Como diriam alguns políticos, a “vanguarda do atraso” venceu a batalha da segunda-feira. Orquestrada pelo presidente do Vasco, Eurico Miranda, a reação à Liga Sul-Minas-Rio teve uma vitória importante, ao conseguir que a CBF revisse (de novo) sua posição e voltasse a ser contrária à Primeira Liga, nome do torneio a ser realizado no ano que vem. A atitude do presidente Marco Polo Del Nero, pressionado pelos cartolas das federações estaduais, fez a Liga romper com a entidade e garantir a realização do campeonato de qualquer jeito. É um racha poucas vezes visto no nosso futebol.
A ação dos “anti-Liga” começou com uma carta do presidente de Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, a Del Nero. Divulgada na sexta-feira, ela apontava pretensas irregularidades da Sul-Minas-Rio, afirmava que os clubes menores seriam prejudicados e pedia que a CBF não desse seu aval à competição, inclusive sugerindo a suspensão dos clubes que participassem do torneio. A ação foi combinada com o mentor de Lopes, Eurico Miranda, que na noite de quinta tinha atirado contra a Liga e o presidente da federação catarinense, Delfim Peixoto, vice da CBF e desafeto de Del Nero.
O cérebro
Eurico é frontalmente contra à Liga – talvez por não ter sido convidado. E ele aproveitou a fragilidade do comandante da CBF, que foi afastado ontem do Comitê Executivo da Fifa (ver abaixo), para forçar a pressão das federações, feita através de Rubens Lopes, acusado por Flamengo e Fluminense de fazer o jogo do Vasco há alguns anos.
O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, não quis dar o assunto como encerrado. “A CBF tem de respeitar estatuto, elementos jurídicos, para incorporar a Sul-Minas-Rio no calendário. Não podemos oficializar sem apoio de uma Assembleia Geral. Só pedimos isso, para nos dar uma semana para superar esses dois impasses”, afirmou, em entrevista ao GloboEsporte.com.
Revolta generalizada na Liga
A Liga Sul-Minas-Rio não deixou barato. O executivo-chefe Alexandre Kalil, bem a seu estilo, partiu para o ataque. “Tiraram o apoio. Esse Rubens Lopes deve ter alguma coisa lá dentro. Não temos mais nada com essa casa do 7×1”, atirou, em entrevista ao UOL. Ele não teme a pressão sobre os clubes. “Não vão ameaçar clubes como Atlético-MG, Internacional, Flamengo”, comentou. “Não precisamos de assembleia. Estamos dentro da lei. Não teve assembleia na Liga do Nordeste. Não pedimos, não queremos e não aceitamos o aval da assembleia”, reiterou.
Delfim Peixoto também foi forte nas declarações. “Vamos fazer sem CBF, não há problema. Se eles querem assim, vai ser assim. Vamos tomar todas as posições que temos de tomar. Roeram a corda, não há nem dúvida que roeram a corda. A CBF veio com o papo de fazer uma reunião com as federações de todos os estados para ver se aprovaria ou não a Primeira Liga. Mas, para a realização da Copa Verde e da Copa do Nordeste não houve reunião alguma”, disse o presidente da Federação Catarinense de Futebol, que já garantiu que o quadro de arbitragem do estado será colocado à disposição da Liga.
Próximo capítulo
Os clubes têm reunião marcada para a sexta-feira, em Belo Horizonte. Inicialmente, seria um encontro para confirmar os grupos, definir a tabela, a ser anunciada na segunda da próxima semana, e encaminhar o acerto com a TV, que já está apalavrado. Agora, pode ser um capítulo decisivo na história do futebol brasileiro.