, laicos ou religiosos, ditaduras sangrentas ou democracias, governos de todo o mundo começam a etapa de usar suas seleções e a Copa do Mundo para ganhar popularidade entre os torcedores e cidadãos. Como ocorre a cada quatro anos, o palanque da bola volta a ser usado na esperança de políticos por atrair votos e transmitir suas mensagens e abafar crises internas.

No total, mais de 30 chefes de estado e de governo foram convidados para visitar o Brasil durante a Copa, inclusive de países que sequer conseguiram se classificar para o Mundial.

Na segunda-feira, o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, foi um dos que tentou abafar um pouco de sua imagem desgastada pela crise ao lados dos jogadores portugueses. “A preparação para o Mundial não foi fácil. Mas sobressaíram o talento e a fibra dos jogadores”, disse. “Vocês carregam os sonhos dos portugueses”, declarou, ao lado do ídolo Cristiano Ronaldo.

Na semana passada, foi a vez de o presidente da França, François Hollande, interromper sua agenda e ir até o centro de treinamento onde está a seleção nacional para almoçar com os jogadores e, claro, sair em fotos ao lado das estrelas. “Levo aos jogadores uma mensagem de apoio antes de uma competição que, por muitos franceses, será um momento importante”, declarou Hollande, o presidente com o pior índice de popularidade da França em décadas.

“A seleção deve ser um motivo de unidade e de mobilização”, disse o francês, que acaba de ver um partido xenófobo de extrema direita vencer as eleições. Sobre as chances do time, Hollande mostrou ser esperançoso: “nada é impossível”.

No México, o presidente Enrique Peña Nieto também recebeu a seleção nacional e, apesar de resultados catastróficos de seu time, o chefe de Estado pediu que os jogadores “escrevam um novo capítulo da história do esporte mexicano”. Usando o mesmo discurso de Hollande, Peña Nieto insistiu que o time somente poderia ter sucesso se fosse unido ao Brasil. “O México tem que ganhar a Copa”.

Na Costa Rica, o recém eleito presidente Luis Guillermo Solís jantou na quarta-feira da semana passada com sua seleção. Em Gana, o time africano visitará o presidente John Mahama antes de viajar ao Brasil. Na Itália, o primeiro-ministro Mateu Renzi recebeu o técnico Cesare Prandelli e até comeu uma banana, em apoio ao combate ao racismo.

Em Honduras, o presidente Juan Orlando Hernandez, recebeu seu jogadores e lançou um apelo: “à vitória”. O presidente do Equador, Rafael Correa, também visitou sua seleção, entre gritos de “Si, se puede, si, se puede” (Sim, podemos), numa alusão à conquista do título mundial.

NUCLEAR – Mesmo a seleção do Irã, que teve seu orçamento cortado por conta das sanções que o país sofre, viu o chanceler Mohammad Javad Zarif fazer uma visita ao centro de treinamento, num claro gesto de se mostrar próximo dos jovens e, ao mesmo tempo, indicar que a participação do time no Mundial era um ato de política externa.

“Estou emocionado por estar com nossos garotos”, disse o chanceler e responsável pela negociação de um acordo nuclear com o Ocidente. “Eu os pedi que façam o melhor para garantir a vitória e eles me pediram o mesmo”, em um referência ao fato de que a Copa ocorre justamente no mesmo momento do prazo para o Irã e Estados Unidos chegarem a um acordo sobre o dossiê atômico.

No Brasil, quem já confirmou presença é a chanceler alemã, Angela Merkel, e o vice-presidente americano Joe Biden. Já o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, informou que viajará ao Brasil se sua seleção chegar às quartas de final. Para a final, no Maracanã, a Fifa espera a presença de Vladimir Putin, presidente russo e organizador da próxima Copa.

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