Chef da seleção garante boa comida caseira há 19 anos

Não importa o resultado final dentro de campo, tudo acaba em pizza na seleção brasileira. Ao menos é o que garante Jaime Maciel, o chef de cozinha da equipe dirigida pelo técnico Luiz Felipe Scolari, explicando que os jogadores não ficam sem comer alguns pedaços de pizza após cada jogo da Copa do Mundo. “A pizza é sagrada, eles já chegam procurando. É tradicional. Eles gostam”, explicou. “Não pode faltar, sempre tem”, disse.

O trabalho de alimentar os jogadores da seleção é uma rotina para Jaime de Almeida e começou de modo relativamente informal em 1995. Afinal, foi naquele ano que ele teve o primeiro contato com a equipe em Santana do Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai, onde a equipe se hospedou para a primeira fase da Copa América.

Todos gostaram da alimentação no hotel onde a equipe se hospedou. E, logo depois de chegar para o próximo compromisso na competição, na cidade uruguaia de Rivera, Jaime foi “convocado” para trabalhar com a seleção por Américo Faria, então supervisor da CBF.

Desde então, Jaime trabalha com a seleção, seja com a equipe principal ou nas divisões de base, o que lhe toma alguns meses por ano. Atualmente na sua segunda Copa, a primeira foi a de 2010, na África do Sul, ele lidera uma equipe de 11 pessoas. Ele explica que a alimentação dos jogadores no almoço e jantar é bem semelhante, em sistema de buffet.

No almoço, as opções são arroz, feijão, dois tipos de carne branca (frango e peixe), carne vermelha, legumes, massas e salada. No jantar, só se altera o modo de fazer os alimentos. A diferença no jantar é que os jogadores saboreiam uma sopa. “Eles apreciam uma boa sopa à noite”, comentou.

SOPA ESPECIAL – Acompanhando também as divisões de base da seleção, Jaime revelou que uma sopa em especial conquistou Neymar, a quem está ao lado há algum tempo. “Eu tinha feito uma sopa de abóbora e ele disse: ‘Você lembra que fiquei meio assim, naquela época nunca tinha provado. Gostei demais”, disse, quando o atacante do Barcelona era apenas uma promessa.

Em dia de jogo, claro, a alimentação é mais leve. Em geral, os jogadores se alimentam de purê de batata, arroz, caldo de feijão – o grão de feijão é evitado -, frango e peixe. Tudo definido em conversas com o departamento médico e a nutricionista da seleção. E em partidas disputadas sob intenso calor, os jogadores consomem mais líquido, especialmente água de coco. “Tudo para que o jogador não sinta falta de nada”, disse.

Essas opções têm a sua razão, além de deixar os jogadores bem alimentados. A maioria deles vem do futebol europeu e com saudades do prato mais tradicional e preferido dos brasileiros. “A gente mantém a comida bem brasileira porque é o que eles gostam”, disse.

O cardápio, porém, pode sofrer algumas alterações, de acordo com o desejo dos jogadores. “A gente aceita sugestões”, revelou Jaime, explicando que a culinária local é quase sempre acrescentada, como aconteceu em Fortaleza, onde o Brasil empatou por 0 a 0 com o México na última terça-feira. “Servimos uma tapioca no café da manhã e na sobremesa”, disse.

Assim, Jaime já sabe o que precisará preparar se o Brasil avançar em primeiro lugar no Grupo A da Copa, o que fará a equipe jogar em Belo Horizonte, no Mineirão, pelas oitavas de final. “Vai chegar em Minas Gerais e vão querer frango ensopado com quiabo”, explicou.

DOCE VIGIADO – Jaime garantiu também que não há nenhuma preocupação com o comportamento dos jogadores à mesa nos dias de folga, como esta terça-feira. “Eles já comem com responsabilidade. Não tem problema nenhum”, garantiu. Já na sobremesa, há fruta, gelatina, pudim de leite. Porém, todo cuidado é pouco com os doces, como o próprio chef admite. “O doce é regrado. A nutricionista está sempre de olho”, explicou.

Ele garantiu que ninguém está seguindo uma dieta especial, pois todos se apresentaram em forma, ao contrário de outros Mundiais, como em 2006, quando o excesso de peso de Ronaldo Fenômeno virou tema de discussão nacional. “Nessa não teve problema nenhum. Todos com peso dentro do normal”, comentou.

Agora, ele só espera uma folga em Teresópolis para aproveitar a tradição dos gaúchos e fazer um churrasco. “Na folga, quando eles ficam na concentração, a gente sempre faz um churrasco. Eu que comando. Quando der, a gente faz”, disse Jaime, que também não larga a rotina do chimarrão ao lado de Felipão, Murtosa e Paulo Paixão. “O chimarrão é duas, três vezes ao dia. Largo o trabalho e relaxa um pouco”, explicou o gaúcho de Santiago.

Com tanto tempo de seleção, Jaime não larga o seu restaurante em Gravataí, que toca com a sua esposa, de comida caseira, bem parecida com a que faz na Granja Comary. E ele sabe bem o que o faz seguir há quase 20 anos na seleção. “O que conquistou foi o tempero, o amor e a dedicação do que faço. Mantenho o tempero faz vários anos”, afirmou Jaime, que também trabalhou com o Corinthians e o Atlético Mineiro nos Mundiais de Clubes de 2012 e 2013, respectivamente.

Apesar de acompanhar a seleção em todas as viagens, Jaime raramente vai aos estádios acompanhar as partidas, pois fica na retaguarda, preparando a refeição seguinte. Assim, vê os jogos no hotel. E enquanto prepara a comida dos jogadores, ele alimenta um sonho. “Na final, é Brasil e Holanda, com vitória nossa por 1 a 0. Depois, a gente faz a confraternização”, concluiu o chef de cozinha da seleção.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna