Cesar Cielo está sob pressão. Externa e interna. Do lado de fora, convive com a expectativa do Brasil inteiro em relação ao índice olímpico que ele ainda não tem. A última chance é o Troféu Maria Lenk, no Rio, em abril. Por dentro está a angústia do campeão olímpico, recordista mundial dos 50 e dos 100 metros livre que viveu um dos piores anos de sua carreira ao abandonar o Mundial de Kazan e o Open de Palhoça (SC) em 2015. A saída do herói foi voltar aos Estados Unidos e recorrer ao treinador Scott Goodrich, o mesmo que o levou aos últimos títulos.
Gustavo Magliocca, médico da seleção brasileira de natação, afirma que o lado psicológico e o ombro esquerdo não são problemas. “Ele está bem do ponto de vista clínico e físico. No Brasil, treinou sem restrições. Conversamos sexta-feira e ele está superbem. Está otimista, vivendo um dia após o outro”, disse o especialista.
“Acho que a pressão interna que ele está vivendo é maior do que a externa”, opinou Ricardo de Moura, coordenador técnico de natação da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). “Ele mesmo se cobra. Está tentando resolver a situação”.
Aqui, vale abrir parênteses. Ombro? Cielo sofreu uma lesão no ombro esquerdo causada por duas inflamações (no tendão supraespinhoso e no subescapular) que o tirou do Mundial de Kazan, na Rússia. Esse tipo de lesão é comum em nadadores por causa do movimento que fazem. Isso foi em agosto. Por causa da contusão, abandonou a competição antes de defender o tricampeonato nos 50 metros livre.
Cielo ficou parado dois meses, fez fisioterapia e uma programação especial de treinos a fim de preservar a articulação. Teve cerca de 10 semanas até a primeira seletiva olímpica, essa de Palhoça. Em dezembro. Era um teste para articulação, não necessariamente a busca por desempenho. “O ombro estava 100%, mas o Cielo não estava condicionado”, contou Magliocca.
Luiz Fernandes Barbosa, supervisor técnico do projeto para descoberta de talentos “Novos Cielos”, mantido pelo instituto do nadador, explica que os atletas de ponta podem perder parte do ritmo forte quando são obrigados a diminuir os treinos depois de lesões.
Resultado: o nadador chegou apenas em 11.º lugar nos 100 metros e saiu da piscina decidido a largar tudo no Brasil. Acabou embarcando para os Estados Unidos no dia 12 de janeiro para treinar na Phoenix Swimming Club, no Arizona. Cielo deve disputar algum dos circuitos de natação de lá. “Ele já esteve mais tenso e preocupado, hoje está mais tranquilo. Depois que você toma uma decisão importante, você se sente aliviado”, avaliou Ricardo.
Cielo deixou para trás o treinador Arílson Silva. Em ano olímpico, decidiu fazer a troca, mas sem grandes experimentações. “Fizemos uma avaliação do trabalho e chegamos à conclusão de que faltou competitividade. Ele foi para o Arizona para buscar mais competições”, disse Arílson. “A preocupação dele com o índice é zero. Ele busca ser competitivo para os Jogos”, afirmou o treinador.
VOLTA AO PASSADO – Não foi uma viagem às escondidas. O próprio atleta deu pistas de que estava voltando ao lugar onde se sentia bem. “Foi o lugar em que treinei e obtive sucesso tanto para o Mundial de Barcelona quanto para o de Doha. Voltar a treinar com o técnico com quem eu ganhei o meu terceiro título mundial faz sentido”, escreveu o nadador em seu site oficial.
Sob os cuidados de Goodrich, Cielo conseguiu resultados expressivos nos Mundiais de Barcelona/2013 (tricampeão nos 50 metros livre) e Doha/2014 (piscina curta), quando venceu os 100 metros livre e os revezamentos 4×50 metros medley e 4×100 metros medley. Ao todo, foram cinco medalhas de ouro e duas de bronze.
Essa decisão de ir aos Estados Unidos é pessoal. Atualmente, os brasileiros se dividem. Bruno Fratus, Marcelo Chierighini e Thiago Pereira treinam por lá; Leonardo de Deus e Felipe Lima estão por aqui mesmo.
Moura classifica o momento vivido pelo campeão olímpico dos 50 metros livre em Pequim/2008 como “delicado”, mas apoiou a viagem. Na semana que vem, terá outro contato com Cielo e deverá viajar em março para vê-lo de perto.